António Gameiro apanhado em novo negócio como consultor
Deputado socialista e advogado foi apanhado em mais um negócio com Carlos Casimiro Matos. Em causa a compra da Quinta Braamcamp, no Barreiro, pelo valor de 5 milhões de euros. Uma associação local já parou o negócio que agora está nos tribunais.
O deputado António Gameiro, ex-líder do PS de Ourém e da distrital do mesmo partido, está novamente envolvido num caso polémico no qual foi consultor do empresário Carlos Casimiro Matos na aquisição da Quinta Braamcamp, no Barreiro, tal como aconteceu com a compra de um terreno em Monte Gordo onde há indícios de corrupção, o que levou à detenção da presidente de Câmara de Vila Real de Santo António, Conceição Cabrita (PSD).
O deputado socialista, que tinha apresentado a sua candidatura à Câmara de Ourém, que retirou cinco dias depois devido ao caso de Monte Gordo, vê-se agora envolvido numa situação com muitas semelhanças: a compra de uma quinta à Câmara do Barreiro na qual voltou a assessorar Carlos Casimiro Matos. Cinco milhões de euros é o valor da compra da propriedade que coincide com os valores da compra do terreno em Monte Gordo.
Desta vez António Gameiro interveio como juris-consultor na compra da Quinta Braamcamp, uma das áreas à beira Tejo mais apetecíveis para qualquer investidor imobiliário. No entanto os terrenos estão situados em zona de Reserva Ecológica Nacional (REN), em domínio hídrico público e em leito de cheias, informação que não consta do concurso associado à hasta pública, segundo a revista Sábado que contou toda a história na edição da passada semana assinada pela jornalista Margarida Davim.
A aquisição da quinta histórica nas margens dos rios Tejo e Coina, por cinco milhões de euros, foi entretanto travada por uma providência cautelar interposta pela Associação Barreiro, Património, Memória e Futuro, que considera estranho o facto de as autoridades competentes não intervirem no negócio e impedirem a sua concretização.
Aquando da aquisição da quinta, pela Câmara do Barreiro, então liderada pela CDU, em 2016, por 2,9 milhões de euros, o fundamento para a compra foi baseado no facto de o imóvel e o terreno ser considerado sensível do ponto de vista ambiental e patrimonial, com um importante ecossistema onde nidificam mais de 70 espécies de pássaros, um moinho de maré e ainda ruínas de uma casa senhorial do início do século XIX. Quatro anos depois, em 2020, a autarquia, sob a liderança do PS, que em plena campanha tinha proposto a criação de uma zona de lazer naqueles terrenos, levou a votação uma proposta para venda da quinta, que passou com o voto de qualidade do presidente.
Foram dois os interessados no concurso: a empresa de Carlos Casimiro Matos, Saint Germain, e a empresa CGC, tendo a primeira sido anunciada como vencedora do concurso, mesmo numa altura em que devido à pandemia estes actos administrativos se encontravam suspensos.
O projecto apresentado pela empresa de Carlos Casimiro Matos, onde está incluída a construção de 125 fogos e uma unidade hoteleira com 178 camas, prevê ainda a requalificação do moinho de maré assim como a criação de um campo de futebol e espaços de lazer. O processo está agora no meio de uma guerra jurídica e envolvido em várias suspeitas com o Tribunal Administrativo e Fiscal de Almada a parar todo o processo.
As suspeitas e as dúvidas levaram o município do Barreiro a contratar um escritório de advogados para acompanhar o caso. Curiosamente, o escritório Lorena de Séves e Associado também trabalha para a Câmara de Ourém tendo facturado nos últimos 10 anos quase meio milhão de euros.
As ligações entre António Gameiro e os intervenientes neste processo parecem não ter fim uma vez que o director de Urbanismo da Câmara do Barreiro, Emanuel Santos, que presidiu ao concurso de aquisição da Quinta Braamcamp, chegou mesmo a saudar, nas redes sociais, o deputado socialista pela sua candidatura à Câmara de Ourém.