Sociedade | 23-10-2020 18:00

Bancos desrespeitaram comerciantes e moradores de Alhandra

Bancos desrespeitaram comerciantes e moradores de Alhandra
ECONOMIA

Dos cinco balcões que existiam apenas um manteve portas abertas e a maioria dos multibancos foram desligados. Quem tem negócios em Alhandra critica a situação.

Consternação, indignação e desânimo são alguns dos sentimentos que O MIRANTE escutou esta semana nas ruas de Alhandra a propósito do encerramento de agências bancárias e caixas multibanco que se tem verificado naquela freguesia do concelho de Vila Franca de Xira.

Das cinco agências existentes há dez anos – Caixa Geral de Depósitos, Montepio, Novo Banco, Millenium e Barclays – apenas resta uma, o Millenium. E de todos os multibancos na vila, que chegaram a ser uma dezena, apenas três estão ainda operacionais. “É uma falta de respeito dos bancos pelos comerciantes e pelas pessoas. Nunca pensei ver chegar o dia em que íamos perder os bancos todos”, lamenta Manuel Piedade.

Dono de uma drogaria no centro da vila, este alentejano de 78 anos não tem multibanco na sua loja. É mais um que depende das caixas da rua. “Os clientes precisavam de levantar dinheiro nas caixas para poderem vir aqui comprar. Assim torna-se mais difícil”, lamenta Manuel Piedade.

Cenário igual na vizinha Casa Picasso, loja de Marília Verdugo. A comerciante lamenta que os bancos levem “a carne e os ossos” quando alguém tenta instalar um terminal multibanco na loja. “As pessoas vão à rua para levantar dinheiro, mas depois as máquinas estão avariadas, desligadas ou sem dinheiro. Acabam por andar às voltas e nesse entretanto já não voltam à loja. Estamos a perder clientes. O que a banca nos fez é muito negativo”, critica.

Marília Verdugo confessa-se pouco optimista em relação ao futuro e diz que o problema do fecho dos bancos é apenas mais um a somar a outros tantos que Alhandra enfrenta. A começar pelo envelhecimento crescente da população. “Há muita gente com dificuldades que tem medo de sair à rua. Cada vez se vê menos gente dentro dos estabelecimentos. Umas não compram por não ter dinheiro e outras não compram por terem medo de sair à rua e ter contacto com outras pessoas”, lamenta.

Ao lado, na loja de electrodomésticos de Eduarda Machado, o sentimento de revolta contra o encerramento dos bancos e caixas automáticas é semelhante, ainda que a empresária defenda que haver cinco agências bancárias também era demasiado. “Há pessoas que se queixam de terem de caminhar até ao Millenium, que fica longe do centro da vila, para levantarem dinheiro e por vezes chegam lá e a máquina não tem. Os multibancos terem saído é um problema grande”, lamenta, ao mesmo tempo que elogia o trabalho dos autarcas, que considera estarem a ser incansáveis para tentar resolver um problema que está fora do seu alcance.

ACIS preocupada com futuro das empresas

A Associação Empresarial ACIS também está apreensiva com a situação e acusa a banca de estar a ter uma atitude desrespeitosa para com os comerciantes de Alhandra. João Range, presidente da associação, diz a O MIRANTE que o encerramento de agências e caixas automáticas penaliza o comércio, as empresas e a população e diz não ver com bons olhos o que se está a passar. Defende uma maior pressão junto do Governo para que as decisões de encerramento destas estruturas possam e devam ser revertidas o mais depressa possível.

“Esperemos sinceramente que isto não vá levar a um maior desaparecimento de comércio e serviços locais. Nenhum comerciante ou empresa gosta de ter a sua actividade prejudicada pela falta de apoios e serviços que são imprescindíveis para os negócios, em especial os multibancos. O que a banca fez foi um desrespeito enorme para quem trabalha em Alhandra, para quem tem negócios e agora se vê desprovido desses serviços essenciais”, critica.

O dirigente diz que na actual situação “toda a gente é contra” a medida, que mais não faz do que dificultar a vida a um tecido económico que já vive com dificuldades. “A mim, directamente, ainda não me reportaram queixas, mas admito que em conversação com os nossos colaboradores possam já ter havido algumas. Quem toma estas medidas não percebe nada de economia local”, conclui.

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