Sociedade | 26-05-2021 15:00

Aterro de Azambuja recebeu ilegalmente mais de mil toneladas de resíduos importados 

Aterro de Azambuja recebeu ilegalmente mais de mil toneladas de resíduos importados 
SOCIEDADE
Aterro de Azambuja está em funcionamento desde 2017 em terreno onde anteriormente laborou uma empresa de extracção de areias

A IGAMAOT realizou há um ano uma inspecção ao aterro, mas o relatório nunca veio a público.

No prazo limite para a renovação da licença ambiental, a mesma entidade divulgou a O MIRANTE que a Triaza recebeu ilegalmente 1.100 toneladas de resíduos vindos do estrangeiro. Incumprimento foi comunicado ao Ministério Público.

A Inspeção Geral da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território (IGAMAOT)aplicou à Triaza, empresa gestora do aterro de resíduos industriais de Azambuja, uma contra-ordenação e respectivo processo por ter recebido ilegalmente 1.100 toneladas de resíduos provenientes do estrangeiro. A informação foi divulgada pela IGAMAOT a O MIRANTE a dias do prazo limite (20 de Maio) para a renovação da licença ambiental do polémico aterro, que tem sido muito contestado por população e autarcas.

Os inspectores da IGAMAOT apuraram que a Triaza violou a lei que suspendeu, entre 17 de Maio e 31 de Dezembro de 2020, a entrada de resíduos para deposição em aterro em território nacional ao ter recebido “movimentos correspondentes a cerca de 1.100 toneladas” de lixo transportado por via marítima e depositado naquele aterro.

“Enquanto destinatária de resíduos recebidos em período em que essa recepção estava proibida, a empresa incumpriu com os normativos e com o Regulamento (CE) n.º 1013/2006”, refere a IGAMAOT acrescentando que situação foi comunicada ao Ministério Público para eventual procedimento criminal e à Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) de Lisboa e Vale do Tejo para avaliação em sede de licenciamento.

A inspecção realizada pela IGAMAOT em Maio de 2020 pretendia verificar o cumprimento das obrigações previstas na legislação ambiental aplicável a essa infra-estrutura, assim como verificar o cumprimento do regulamento referente ao Movimento Transfronteiriço de Resíduos. O processo de contra-ordenação ainda se encontra a decorrer motivo pelo qual o relatório da inspecção não pode ser divulgado.

Aterro continua debaixo de fogo

O aterro situado na Quinta da Queijeira, a 300 metros de habitações, tem estado debaixo de fogo nos últimos anos, com a população a exigir o seu encerramento imediato, por considerar tratar-se de um atentado ambiental e representar perigo para a saúde pública. Em causa estão maus cheiros e presença de insectos, roedores e centenas de aves que se alimentam de lixo; deposição ilegal de resíduos contendo amianto; movimentação ilegal de terras; e violação ao Plano Director Municipal de Azambuja, numa área superior a 11 hectares, que continua por provar.

Também a Câmara de Azambuja e junta de freguesia estão contra a continuidade do aterro que labora desde 2017 e recebeu, inclusive, nessa altura declaração de interesse público municipal. O município, liderado pelo socialista Luís de Sousa, pediu em Janeiro de 2020, apoio jurídico a um gabinete de advogados com especialização na área do ambiente e resíduos com o objectivo de levar ao fecho do equipamento. Caso essa solução não seja possível, a alternativa passa por travar a renovação da licença ambiental.

Questionada por O MIRANTE sobre se valida ou não a renovação da licença do aterro, que expira precisamente na data desta edição (20 de Maio de 2021), a CDDR respondeu que o procedimento não estava concluído. Em Janeiro último, numa entrevista a O MIRANTE, a presidente da CCDDR, Teresa Almeida, afirmava que não havia motivos técnicos para fechar o aterro.

Movimento apela à não renovação da licença

Num último esforço para tentar travar a renovação da licença que permite a continuidade e consequente expansão do aterro, o Movimento de Oposição ao Aterro de Azambuja (MOAA) enviou uma carta aberta à presidente da CCDR de Lisboa e Vale do Tejo, Teresa Almeida, a alertar para diversas ilegalidades que dizem estar a ser cometidas.

O MOAA refere que “está provado o depósito ilegal de amianto no aterro da Triaza” e que foram ultrapassadas as quotas máximas de deposição de resíduos na única célula disponível. “Como pode então considerar que têm sido cumpridas as condições de licenciamento?”, questiona o movimento de cidadãos.

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