Sociedade | 23-01-2021 15:00

“Há bons compositores em Portugal mas não são valorizados”

“Há bons compositores em Portugal mas não são valorizados”
CULTURA

António Matias é compositor e maestro do Círculo Cultural Scalabitano.

António Matias é arqueólogo na Câmara de Santarém mas é a música que mais o entusiasma. É maestro do coro do Círculo Cultural Scalabitano e vem de uma família de músicos. O avô tocava trombone e o pai tocava trompete e tuba na banda da Sociedade Musical Santanense, aldeia do concelho da Figueira da Foz. Diz que a música lhe corre nas veias desde sempre. E para ilustrar conta histórias da infância.

“Eu e um amigo aprendemos a tocar trompete em três meses e entramos para a banda filarmónica. E até aprendemos a tocar e a marchar, no quintal desse meu amigo, com as galinhas e os patos a olharem para nós”, recorda, sorridente.

A partir daí a música começou a tornar-se mais séria e António Matias frequentou o Conservatório de Música da Figueira da Foz e tentou, sem sucesso, entrar para a banda da Armada da Marinha. Ingressou na Escola da Marinha mas não conseguiu entrar na banda.

Licenciou-se em arqueologia em Coimbra e integrou uma das tunas da universidade. Três meses depois de receber uma proposta para trabalhar na Câmara de Santarém surgiu finalmente o convite para integrar a banda da Armada.

“Foi muito difícil escolher mas já estava fascinado pela arqueologia e o convite para desenvolver um estudo bio-antropológico de esqueletos em Santa Maria de Alcaçova foi irrecusável. Ainda hoje sinto um arrepio quando vejo uma farda da Marinha mas esse é um capítulo encerrado”, confessa.

Desde 2008 é maestro do coro do Círculo Cultural Scalabitano e considera um desafio dirigir pessoas em música. Quanto à composição diz que a inspiração aparece sem hora marcada. Tem ideias a qualquer hora e não precisa de ir anotar de imediato para se lembrar mais tarde. “Tenho muita facilidade em cristalizar as melodias que me surgem”, refere.

Entretanto, começou a interessar-se por direcção e fez vários cursos de direcção de coros, de bandas e de orquestras. António Matias defende que aquele que conduz tem que ter uma grande capacidade para saber lidar com a sua banda ou a sua orquestra. O maestro e compositor, de 45 anos, afirma que existem muito bons compositores em Portugal mas que não são valorizados e lamenta que muitos deles não tenham capacidade de ver as suas obras executadas.

Em 2020 compôs um requiem de homenagem a Bernardo Santareno para assinalar o centenário do seu nascimento. “Não queria fazer apenas um concerto. Quis fazer uma missa para homenagear Bernardo Santareno. São 45 minutos de música e acho que conseguimos fazer um espectáculo muito bonito”. Diz que o requiem foi um sucesso porque a Câmara de Santarém apoiou o projecto e foi possível contratar os melhores músicos de orquestra. Para António Matias compor uma música é como escrever um romance. A diferença é que se coloca uma melodia no texto. “O mais difícil é reproduzir em musicalidade um texto. Quando há um texto com uma tempestade, por exemplo, é um desafio criar essa tempestade para orquestra e coro. Esse é o grande desafio e isso é que dá mais prazer”, confessa.

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