Sociedade | 19-02-2021 15:00

Poluição de suinicultura sem solução há 10 anos motiva queixas em Abrantes

Poluição de suinicultura sem solução há 10 anos motiva queixas em Abrantes
SOCIEDADE
Ana Alves

Descargas poluentes voltam a trazer à luz do dia os problemas de uma exploração de suínos que é um pesadelo para quem explora terrenos contíguos. Ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, é confrontada com um caso que ignorou quando era presidente da Câmara de Abrantes.

Terrenos enlameados com efluentes provenientes de suínos, maus cheiros, plantas mortas e cursos de água com espuma branca levantam suspeitas de que as descargas de uma suinicultura, no lugar do Marco, em Abrantes, continuam a acontecer. As queixas são repetidas desde 2009, ano em que a exploração com cerca de dois mil animais ali se instalou. A última visita das autoridades aconteceu a 11 de Fevereiro após nova descarga ter sido denunciada quatro dias antes.

Ana Alves, proprietária de um terreno próximo da pecuária, tem sido uma das mais prejudicadas com a poluição. Além de já lhe terem morrido dezenas de animais ruminantes devido à contaminação dos solos e cursos de água, tem um projecto para uma quinta pedagógica parado porque “o mais provável é que os animais e tudo o que plantar vá morrer”, lamenta a empresária de Abrantes.

No dia em que O MIRANTE visitou a sua propriedade era visível a espuma branca num dos cursos de água que a atravessa. A lesada recorda que há dois anos, quando o município era liderado por Maria do Céu Antunes, actual ministra da Agricultura, esteve oito meses à espera de uma resposta para depois lhe dizerem que a resolução do problema não era competência da autarquia.

Uma resposta bem diferente da que foi dada pelo actual presidente do município, Manuel Valamatos (PS), que denunciou, a 8 de Fevereiro, à Agência Portuguesa do Ambiente (APA) e ao Serviço de Protecção da Natureza e do Ambiente (SEPNA) da GNR uma descarga ilegal de resíduos dessa suinicultura.

O mais longe que as queixas chegaram foi a um arquivamento de um inquérito-crime movido em 2018 pelo Ministério Público, onde é referido que não foi possível recolher uma amostra líquida para provar as suspeitas de contaminação.

GNR diz que não há ilegalidades

Contactada por O MIRANTE, a GNR diz que assim que soube das queixas foi ao local, tendo percorrido toda a área envolvente por diversas vezes, sem que tivesse detectado qualquer indício de descarga ilegal. A GNR refere que a existência de águas sujas com efluentes de suínos “tem sido causada pela chuva que caiu nos últimos dias” e que a empresa tem licença para espalhar os efluentes nos seus terrenos.

A GNR esclarece ainda que desde 2009 foram registadas duas denúncias relativas à suinicultura, não tendo sido detectada qualquer infracção, existindo também alguns pedidos de colaboração por parte da Direcção Regional de Agricultura.

Queixas chegaram à Assembleia da República

O Bloco de Esquerda, pela voz da deputada Fabíola Cardoso, também já reagiu às queixas de poluição e questionou a ministra da Agricultura, em audição parlamentar, sobre quais as medidas que vão ser tomadas. Criticando a “inoperância das entidades competentes”, a deputada sublinhou que a situação é do conhecimento de Maria do Céu Antunes há vários anos e exigiu a descontaminação de solos e massas de água.

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