Sociedade | 28-03-2022 10:00

Nuno Lobeiro emigrou para a Arábia Saudita a pensar nos dois filhos de 2 e 4 anos

Nuno Lobeiro diz que a barreira linguística foi uma das dificuldades com que se deparou – FOTO DR

Enfermeiro foi trabalhar para Riade em 2020 com o objectivo de garantir mais estabilidade financeira para a família. As diferenças entre a capital saudita e a pacatez de Alpiarça são abismais mas o jovem foi-se adaptando à mudança.

Nuno Lobeiro tem 32 anos, é enfermeiro e em 2020 decidiu embarcar numa das maiores aventuras da sua vida: emigrar para a Arábia Saudita. Vive em Riade, capital saudita, e trabalha num dos hospitais públicos da cidade, que diz não ser o maior, mas “cabem lá dois hospitais de Santa Maria”.
A emigração nunca tinha sido uma hipótese por ser muito ligado à família e à terra que o viu nascer e crescer, Alpiarça. “Assumo-me como uma pessoa do campo com raízes bem vincadas na lezíria ribatejana”, sublinha, não escondendo as saudades que sente. A procura de melhores condições para a família levou-o a considerar outros voos. Conta que tinha uma vida estável em Portugal, mas com muitas horas de trabalho. Trabalhava em part-time no Centro Hospitalar do Médio Tejo e em várias clínicas e lares e em eventos desportivos. “Tinha semanas de trabalhar seis dias, três dos quais das 06h30 às 23h30”, vinca o enfermeiro.
A ida para o Médio Oriente surgiu como uma “epifania” após ler um artigo sobre o recrutamento de enfermeiros para a Arábia Saudita. Passou por todo o processo de recrutamento, mas sem grande fé de ser um dos cem escolhidos e só percebeu que tinha uma chance real quando foi chamado para a entrevista final. Teve duas propostas, uma para trabalhar em Riade e outra para trabalhar em Jeddah, na orla costeira do país. Escolheu a primeira por trazer melhores contrapartidas financeiras.
O aperto no peito ao despedir-se da família foi dos piores sentimentos que já teve. Nuno Lobeiro é pai de uma menina com quatro anos e de um menino com 17 meses que quando partiu tinha nascido há duas semanas. Mas nem isso o demoveu, pois sabia que ia em busca de garantir um futuro melhor para os filhos.

O país pára cinco vezes por dia para rezar
“Percebi que estava muito longe da lezíria ribatejana logo que saí do avião”, diz Nuno Lobeiro para descrever o choque de realidades que sentiu à chegada a Riade. À saída do aeroporto deparou-se logo com mulheres de burka, sempre acompanhadas por homens ladeados de criados, que, segundo o enfermeiro, iam arrumando sacos das mais conceituadas marcas nas bagageiras de carros de luxo.
Mas para o enfermeiro o verdadeiro choque cultural deu-se quando percebeu que o país pára, literalmente, nos cinco momentos de oração diários: às 4h55, às 12h05, às 15h27, às 17h58 e às 19h28.
Para avisar os muçulmanos que está no momento da oração as sirenes das mesquitas tocam, para surpresa de Nuno Lobeiro, que na primeira noite acordou sobressaltado “a pensar que havia fogo na barragem dos Patudos”, afirma em tom de brincadeira. Também a nível laboral encontrou muitas diferenças e conta que os salários são ajustados conforme os passaportes havendo níveis diferentes para países diferentes. As regras de trânsito aplicam-se de forma diferente na Arábia Saudita. “Aqui impera a lei do maior passa primeiro. São uns loucos ao volante”, vinca Nuno Lobeiro.
A barreira linguística foi uma das maiores dificuldades que encontrou. Fluente em inglês e com a ideia de ser uma língua quase universal, rapidamente percebeu que a maioria dos habitantes não sabe uma frase. O curso de árabe que iria frequentar foi adiado devido à pandemia, sem data para ser retomado. “Dei por mim a responder a todas as perguntas com o que mais se ouve: Insha`allah, (se Deus quiser), dagiga: (espera um pouco) e ‘ana mafi malum’ (eu não sei), que é uma espécie de calão árabe”, conta.
Os actos de discriminação, especialmente com as mulheres ou com as castas mais baixas da sociedade, incomodam o enfermeiro ribatejano, habituado aos costumes ocidentais como a igualdade de géneros e de contextos sociais, embora ache que a sociedade saudita está a evoluir nesse aspecto e estão cada vez menos agarrados aos antigos costumes.

“Agredir um profissional de saúde aqui dá direito a pena de prisão efectiva”
Nuno Lobeiro conta também que a cidade é extremamente segura, com um índice de criminalidade muito baixo, muito por culpa da mão pesada da justiça. “Não é como em Portugal, que é quase a república das bananas. Por exemplo, agredir um profissional de saúde aqui dá direito a pena de prisão efectiva”, vinca. Apesar de alguns ataques com mísseis balísticos, por parte de rebeldes e grupos terroristas, Nuno Lobeiro conta que o exército saudita está muito atento às movimentações e previne a grande maioria dos ataques planeados.
A família, uma bifana em caralhota e um prato de bacalhau à lagareiro são do que sente mais falta gastronomicamente falando. Tinha planeado vir a Portugal a cada três meses, mas a pandemia traiu-o e acabou por vir duas vezes. As saudades da família vão sendo mitigadas através de videochamadas, mas da gastronomia nem tanto. Por terras árabes confessa que os pratos preferidos são o shawarma, mais conhecido como kebab, e o falafel. Pratos confeccionados com carne de camelo, comuns no Médio Oriente, também fazem parte das iguarias que aprecia.

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