ABC Alcanena ajuda crianças a estudar mas os pais têm de entender que também é preciso brincar
Associação nasceu em 1998 da necessidade que as famílias do concelho tinham de um espaço para os filhos serem acompanhados nos estudos e terem actividades lúdicas enquanto os pais estão a trabalhar. A ABC Alcanena tem também um centro comunitário, uma creche e um serviço de intervenção precoce para crianças até aos 6 anos com dificuldades de desenvolvimento.
Meia dúzia de crianças disputam a bola num campo improvisado com duas camisolas a servirem de postes das balizas. É hora de descontrair dos estudos no Centro de Actividades de Tempos Livres, da Associação de Desenvolvimento Sócio Educativo ABC Alcanena que recebe diariamente cerca de 80 crianças do primeiro ao terceiro ciclo. Também não pode ser só estudar, as crianças têm que brincar”, remata a coordenadora, Isabel Cardoso, com um olho no que os jogadores estão a fazer. Nas instalações há várias salas de estudo, onde se fazem trabalhos de casa e se aprofundam matérias de Matemática, História ou Ciências Naturais, entre outras, tirando dúvidas com a professora.
A ABC Alcanena nasceu em 1998 pela necessidade de ajudar as crianças enquanto os pais, maioritariamente operários nas fábricas de curtumes do concelho, estão a trabalhar. Ana Fatério, psicóloga e directora técnica, explica que os alunos do primeiro ciclo só ficam nas salas enquanto fazem os trabalhos de casa e depois têm liberdade para brincar. “É fundamental nestas idades não sobrecarregar as crianças”. Os alunos do segundo e terceiro ciclos ficam mais tempo a estudar desde línguas às ciências com professores preparados.
O bicho-de-sete-cabeças continua a ser a Matemática, tanto para alunos como para os pais. “O programa mudou muito e para os pais é muito difícil acompanhar os filhos porque os métodos são completamente diferentes dos que aprenderam”, vinca Anabela Nascimento, secretária da direcção e professora em Constância. A docente diz que é necessária uma remodelação nos programas curriculares, que continuam a ser demasiado extensos para o pouco tempo de aulas e pouco estimulante para os alunos.
A associação mantém um contacto próximo com os pais, para perceber quais as dificuldades que enfrentam. Mas Anabela Nascimento confessa que há pais que se intrometem demasiado. “É bom que os pais conversem connosco, mas deve haver alguma moderação”, e ilustra com o exemplo de se ter mudado as actividades da sexta-feira, dia dedicado a actividades lúdicas, para mais um dia de acompanhamento ao estudo por imposição dos pais.
A professora diz que acontece o mesmo nas escolas lamentando que o papel do professor acaba por perder alguma importância porque passa a ter só uma função de instrutor e não deve ser só isso. “Há uma necessidade de conseguir motivar as crianças para aprender e, muitas vezes, isso só se consegue com uma mistura de estudo e actividades lúdicas”, vinca. “Às vezes basta ensinar a organizar o estudo, que é algo que muitos miúdos não sabem como fazer”, realça Ana Fatério. Diana Gonçalves, de 15 anos, frequenta o 9º ano e reconhece que a organização dos estudos a está a ajudar a subir as notas porque já não estuda só nas vésperas dos testes.
Associação desenvolve intervenção precoce
A associação desenvolve também um sistema de intervenção precoce para crianças até aos 6 anos que enfrentam dificuldades no desenvolvimento através da intervenção de uma equipa multidisciplinar, explica Andreia Garcia, terapeuta da fala. O Centro Comunitário é outra das valências da associação que desenvolve actividades para toda a população de Alcanena, desde ateliês, eventos culturais ou acções de sensibilização sobre vários temas. Durante as férias de Verão o foco das actividades passam a ser mais lúdicas, com passeios no Alviela nas Serras de Aire e Candeeiros.
A ABC Alcanena tem estatuto de Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS) e Lurdes Quaresma, assessora da direcção, explica que desde a pandemia a associação tem passado por algumas dificuldades. A câmara disponibiliza as instalações e assegura as despesas com gás, água e electricidade, mas os ordenados dos funcionários e dos professores são por conta da associação. Com o aumento dos custos e a não actualização das tabelas da Segurança Social, por onde se regem as mensalidades dos alunos, a associação tem visto o seu saldo ficar cada vez mais negativo. Grandes deslocações, nos tempos de férias, são agora ponderadas ao cêntimo.