Aos 18 anos começou a praticar atletismo e a participar em campeonatos nacionais e internacionais tendo conquistado vários troféus. Como não gosta de estar parado ocupa o tempo a ajudar num estabelecimento em Almeirim. Uma vida preenchida onde a Síndrome de Down não o limita em nada. Uma conversa para assinalar o Dia Internacional da Síndrome de Down.

De garrafa de vinho tinto na mão Bruno Leitão despeja o líquido no copo de um cliente da Bica Aberta, em Almeirim, depois de ter servido um vinho branco ao companheiro de mesa. Ambos são clientes habituais e conhecem bem Bruno que se entretém pelo espaço de petiscos há cerca de três anos quando abriu o estabelecimento. Bruno Leitão tem 42 anos e afirma a O MIRANTE que ter Síndrome de Down é uma condição que não o impede de fazer uma vida o mais normal possível.
Sempre com um sorriso no rosto, sabe o que tem que fazer. Na mesa do canto coloca os guardanapos e talheres aos clientes que acabaram de chegar. Serve-lhes o vinho enquanto o gerente, Rui Figueiredo, trata dos queijos. Bruno Leitão faz parte da Confraria Gastronómica de Almeirim e aproveitou a oportunidade que lhe foi dada para ocupar o tempo e sentir-se útil porque não sabe estar parado. Vive em Almeirim com os pais.
Durante o dia vai para a APPACDM (Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão com Deficiência Mental) do Vale de Santarém. Ao final da tarde, pelas 19h30, já tem o avental preto colocado para ajudar a servir às mesas. Está no estabelecimento até querer ir para casa, mas normalmente só vai depois de jantar. Aos fins-de-semana aproveita para participar nas várias competições de atletismo onde tem arrecadado prémios ao longo dos anos.
O mais recente foi a conquista do recorde europeu do lançamento de Dardo numa competição para atletas com Síndrome de Down que decorreu em Itália no final do ano passado. Costuma treinar à sexta-feira no Cartaxo. Pratica marcha, lançamento do peso, lançamento do disco e lançamento do dardo. No próximo fim-de-semana vai até Ovar (distrito de Aveiro) participar em mais uma competição. “Ter Síndrome de Down é apenas uma condição genética com a qual nasci. Não me tem impedido de fazer nada. Sou feliz e tenho a sorte de as pessoas gostarem de mim. Sempre quis ser confrade e o Rui deu-me a oportunidade de estar ocupado. Estou-lhe muito grato”, confessa a O MIRANTE.
O empresário Rui Figueiredo, Grão Confrade da Confraria Gastronómica de Almeirim, conta que Bruno Leitão está integrado no Bica Aberta e que os clientes o conhecem e têm um carinho especial por ele, como O MIRANTE pôde constatar. “Ele sabe o que tem que fazer, como se faz e é muito desenrascado. Dá uma ajuda importante e sente-se integrado no nosso espaço”, explica Rui Figueiredo.

A paixão pelo desporto
Bruno Leitão nasceu há 42 anos, em Almeirim, e trouxe com ele uma deficiência genética: Síndrome de Down ou Trissomia 21. Um problema que o diminui no desenvolvimento mental, mas que não o inibe de fazer o que gosta, nem o entusiasmo e alegria que tem pela vida. Esse entusiasmo e dedicação levou-o a superar-se e a conseguir a convocação para representar Portugal nos Campeonatos do Mundo de Atletismo para Atletas com Síndrome de Down, pela primeira vez em 2010.
Os pais de Bruno Leitão souberam logo à nascença que o filho era portador do Síndrome de Down mas não deixaram de dar graças a Deus por lhe trazer aquele rebento ao mundo. Tudo têm feito para que Bruno seja feliz. E pelos vistos estão a ter a felicidade de ver o filho a atingir patamares de vida que nunca pensaram ser possível.
Bruno Leitão fez a escola em Almeirim, mas a sua capacidade de aprendizagem era muito reduzida. Aos 18 anos entrou para a APPACDM do Vale de Santarém. Aí foi desenvolvendo algumas capacidades. Quando se fala de atletismo os olhos de Bruno Leitão brilham com outra intensidade. Começou a praticar atletismo com 18 anos após a entrada na APPACDM. Tem competido na marcha atlética, onde obteve boas classificações. No desenrolar da conversa constatamos que estamos a falar com um jovem que apenas é diferente na aparência. Mas Bruno Leitão não se esconde atrás da sua deficiência, é um jovem capaz de lutar por aquilo que quer.