Maus cheiros da Greif continuam a incomodar moradores
População não aguenta mais o cheiro acre que emana em alguns dias da fábrica da Greif, na Póvoa de Santa Iria. No dia em que O MIRANTE esteve na cidade o cheiro era intenso. Moradores estão a preparar abaixo-assinado. Câmara quer intervenção das autoridades do ambiente.
Os moradores da Póvoa de Santa Iria que residem junto às instalações da fábrica da Greif vão avançar com um abaixo-assinado visando obrigar as entidades competentes a fiscalizar a actuação da empresa e forçar a mesma a reduzir os fortes cheiros desagradáveis que se têm sentido no ar nas últimas semanas.
O problema dos maus cheiros da fábrica, como O MIRANTE tem noticiado, não é novo e quem reside no local fala em ciclos: períodos em que tudo está bem e outros em que o cheiro é praticamente insuportável, como no dia em que o nosso jornal esteve na cidade. A única forma de conseguir aguentar é manter as janelas de casa fechadas e a máscara no rosto sempre que se sai à rua, conta António Ramos, que vive na zona há 40 anos e já não aguenta o que se está a passar. “É um cheiro tóxico que até faz chorar. Não se suporta, não se consegue viver aqui. Alguma coisa tem de ser feita. Vamos dar à empresa até ao final do mês para ver se ela resolve de vez este problema e depois avançamos para o abaixo-assinado. Muita gente quer assinar”, conta.
Nos cafés e lojas perto da fábrica as queixas são semelhantes. A esplanada do café de Florêncio Silva tem estado vazia nos últimos dias. “Ninguém consegue parar na rua com esta porcaria”, critica, ao mesmo tempo que considera que a situação melhora temporariamente “quando se faz muito barulho” e que depois volta a piorar outra vez.
Os vereadores David Pato Ferreira, da Coligação Nova Geração, e Barreira Soares, do Chega, também têm sido porta-vozes do descontentamento da comunidade, exigindo ao município que tome medidas para forçar a empresa a cessar os maus cheiros. Já em Setembro de 2021 a Câmara de Vila Franca de Xira havia comunicado a situação à Inspecção-Geral da Agricultura, Mar, Ambiente e Ordenamento do Território (IGAMAOT), também na sequência de vários relatos de incómodos causados pelos maus cheiros, do qual não se conhecem ainda as conclusões.
“Estamos a acompanhar este assunto e há 15 dias voltámos a ter queixas por isso vamos avançar novamente”, garante Fernando Paulo Ferreira, presidente do município. Numa reunião recente com o Ministério do Ambiente o autarca garantiu que a Greif foi um dos assuntos em cima da mesa. O autarca diz que logo após a tomada de posse do novo Governo “é muito provável” que a fiscalização ambiental vá apertar o cerco à empresa.
Empresa altera turnos
para minorar impactos
Contactada por O MIRANTE a empresa assegura que as preocupações ambientais têm sido uma constante e lembra a instalação, há sete anos, de um equipamento que propicia um sistema de oxidação térmica e incineração para reduzir a emissão de odores em larga escala, chamado RTO. O ano passado a empresa dizia a O MIRANTE que ia instalar em 2022 um segundo equipamento do género mas questionada sobre o ponto de situação diz apenas que o assunto ainda está em análise.
“No momento, embora a questão dos odores continue a ser residual, estamos a levar a cabo testes com tintas e vernizes à base de água. Concluídos os testes e passando a produção a ser feita com essas tintas a redução de emissão de odores será significativa”, promete a empresa. Acrescenta que o actual RTO vai sofrer uma intervenção para substituição de cerâmicas no interior do equipamento, para optimizar a queima de solventes e redução dos maus cheiros. No imediato, promete a empresa, vai ser feita uma alteração aos horários de laboração por turnos, por forma a potenciar a rentabilidade do equipamento “e a consequente melhoria na produção de odores”.