Constância tem um Centro Náutico a fingir
O Centro Náutico de Constância foi inaugurado em 2005, depois de aprovado um projecto levado a cabo pela sociedade Parque Almourol, composta pelos municípios de Constância, Vila Nova da Barquinha, Chamusca e NERSANT. A sociedade caiu e o Centro Náutico acabou por nunca cumprir a sua função.
O Centro Náutico de Constância parecia estar condenado ao fracasso mesmo antes de começar a funcionar. Em 2005, aquando da sua inauguração, o açude galgável no Zêzere, que estava previsto ser construído na zona, não avançou. Até hoje continua tudo na mesma e quem explora o espaço vê-se impossibilitado de entrar e sair das águas na margem direita do rio.
O espaço chegou a ser arrendado a uma empresa que se comprometeu a dinamizar o Centro com actividades ligadas ao turismo de natureza. Tal não aconteceu e várias divergências começaram a surgir entre a Câmara de Constância e a empresa. A situação avançou mesmo para tribunal, tendo posteriormente o município tomado posse administrativa do espaço.
Depois de vários anos sem qualquer actividade, em 2017 surgiu a possibilidade de lançarem novo concurso público para a exploração do espaço.
O MIRANTE falou com Gonçalo Neves, proprietário da empresa que ganhou o concurso e que continua a explorar o Centro Náutico de Constância. Há muitos anos que o empresário tinha escolhido a vila Poema para exercer a actividade náutica e outros desportos de aventura organizados pela sua empresa.
Quando percebeu que o Centro Náutico continuava quase ao abandono, servindo apenas de estaleiro para alguns materiais do município, Gonçalo Neves decidiu propor à câmara a exploração do espaço. Foi dessa forma que avançou o concurso público, ganho pela “Aventur”.
O empresário contou a O MIRANTE que foram necessários mais de oito meses para realizar várias obras no local, que se encontrava bastante degradado. Na altura percebeu também que utilizar o Centro como ponto de partida ou chegada para as actividades náuticas seria impossível uma vez que o edifício está construído do lado de fora da curva do rio Zêzere.
“Aqui é quase impossível conseguirmos entrar e sair da água. Na verdade, como Centro Náutico apenas serve para arrumar o material usado nas actividades. Para a realização das mesmas temos de o fazer na margem esquerda. Qualquer garagem do outro lado do rio tem vantagem sobre nós”, conta.
Foi por isso que Gonçalo Neves optou por utilizar o espaço existente, com vários salões, zona de cozinha e cafetaria para promover eventos, algo que conseguiu fazer durante 2018 e 2019. “Chegámos a ter vários almoços de grandes grupos e até casamentos. Os eventos correram bem até chegar a pandemia”, lamenta o empresário.
Fluviário travado pela pandemia
Já em 2019 Gonçalo Neves teve também a ideia de criar um Fluviário, que permitisse dar a conhecer mais sobre a história do rio Zêzere, de quem o habita e de como a população do passado o utilizava.
Aberto desde Março de 2019, o espaço esperava receber várias visitas de estudo, assim como outros tipos de público, tendo o objectivo de chegar no mínimo às 10 mil visitas anuais. O ano de 2020 parecia bem encaminhado, já com várias reservas, situação que não se veio a concretizar devido à pandemia.
Neste momento o Centro Náutico está praticamente sem actividade, apesar de a empresa continuar a promover o espaço para a realização de eventos quer estejam, ou não, ligados à actividade náutica.
O MIRANTE falou também com António Mendes, ex-presidente da Câmara de Constância, que exercia funções na altura em que o projecto de construção do Centro Náutico avançou.
O ex-autarca continua a considerar muito boa a localização do Centro Náutico apesar de confessar que o projecto está muito aquém do que seria esperado. Segundo António Mendes, a culpa deve-se ao insucesso da sociedade criada entre os três municípios e a Nersant.
“A sociedade não cumpriu com o estipulado. Alguém falhou e por culpa disso temos um Centro Náutico que não serve para o que foi projectado. Tal como acontece também com o de Vila Nova da Barquinha”, esclarece António Mendes.
Para o ex-presidente, apesar de já não estar envolvido activamente na política, a culpa é das autarquias que não deveriam baixar os braços perante as dificuldades, para que quem explora o espaço tenha acesso directo ao rio.
“O Centro é pouco dinamizado. A empresa que lá está vai tentando fazer alguma coisa, mas se existe a impossibilidade de entrar e sair do rio naquela margem alguma coisa tem de ser feita. E quem tem de o fazer são os municípios, quer de Constância quer de Vila Nova da Barquinha. Têm de ser dadas condições para que tudo funcione. Por esse motivo rejeito totalmente a inoperância de quem deve meter mãos à obra”, concluiu António Mendes.
À Margem
Oposição e poder em Constância discutem sobre gambozinos
A falta de actividade no Centro Náutico tem sido uma das críticas apontadas pelos munícipes de Constância que afirmam que o espaço deveria ser mais dinamizado. Esse é também um dos objectivos de quem o explora: poder trazer mais pessoas à vila.
E se esta é uma preocupação de alguns, parece não ser partilhada por quem gere os destinos do município de Constância.
O assunto Centro Náutico foi levado a uma reunião de câmara pela CDU. Ainda assim, o que pretendiam discutir era uma questão de placas, pois a vereadora Júlia Amorim considerou uma falta de respeito, por parte da Câmara de Vila Nova da Barquinha, alguém ter colocado uma placa que indicava a entrada no concelho mesmo antes da estrada de acesso ao Centro Náutico.
A verdade é que o Centro se encontra já em território barquinhense, num terreno cedido por aquele município para a construção da infra-estrutura. O presidente de Constância, Sérgio Oliveira, não levou a questão a sério dizendo apenas que é necessário trabalhar em conjunto e não como um território isolado. Pelos vistos, poder e oposição complementam-se a conversarem sobre gambozinos e não falam do essencial.