Descoberta “surpreendente” nos concheiros de Muge
Investigadores do Centro de Arqueologia da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e da Universidade de Uppsala descobriram ossadas de um homem originário da África Ocidental que terá vivido entre os séculos XVII e XVIII.
Um estudo de investigadores do Centro de Arqueologia da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e da Universidade de Uppsala (Suécia) revela que as ossadas descobertas num concheiro pré-histórico do Cabeço da Amoreira, em Muge, concelho de Salvaterra de Magos, pertencem a um homem originário da África Ocidental que terá vivido entre os séculos XVII e XVIII.
Em comunicado, a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa refere que “a descoberta deste enterramento de um único indivíduo da Idade Moderna com ascendência africana é surpreendente, uma vez que os complexos funerários mesolíticos de Muge são internacionalmente reconhecidos pelas centenas de enterros de caçadores-recolectores que ali viveram, mas há 8.000 anos”.
Esta descoberta, que vai ser objecto de publicação científica no Journal of Archaeological Science: Reports, demonstra, também, que as comunidades africanas escravas a viver em Portugal nos séculos XVII e XVIII podem ter desenvolvido estratégias para preservar os seus valores e identidade sociocultural. Procurando manter crenças e tradições específicas, estas populações deslocadas para Portugal poderão ter encontrado no concheiro do Cabeço da Amoreira o local ideal para o enterro, uma vez que “concheiros semelhantes aos de Muge são usados até aos dias de hoje na África Ocidental”, diz a investigadora Rita Peyroteo Stjerna, citada no comunicado.