Sociedade | 01-09-2021 12:00

Ecos da Vermelha é o primeiro retrato em cinema da resistência anti-fascista em VFX

Ecos da Vermelha é o primeiro retrato em cinema da resistência anti-fascista em VFX
"Ecos da Vermelha" é o nome do filme do cineasta Bruno Teixeira, natural de Vila Franca de Xira, que estreou no Indie Lisboa, no cine-teatro São Jorge

O filme “Ecos da Vermelha”, do cineasta Bruno Teixeira, estreou no domingo, 22 de Agosto, no Indie Lisboa. Cerca de uma centena de vilafranquenses marcaram presença para assistir à longa-metragem que retrata as pessoas e os locais da resistência antifascista em Vila Franca de Xira durante a época do Estado Novo.

Bruno Teixeira, 25 anos, cineasta natural de Vila Franca de Xira, cumpriu o sonho de rodar uma longa-metragem numa das maiores e mais conceituadas salas de cinema do país, a sala Manoel de Oliveira, no cinema São Jorge, em Lisboa. O filme “Ecos da Vermelha” foi apresentado no âmbito do festival de cinema Indie Lisboa e assenta numa recolha exaustiva de depoimentos de pessoas e de informações sobre instituições particulares ou colectivas que funcionaram como elementos da resistência antifascista em Vila Franca de Xira durante a época do Estado Novo.

Cerca de uma centena de pessoas, a maior parte vilafranquenses, nomeadamente os familiares dos protagonistas e alguns autarcas, marcaram presença na sessão, que se realizou no domingo, 23 de Agosto.

O MIRANTE falou com o realizador minutos antes do início da sessão que confessou estar orgulhoso e feliz por trazer para o grande ecrã os rostos da resistência em Vila Franca de Xira. “A história deste filme é pouco conhecida do público e merecia ser revelada. Gostava de a fazer chegar a outras salas de cinema do país e no mundo”, afirma, com convicção.

Bruno Teixeira revelou ainda que desde há seis anos que ambicionava realizar um filme sobre o movimento literário neo-realista e a sua importância na representação dos anseios das classes proletárias durante o regime salazarista. “Quando estava no primeiro ano de cinema li uma notícia sobre as reuniões clandestinas de uma certa elite ligada à cultura na Taberna do Manuel da Barraquinha, actual Flor do Tejo, junto ao cais de Vila Franca de Xira, e decidi investigar mais sobre o assunto. O meu professor José Costa, que também investiga a história local, foi um dos grandes impulsionadores do meu interesse por esta época”, confessa.

Bruno Teixeira afirma que quer continuar a retratar o passado e as histórias de algumas figuras conhecidas dos vilafranquenses. “Estou a construir um guião sobre a ida de alguns emigrantes durante a época do fascismo para França. Há depoimentos e histórias incríveis que quero muito contar”, sublinhou.

VILA FRANCA DE XIRA A “VERMELHA”

O nome “Ecos da Vermelha” remonta para a forma como a PIDE (Polícia Internacional e de Defesa do Estado) chamava à cidade de Vila Franca de Xira devido à sua forte componente revolucionária. Grupos de pessoas, de todos os extractos sociais, reuniam-se clandestinamente para falar sobre política, cultura, desporto, saúde e educação, procurando discutir às escondidas aquilo que o regime de Salazar e Marcelo Caetano proibiram durante quase meio século.

Uma das passagens do filme conta os passeios no barco “Varino Liberdade”, que está atracado no cais de Vila Franca de Xira, onde se juntavam Alves Redol, Álvaro Cunhal, Arquimedes da Silva Santos, Fernando Lopes-Graça, entre outras figuras políticas e literárias ligadas à oposição ao Estado Novo.

A longa-metragem fala também sobre as várias reuniões nas tabernas do “Manuel da Barraquinha” ou na do “Chico Alemão”, assim como das conferências clandestinas realizadas pela Secção Cultural da União Desportiva Vilafranquense ou do Ateneu Artístico. A Igreja do Padre Vasco Moniz e o Secretariado Paroquial, assim como a Escola Comercial e Industrial de Vila Franca de Xira também merecem destaque na luta contra o regime fascista.

O filme de Bruno Teixeira, realizado durante o seu mestrado, para o qual O MIRANTE também contribuiu com imagens do seu arquivo, teve como principais parceiros a Associação Promotora do Museu do Neo-Realismo e a Junta de Freguesia de Vila Franca de Xira.

O filme tem um valor cultural e educativo indiscutível e contou com a participação de algumas figuras da terra, nomeadamente, Eduarda Nobre, António Ceitil, Joaquim Alberto, José Costa, Armando Jorge, António Mota Redol, Vítor Dias, Zeca Capucha, João Prata Roque, Xico Braga, entre outros. Os protagonistas subiram ao palco e foram apresentados pelo cineasta antes da sessão começar. O filme teve a duração de 2h20 e foi visto com muita emoção pela comunidade vilafranquense.

Mais Notícias

    A carregar...
    Logo: Mirante TV
    mais vídeos
    mais fotogalerias

    Edição Semanal

    Edição nº 1686
    16-10-2024
    Capa Vale Tejo
    Edição nº 1686
    16-10-2024
    Capa Lezíria/Médio Tejo