Inês Silva viveu meses de angústia até lhe ser diagnosticada tuberculose
Inês Silva sempre foi uma jovem saudável mas durante a pandemia andou cerca de seis meses a caminho dos hospitais para descobrir a causa do cansaço extremo e falta de ar.
Os médicos acharam que poderia ser asma e chegou a ser colocada a hipótese de uma malformação congénita que obrigaria à remoção de parte de um pulmão. Os meses de incerteza provocaram muita angústia na jovem natural da Chamusca que acabou por ficar aliviada quando lhe foi diagnosticada tuberculose. Uma história para assinalar o Dia Mundial da Tuberculose que se comemora a 24 de Março.
Inês Silva, 27 anos, sempre foi uma jovem saudável mas em Agosto de 2020 tudo mudou. Estava em casa, em lay-off, e praticava exercício físico cinco a seis vezes por semana. Começou a ficar muito cansada com exercícios leves e notou que não era um cansaço normal. Em Setembro decidiu ir ao médico quando começou a sentir vibrações e palpitações no peito. O médico de medicina geral disse-lhe que deveria ser ansiedade.
A jovem natural da Chamusca alertou o médico que, em 2018, tinha estado em contacto com uma pessoa que tinha tido tuberculose mas o doutor desvalorizou uma vez que, na sua opinião, já tinha sido há muito tempo. Mandaram-lhe fazer exames ao coração e os resultados foram todos normais. O cansaço continuou e no final de Outubro Inês Silva começou a sentir falta de ar. Marcou consulta com o pneumologista que lhe mandou fazer exames para despistar problemas de asma.
“Antes de ir mostrar esses exames, que estavam dentro dos parâmetros normais, tive que ir às urgências do hospital por falta de ar. Nessa altura disse que estava a fazer esses exames para o despiste da asma. Deram-me broncodilatadores e corticóides. Andei a tomar cortisona durante três meses. E mandaram-me para casa. Não conseguia dormir deitada, tinha que ter três almofadas por não conseguir respirar e não conseguia descansar porque não sabia o que se passava comigo e os médicos não ajudavam”, recorda Inês Silva a O MIRANTE.
Na segunda ida às urgências, já num hospital em Lisboa, ficou em isolamento. Pensaram ser Covid-19 mas o teste deu negativo. Mandaram-na novamente para casa. No final de Novembro de 2020 ficou de baixa e o pneumologista mandou fazer uma TAC em que foi detectada “qualquer coisa” e por isso mandou também fazer uma ressonância magnética. “Em Janeiro de 2021 detectaram algo nos brônquios do lado esquerdo. Cheguei a fazer exames para despiste à tuberculose mas deram negativo”, conta.
O maior susto da sua vida foi quando o cirurgião torácico e o pneumologista lhe disseram que poderia ter uma malformação congénita e que o mais provável era terem que a operar para retirar parte do pulmão. Em Fevereiro de 2021 fez uma broncoscopia para os médicos verem que parte do pulmão teria que ser removido. Foi aí que desconfiaram que poderia ser tuberculose. “Acabei por ficar aliviada quando soube porque foi um desgaste muito grande. Andei seis meses sem saber o que tinha. Só sabia que tinha um cansaço extremo e ninguém me sabia dizer o diagnóstico”, explica a consultora.
A tuberculose só foi detectada ao fazerem uma lavagem aos pulmões que acabou por espalhar a bactéria que estava localizada na zona da pleura. Inês Silva começou a fazer tratamento mas não melhorou. Tinha febre alta e o coração muito acelerado. Com 1,70 metros chegou a pesar 46 quilos. Quando fez análises ao fígado estava com uma hepatite tóxica por causa dos medicamentos. Parou a medicação e esteve internada 10 dias. O fígado voltou a valores normais e retomou a medicação para combater a tuberculose com uma dose ajustada. Só parou o tratamento em Setembro do ano passado.
A jovem ficou com cicatrizes nos pulmões e quando respira muito fundo tem dores. A capacidade respiratória ainda não está a 100% mas, aos poucos, vai retomando a vida normal. “Voltei ao ginásio em Março mas só posso fazer pilates e aulas acompanhadas porque ainda me canso”, explica. “Se hoje estou viva tenho que agradecer ao meu médico, Gustavo Santos, que nunca desvalorizou os meus sintomas”, conclui.
Aumento de mortalidade por tuberculose em 2020
Pela primeira vez em 20 anos as mortes por tuberculose aumentaram na Europa. Os dados foram divulgados este mês de Março num relatório do Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC) e da Organização Mundial de Saúde (OMS). A Sociedade Portuguesa de Pneumologia considera este facto preocupante. Em Portugal, de acordo com dados relativos a 2020 do relatório de vigilância e monitorização da tuberculose, houve um aumento da mortalidade: 8% (94 casos) enquanto em 2019 a taxa foi de 7%.
A Comissão de Trabalho de Tuberculose da Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP) justifica o aumento de mortes por tuberculose pela demora na procura de cuidados de saúde pelos utentes durante a pandemia. Além disso, também a maior dificuldade no acesso a esses mesmos cuidados de saúde condicionou formas mais graves da doença na altura do diagnóstico.
A tuberculose é uma doença infecciosa, transmissível e de origem bacteriana, cuja forma mais frequente é a pulmonar. Apesar do agente ter sido identificado há mais 100 anos, e de existir tratamento e vacina, a doença mantém uma letalidade que ronda os 15% a nível mundial. A taxa de incidência nacional da tuberculose é de 18 por cada mil habitantes, o que torna Portugal um país de baixa prevalência. A idade média dos doentes é de 49 anos. A tosse é o principal sintoma da tuberculose pulmonar e a forma mais comum de contágio, pois envia para o ar partículas com os bacilos da tuberculose, que infectam quando inalados.