Sociedade | 10-06-2021 15:00

Tráfico de droga adapta-se à pandemia e recorre ao digital

Tráfico de droga adapta-se à pandemia e recorre ao digital
NACIONAL

O tráfico de droga europeu adaptou-se às restrições de mobilidade impostas pela pandemia, com traficantes e consumidores a recorrem a novos métodos, levando à transição desse mercado para o digital.

O mercado de drogas ilícitas tem resistido às perturbações causadas pela pandemia, adaptando-se aos novos tempos e recorrendo às novas tecnologias.
A conclusão é apresentada pelo Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência (EMCDDA), através do relatório “Drogas 2021: Tendências e Evoluções”, que salienta que os traficantes de droga conseguiram adaptar-se às restrições de viagens e ao encerramento de fronteiras em vários países europeus e introduziram alterações de rotas e de métodos com uma menor dependência de correios humanos para o tráfico.
Embora o tráfico de rua tenha sido perturbado durante os confinamentos iniciais, os vendedores e compradores de drogas aumentaram o uso de serviços de mensagens criptografadas, de aplicativos de redes sociais e de serviços de correio e entrega em domicílio, refere o relatório de 2021 da agência da União Europeia com sede em Lisboa.

O documento alerta ainda que esta situação levanta a preocupação que um possível impacto de longo prazo da pandemia será a habilitação digital dos mercados de droga.

De acordo com o EMCDDA em termos gerais na Europa durante os meses iniciais de pandemia verificou-se um menor interesse dos consumidores por drogas recreativas, como o `ecstasy´, e uma maior apetência por substâncias ligadas ao consumo doméstico.

No entanto, a flexibilização das restrições de mobilidade e de viagens e o regresso de alguns ajuntamentos sociais foram associados a uma recuperação dos níveis de consumo.

Os dados também sugerem que os consumidores ocasionais antes da covid-19 podem ter reduzido ou até mesmo cessado o uso de droga durante a pandemia, mas os consumidores mais regulares podem ter aumentado o seu consumo nesse período.

O relatório indica ainda que o cultivo de canábis e a produção de drogas sintéticas na União Europeia continuaram em níveis pré-pandemia durante 2020, tendo-se observado uma diversificação das rotas de tráfico, com mais canábis e heroína a ser traficada por mar, para evitar o fecho das fronteiras terrestres, o que levou a grandes apreensões em portos da Europa.

Além disso, as autoridades registaram alterações nos locais de partida da cocaína traficada da América Latina para a Europa, mas não se verificou um declínio do abastecimento, apesar das apreensões em território europeu, como as 16 toneladas em Hamburgo, na Alemanha, e as 7,2 toneladas em Antuérpia, na Bélgica.

A tendência para o cultivo doméstico de canábis, parcialmente impulsionada pelas medidas de confinamento, parece ter continuado em 2020, refere também o relatório, que alerta para o aumento de casos de canábis adulterada com canabinoides sintéticos.

O observatório alerta que qualquer cenário em que as pessoas consumam canabinoides sintéticos é preocupante, dada a toxicidade de algumas dessas substâncias, conforme ilustrado por um surto de mais de 20 mortes relacionadas ao canabinoide sintético 4F-MDMB-BICA em 2020.

De acordo com o mesmo organismo, um desenvolvimento preocupante, com base nas observações de especialistas em vários países, entre os quais Portugal, é que consumo e disponibilidade de `crack´ pareceu estar a aumentar durante a pandemia.

Relativamente ao consumo de substâncias ilícitas nas prisões, o relatório refere que foi mais reduzido durante a pandemia e ainda permanece mais baixo do que no período antes da covid-19, o que se pode atribuir à proibição de visitas do exterior aos estabelecimentos prisionais imposta em vários países.

Como conclusão o EMCDDA sugere que será necessário prestar muita atenção aos impactos psicológicos e socioeconómicos da pandemia, bem como às mudanças de longo prazo nos padrões de consumo de drogas ilícitas e comportamentos de risco entre a população em geral.

A mudança para um maior uso de plataformas online exigirá inovação nos métodos de monitorização e pesquisa para captar esta dimensão do digital no tráfico e consumo de droga na Europa.

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