O mega predador Siluro é capaz de fazer desaparecer algumas espécies de peixe do Tejo
Projecto para avaliar impacto sobre os peixes migradores recolhe dados desde 2016.
A Escola Superior Agrária de Santarém (ESAS) e o Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE) conseguiram financiamento da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) para avaliar o impacto da predação do siluro sobre os peixes do rio Tejo, entre os quais a lampreia-marinha e o sável. O projecto Megapredator quer avaliar o impacto da predação do siluro sobre os peixes migradores concretamente na época da lampreia e do sável de forma a quantificar o efeito directo sobre estas espécies.
Actualmente está a decorrer um inquérito para avaliar a percepção dos pescadores, quer lúdico-desportivos quer profissionais sobre esta espécie, de forma a delinear-se um plano de comunicação que possa envolver os pescadores no controlo populacional de siluro no baixo Tejo.
O siluro, ou peixe-gato-europeu, com nome científico de Silurus glanis chegou ao rio Tejo a partir de populações introduzidas em Espanha. A espécie é originária da Europa Central e Oriental e foi introduzida ilegalmente em toda a Península Ibérica por causa da pesca desportiva.
“É considerado um troféu de pesca, pois é dos maiores peixes de água doce do mundo e pode atingir 2,8 metros de comprimento e 120 Kg de peso”, refere Filipe Ribeiro, investigador do MARE da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. O siluro para sobreviver tem de consumir diariamente pelo menos 2% do seu peso em presas (peixes, lagostins, camarões ou mesmo aves). Ou seja, um siluro com 50Kg terá que se alimentar de pelo menos 1Kg de presas por dia, o que ao final de 1 ano poderá ascender a 300 Kg no total.
Um estudo recente realizado no rio Tejo, na zona das Caneiras e Valada do Ribatejo, confirmou que sáveis, enguias-europeias, lampreias-marinhas, barbos e fataças fazem parte da dieta deste super predador.
“Ora estas espécies têm um elevado valor na cultura do Ribatejo, quer através da gastronomia, mas também para as dezenas de pescadores profissionais que vivem da pesca no Tejo e que fazem parte da tradicional comunidade avieira”, menciona o professor João Gago da ESAS. O rio Tejo tem, pelo menos, duas espécies de peixes endémicas, isto é, em todo o mundo só existem no rio Tejo e em mais lado nenhum, que são a boga-de-boca-arqueada-de-Lisboa e a lampreia-do-Nabão. O siluro será mais um factor de pressão sobre estas espécies únicas podendo levar inclusivamente ao seu desaparecimento.