Estudo abre portas a nova geração de medicamentos para combater vírus e parasitas
Investigadores descobriram e testaram “uma molécula com um perfil revolucionário, que abre caminho de um novo antimicrobiano de largo espectro com potencial de aplicação na prevenção e tratamento de múltiplos tipos de infecções virais, endémicas e pandémicas.
Uma equipa interdisciplinar de investigadores descobriu e testou uma molécula que abre caminho para o desenvolvimento de uma nova geração de medicamentos para combater vírus e parasitas, anunciou a Universidade de Coimbra (UC).
Investigadores de várias instituições científicas nacionais descobriram e testaram “uma molécula com um perfil revolucionário, que abre caminho de um novo antimicrobiano de largo espectro com potencial de aplicação na prevenção e tratamento de múltiplos tipos de infecções virais, endémicas e pandémicas, e também doenças parasitárias, como a malária”, afirma a UC numa nota de imprensa.
Designada BSS730A, a molécula, que é “derivada da penicilina, umas das moléculas mais conhecidas do mundo, foi descoberta no âmbito do projecto Spiro4MALAIDS e resulta de vários estudos realizados ao longo dos últimos nove anos pelo Grupo de Química Orgânica da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC)”.
O projecto Spiro4MALAIDS é coordenado pela professora Teresa Pinho e Melo, do Departamento de Química da FCTUC, e tem a participação de investigadores da Universidade de Lisboa, através do Instituto de Medicina Molecular e da Faculdade de Farmácia, e do Instituto Universitário Egas Moniz.
Os diversos ensaios pré-clínicos realizados com diferentes vírus - entre os quais o HIV e várias estirpes do vírus da gripe (um vírus com potencial pandémico) e em parasitas como o que provoca a malária - são muito promissores.
“A molécula apresentou uma actividade notável contra os diferentes vírus e parasitas testados. Em concentrações muito baixas, a eficácia na inibição das infecções atingiu os 99 por cento”, revela Nuno Alves, aluno de doutoramento da FCTUC e membro da equipa.
Os resultados obtidos, sublinha, indicam que a nova molécula “tem um comportamento completamente diferente dos medicamentos que se encontram no mercado. Enquanto os antivirais convencionais atuam sobre a maquinaria do próprio vírus, a molécula BSS730A atua ao nível do hospedeiro, promovendo uma resposta do próprio hospedeiro contra o vírus".
"Um mecanismo deste tipo, para além de ter um perfil farmacoterapêutico inovador, está muito menos sujeito ao desenvolvimento de resistências por parte dos vírus”, ou seja, "verificou-se que a molécula mostrou ser ativa contra estirpes multirresistentes dos mesmos vírus”.
Observando os mecanismos que a molécula utiliza para exercer a sua atividade, os investigadores acreditam que existem boas perspetivas para “inativar outros vírus para além dos estudados”.
É uma molécula que “poderá ter atividade para novas ameaças virais que possam emergir no futuro, representando uma nova geração de medicamentos antivirais e antiparasitários de largo espetro, muito mais eficazes do que os atuais”, afirma, citado pela UC, o investigador do Departamento de Química da FCTUC.