Sociedade | 11-03-2021 18:00

“Os cargos de liderança ainda são um clube reservado para homens”

“Os cargos de liderança ainda são um clube reservado para homens”
SOCIEDADE
Manuela Ralha

Manuela Ralha é vereadora na Câmara de Vila Franca de Xira e diz que os cargos de liderança no país ainda são um clube reservado para homens e ainda há muitos passos a dar rumo a uma verdadeira igualdade entre mulheres e homens.

Manuela Ralha é vereadora na Câmara de Vila Franca de Xira e diz que os cargos de liderança no país ainda são um clube reservado para homens e ainda há muitos passos a dar rumo a uma verdadeira igualdade entre mulheres e homens.

Tendo a seu cargo os pelouros da cultura, inclusão e igualdade, a autarca diz ser realista. “Ainda vivemos numa sociedade muito patriarcal, debaixo de um jugo judaico-cristão em que a imagem do homem ainda é considerada uma imagem de liderança e poder ao passo que a imagem da mulher é ser submissa e cuidadora. Isso tem a ver com as mentalidades e as escolhas”, lamenta.

Lembra que há cada vez mais mulheres nas faculdades, em cursos de Gestão e Direito mas que depois, no mundo do trabalho, não chegam aos cargos de chefia ou liderança. “Estamos muito longe de atingir uma igualdade nesses cargos. Ainda estamos num clube de homens. Já cheguei a estar em reuniões em que era a única mulher”, lamenta.

Diz que nunca se sentiu intimidada nessa posição, mas lamenta a atitude proteccionista dos homens face à mulher. “As mulheres ainda não são vistas de igual para igual”, condena. Um dos passos que é preciso dar é reconhecer o mérito das mulheres nos diferentes cargos e permitir uma conciliação entre o trabalho e a vida familiar.

“Com a sociedade construída desta maneira não é possível a mulher ser mãe, cuidadora, profissional e líder. Porque a mulher tem de demonstrar que tem o dobro das capacidades dos homens e tem de fazer o dobro das horas dos homens para o conseguir, o que não é compatível com a maternidade e a vida familiar”, nota.

A autarca defende que o Dia Internacional da Mulher deve ser uma data de consciencialização e debate e não de oferecer flores e bombons. “Não estamos a falar de um dia de festa”, alerta.

Todos os dias entram pela sua porta do gabinete da inclusão e igualdade situações de mulheres vítimas de exclusão, de violência doméstica, de despedimento por estarem grávidas, por terem de cuidar de um familiar com deficiência, ou porque são de etnias diferentes ou têm diferentes orientações sexuais e religiosas. “Luto todos os dias contra estes fenómenos de discriminação, denunciando a violência doméstica, apoiando as vítimas, criando programas de protecção e apoio às vítimas, denunciando empregadores que maltratam e despedem mulheres só porque estão grávidas ou só porque são mulheres”, explica. E acrescenta: “Não podemos pensar que os direitos das mulheres só podem ser falados um dia por ano”.

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