Sociedade | 03-04-2022 12:00

Descobrir o cancro da mama num exame de rotina

Julita Silvestre recorda que quando soube do diagnóstico foi como se o mundo desabasse aos seus pés

Julita Silvestre ultrapassou um tumor aos 50 anos e tornou-se voluntária.

O Grupo de Apoio de Abrantes da Liga Portuguesa Contra o Cancro conta com cerca de duas dezenas de voluntários. Na tarde de sexta-feira, 25 de Março, organizou, em parceria com o CLDS 4G, uma palestra, intitulada “Conversar sobre cancro na família”, onde foi explicada a importância de partilhar com os mais novos que os pais, ou algum membro da família, está a travar uma batalha contra a doença. A voluntária Julita Silvestre partilhou a sua história com O MIRANTE. No final houve uma caminhada pelo centro histórico da cidade.

Julita Silvestre tinha 50 anos quando lhe foi detectado cancro de mama em exames de rotina. Divorciada e com duas filhas, na altura com 10 e 15 anos, recebeu aquela informação como “uma bomba”. A professora de Sociologia, de Abrantes, que se reformou há cerca de três semanas, nunca imaginou ser-lhe diagnosticado cancro, muito menos de mama. “Nunca fumei e sempre fiz por ter uma alimentação saudável. Amamentei as minhas filhas e sempre ouvi dizer que prevenia o cancro da mama. Quando me deram o diagnóstico foi como se me tivesse fugido o chão dos pés”, recorda a O MIRANTE.
Chorou nesse dia mas durante a noite recordou-se do episódio mais marcante da sua vida quando, aos 32 anos, sonhava ser mãe. Um sonho que acalentou durante muitos anos. Quando concretizou esse desejo, o bebé nasceu com malformações cardíacas e pulmonares tendo falecido com três meses de vida. “Pensei que se tinha conseguido ultrapassar aquela dor tão grande, da perda do meu filho, não era um cancro que me iria derrubar. Foi a isso que me agarrei”, afirma.
Julita Silvestre foi uma das presentes na palestra “Conversar sobre cancro na família”, que decorreu na tarde de sexta-feira, 25 de Março, no edifício Pirâmide, em Abrantes. A iniciativa foi organizada pelo Grupo de Apoio de Abrantes da Liga Portuguesa Contra o Cancro em parceria com o CLDS (Contratos Locais de Desenvolvimento Social) 4G.
Quando soube que tinha cancro, Julita Silvestre optou por não contar logo às filhas o que se estava a passar. “A minha filha estava a fazer os exames nacionais do 9º ano e não as quis preocupar. Disse que ia fazer uma pequena cirurgia mas nada de especial. Só em Setembro, quando as aulas estavam para começar, é que lhes contei porque poderiam saber na escola. Foi um choque para elas mas disse-lhes sempre que ia correr tudo bem”, conta a antiga professora a O MIRANTE.
Actualmente com 65 anos, Julita Silvestre afirma que ter pensamento positivo e acreditar que se vai vencer a doença é meio caminho andado para o sucesso. Por isso, depois de ter ultrapassado esta situação de saúde tornou-se voluntária no Grupo de Apoio de Abrantes da LPCC para ajudar pessoas que se debatem com a doença. Faz exames regulares e alerta para a importância de se fazerem exames com regularidade. “Fui apanhada no meio desses exames de rotina. Foi a minha sorte. O cancro foi detectado numa fase inicial e por isso correu tudo bem. Não podemos deixar arrastar as coisas. Temos que ir ao médico com regularidade”, realça.

A importância de partilhar a doença dos pais aos filhos

Cláudia Almeida, psicóloga clínica da LPCC, explicou a importância de se apoiar os familiares de doentes oncológicos que também sofrem com a doença. A psicóloga, pós-graduada em cuidados paliativos, recorda a paciente que passou por um cancro e que o marido levou “com os estilhaços” da doença da esposa.
A psicóloga defende que as crianças devem ser informadas que os pais estão a passar por uma doença oncológica consoante a idade. Os mais novos de forma mais informal embora explicando que o pai ou a mãe podem estar mais cansados devido aos tratamentos. Na adolescência nada deve ser escondido e é preciso entender os comportamentos e reacções de cada um.
“Devemos perguntar às crianças como se sentem depois de lhes passarmos a informação da doença da mãe ou do pai e o porquê de alguns familiares estarem mais presentes nesta fase. Devemos escutar as crianças com atenção e mostrar-lhes que elas são uma força anímica muito grande para quem está doente. Que podem ajudar com beijinhos e abraços”, esclarece Cláudia Almeida.

Livro que ajuda adultos a explicar cancro às crianças

Durante a palestra foi apresentado o audiolivro infantil, intitulado “Os superpoderes da Júlia”, da autoria da Liga Portuguesa Contra o Cancro. O livro partilha a história de uma menina alegre e cheia de vida e de um pai lutador que enfrentam o cancro com amor. O livro, que pode ser ouvido, pretende ajudar os adultos a explicar o cancro às crianças.

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