Sociedade | 20-08-2021 07:00

Baixo caudal do Tejo continua a afectar culturas entre Abrantes e Constância

Barragem de Alcântara [Espanha] está com 44% da sua capacidade e não tem libertado água. Dirigentes associativos pedem medidas urgentes ao governo e criticam falta de diálogo e de interesse pelos problemas que afectam as populações e os seus interesses económicos.

O presidente da Associação de Agricultores de Abrantes, Constância, Sardoal e Mação disse que os fracos caudais do rio Tejo, controlados na barragem de Alcântara, em Espanha, continuam a afectar culturas e a provocar elevadas perdas.

“Nos últimos 15 dias a água tem sido uma desgraça. A barragem de Alcântara [Espanha] está com 44% da sua capacidade e não tem libertado nada. No troço entre Abrantes e Constância os agricultores têm tido graves problemas para regar o milho e têm tido quebras de produção muito elevadas”, disse o presidente da associação, Luís Damas.

O responsável referiu que se trata de “uma área de cerca de 1.200 hectares afectada pela falta de água” com perdas da ordem dos 30 a 40%, sobretudo na produção de milho, embora culturas de trigo e girassol e zonas de olival, amendoal e macieira também tenham sido atingidas.

“Um hectare que tenha capacidade para produzir 15 ou 16 toneladas está a produzir apenas 10”, quantificou Luís Damas, acrescentando que a falta de água traz outros problemas graves, como o facto de as bombas de água ficarem danificadas por puxarem areia e detritos e terem de ser substituídas.

“Tem sido um inferno, não sabemos a quem recorrer mais”, afirmou. O líder da associação acrescentou que o Tejo “está um regato, uma autêntica ribeira”, e sublinhou que o vento e o calor dos últimos dias agravaram a situação, “porque os terrenos têm secado muito e os agricultores não conseguem compensar estas condições”.

Luís Damas reafirmou que o problema está identificado há muito e prende-se com a irregularidade do volume de água libertado a partir da barragem de Alcântara, explorada pela empresa eléctrica espanhola Iberdrola, que, na sua opinião, “gere os caudais economicamente e não olha para a parte ecológica e tudo o que envolve o rio, nomeadamente a necessidade de ter um caudal com estabilidade, não só por causa da rega, mas também por toda a fauna e flora envolvente”.

“Há um protocolo que define um caudal semanal, mas eles retêm a água e, num dia ou dois, libertam tudo. Queríamos um caudal mínimo diário, mas a solução de fundo era fazer uma barragem no rio Ocreza [afluente do Tejo], que seria um reservatório para não estarmos dependentes de Espanha”, reclamou.

Luís Damas acrescentou que a situação já foi comunicada à Agência Portuguesa do Ambiente (APA) e à ministra da Agricultura e que recebeu uma resposta do gabinete de Maria do Céu Antunes dizendo que o Governo está atento e a tentar negociar. “Mas, até agora, nada de concreto”, completou.

Na semana passada movimento proTEJO exigiu que o Governo recuse a distribuição do caudal mínimo semanal para o rio Tejo acordado com as autoridades espanholas, considerando que se está a “atirar água para os olhos dos portugueses”.

“A proTEJO defende caudais ecológicos no rio Tejo e exige que o Ministério do Ambiente não aceite os falsos caudais diários que apenas satisfazem os interesses das hidroelétricas espanholas”, lia-se numa nota do movimento ambientalista com sede em Vila Nova da Barquinha.

Também na semana passada, fonte do Ministério do Ambiente e Ação Climática indicou à Lusa que “Espanha, após conversações com a operadora dos empreendimentos hidroeléctricos do Tejo Internacional naquele país, manifestou o seu empenho em distribuir o caudal mínimo semanal da Convenção [de Albufeira] de forma o mais uniforme possível ao longo dos dias da semana”.

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