Toiros à solta e um ganadeiro que é uma ameaça para a população

População, autarcas e agricultores têm medo de sair de casa e queixam-se da destruição de culturas agrícolas provocada por toiros da ganadaria Damas que andam à solta.
Em Vila Nova de São Pedro, Azambuja, a população vive em sobressalto por causa do gado bravo. Os toiros de uma ganadaria local têm fugido da propriedade e destruído culturas agrícolas, para além de colocarem em causa a integridade física dos moradores da zona. O proprietário da ganadaria suspeita que alguém ande a abrir de má fé os portões da cerca possibilitando a evasão dos animais.
Na tarde de terça-feira, 28 de Julho, cinco dezenas de habitantes, incluindo autarcas, reuniram-se junto à antiga sede da junta de freguesia para mostrar o seu descontentamento perante a situação e passividade das autoridades. Não se sabe ao certo, mas estima-se que o número de animais ascenda às duas centenas, todos pertencentes à Ganadaria Damas. Tem-se, no entanto, a certeza de que andam, há vários anos e com maior frequência nos últimos seis meses, a semear o medo entre a população, tendo já motivado um abaixo-assinado a exigir que as autoridades tomem medidas urgentes e que o proprietário invista em vedações mais resistentes.
“Na madrugada de 24 de Julho os toiros andaram à solta novamente e a GNR conhece bem o problema, mas não actua. A população que trata de vinhas e olivais é que tem de sair das suas terras para que nada de mal lhe aconteça. Não podemos andar livremente na nossa terra. É um perigo”, refere a O MIRANTE Catarina Lamas.
Uma situação que Francisco Fialho tem sentido na pele e na terra que semeia. No ano passado, o agricultor, de 83 anos, diz que ficou sem nada para colher. “Os animais destruíram tudo, mas como não havia testemunhas a queixa foi arquivada”, conta. Cenário idêntico foi vivido pelos agricultores Jorge Correia e Francisco Dinis, que viram as suas vinhas, hortas e sistemas de rega destruídos pelo gado. “Chegámos ao ponto de termos de pedir a vizinhos para levarem cães para espantar o gado e assim podermos entrar nas nossas casas”, atira Rui Carvalho.
O presidente da União de Freguesias de Manique do Intendente, Vila Nova de São Pedro e Maçussa, Avelino Correia, fala em plantações “devastadas”, destacando o “perigo constante que [aqueles animais] representam para as pessoas”. O autarca refere ainda que o medo de uma colhida impede a população de usufruir dos percursos pedestres de lazer da localidade. “Não se sabe nunca onde andam os animais, não dão sossego às pessoas”, realça.
Toiro anda à solta há um mês
Contactado por O MIRANTE, o proprietário da ganadaria, Carlos Damas conta outra versão para explicar as fugas constantes do gado: “Alguém vem de noite abrir o portão e os animais fogem. Tenho um toiro desaparecido há um mês no monte”, afirma, suspeitando que se trata de um popular com quem tem “guerras antigas” que abre deliberadamente o portão facilitando a saída do gado.
O ganadeiro ali estabelecido há mais de 30 anos acrescenta que os agricultores lesados podem junto de si, reclamar os prejuízos que resultem dos estragos causados pelos animais. Os agricultores reclamam que até hoje nunca houve, da parte deste, abertura para tal.
O MIRANTE sabe que o Serviço de Protecção da Natureza e Ambiente da GNR, os destacamentos da GNR de Azambuja e Alenquer e a Direcção-Geral de Alimentação e Veterinária têm conhecimento da situação.
Acesso a terrenos vedado
O problema que se arrasta sem solução à vista extravasa o medo e os danos. Proprietários de terrenos contíguos à ganadaria dizem que estão impedidos de aceder às suas terras porque os acessos foram cortados por vedações sem o seu consentimento. “E se as cortarmos para aceder ao que é nosso aventuramo-nos a dar com o gado”, diz Artur Vieira, 84 anos.