Sociedade | 14-07-2021 15:00

Fome agravou-se em ano pandémico com quase 10% da população mundial subnutrida

Fome agravou-se em ano pandémico com quase 10% da população mundial subnutrida
SOCIEDADE

Em 2020, ano marcado pela pandemia da covid-19, houve um aumento da fome, com quase um décimo da população mundial a sofrer de subnutrição.

Entre 720 milhões e 811 milhões de pessoas no mundo foi vítima do flagelo da fome em 2020, segundo estima o relatório anual "O Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo” (conhecido pela designação SOFI).

O relatório é o primeiro documento a fazer este tipo de avaliação em tempos pandémicos.

Considerando o meio do intervalo projectado (768 milhões), a fome terá atingido mais cerca de 118 milhões de pessoas em 2020, um aumento de 1,5 pontos percentuais, do que em 2019, alerta o documento assinado por cinco agências do sistema da Organização das Nações Unidas (ONU): Organização de Alimentação e Agricultura das Nações Unidas (FAO), Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA), Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), Programa Alimentar Mundial (PAM) e a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Embora as cinco agências admitam que o impacto da pandemia do novo coronavírus ainda não está totalmente traçado, o relatório refere de forma clara que o aumento da fome à escala mundial em 2020 estará muito provavelmente relacionado com as consequências da covid-19.

As organizações recordam que em edições anteriores deste relatório já tinham alertado que a segurança alimentar de milhões de pessoas em todo o mundo, entre as quais muitas crianças, estava em perigo, lembrando igualmente que já em meados da década de 2010 o flagelo da fome começou a dar sinais de crescimento, destruindo as esperanças de um declínio irreversível.

Numa análise mais detalhada dos números, o relatório revela que mais de metade de todas as pessoas subnutridas no mundo vivem na Ásia (418 milhões), mais de um terço (282 milhões) em África e cerca de 60 milhões na região da América Latina e Caraíbas. Mas, segundo alerta o documento, foi no continente africano onde o flagelo da fome registou o aumento mais acentuado em 2020.

Outros indicadores do relatório expõem igualmente o lado sombrio do ano 2020.

Em termos globais, mais de 2,3 mil milhões de pessoas (ou seja, quase uma em cada três pessoas no mundo) não tiveram acesso a uma alimentação adequada durante todo o ano, o que representou um aumento de quase 320 milhões de pessoas face a 2019.

O crescimento registado em 2020 deste indicador - conhecido como prevalência de insegurança alimentar moderada ou grave – foi superior ao total do conjunto dos indicadores dos últimos cinco anos.

A desigualdade de género nesta matéria também se aprofundou no ano passado: para cada 10 homens em situação de insegurança alimentar, existiam 11 mulheres (eram 10,6 em 2019).

Em ano pandémico, a desnutrição persistiu em todas as suas formas, com as crianças a pagarem o preço mais alto, de acordo com os dados do relatório.

Em 2020, estima-se que mais de 149 milhões de crianças com menos de cinco anos não se desenvolveram convenientemente, mais de 45 milhões vivem num estado de fraqueza ou são muito magras para a sua altura e quase 39 milhões têm excesso de peso, enumera o documento.

O SOFI 2021 acrescenta que um total de três mil milhões de adultos e de crianças continuam sem acesso a regimes alimentares saudáveis, em grande parte devido aos custos excessivos que lhes estão associados, e que as situações de excesso de peso e de obesidade em adultos aumentaram tanto nos países ricos como nos Estados mais pobres.

Já quase um terço das mulheres em idade reprodutiva sofre de anemia, refere ainda o documento.

Ao mesmo tempo que alertam que o mundo está diante de uma conjuntura crítica no campo da segurança alimentar e nutricional, as cinco agências da ONU também afirmam que estão a depositar novas esperanças no aumento do ímpeto diplomático em relação a esta matéria, numa referência a três eventos de cariz multilateral agendados para os próximos meses: a Cimeira sobre Sistemas Alimentares, prevista para Setembro, em paralelo com a 76.ª Assembleia-Geral das Nações Unidas; a Cimeira 'Nutrição para o Crescimento', em Dezembro em Tóquio, Japão; e a Conferência sobre as Alterações Climáticas - COP26, em Novembro em Glasgow, Escócia.

O resultado desses eventos, segundo referem os líderes das cinco agências, dará forma à segunda metade da Década de Acção das Nações Unidas sobre Nutrição (2016-2025), um compromisso político global que ainda não atingiu o seu objectivo.

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