“Quando se entra na antiga Estação Zootécnica Nacional é uma dor de alma”
Desinvestimento gradual do Estado no complexo da Quinta da Fonte Boa, no Vale de Santarém, mereceu críticas severas de autarcas de Santarém. “Parece que estamos a visitar uma qualquer antiga Republica Soviética”, disse um vereador.
O complexo da antiga Estação Zootécnica Nacional /EZN), no Vale de Santarém, onde hoje funciona um pólo do INIAV (Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária) é uma sombra do que foi no passado, fruto de décadas de desinvestimento estatal e de perda de serviços e valências. Essa realidade foi colocada a nu na última reunião do executivo da Câmara de Santarém, com vozes de todos os quadrantes políticos a lamentarem a situação.
A EZN “era algo de importante para a nossa região, para o Ribatejo, não era só para Santarém. E tudo isso caiu!”, afirmou o vereador e deputado socialista Manuel Afonso, homem ligado ao sector agrícola, referindo que é dos tempos em que o complexo empregava mais de 500 trabalhadores e tinha múltiplas valências ligadas à investigação pecuária, além de um importante pólo da coudelaria nacional, entretanto extinto tal como os seus postos de trabalho.
Quem também viu o que era a EZN no seu esplendor e a caricatura decadente que é hoje é o vereador do Chega Pedro Frazão, veterinário de formação, que ali estudou e teve muitas aulas práticas. “Quando se entra hoje na EZN é uma dor de alma. Parte-se o coração, porque parece que estamos para lá do muro de Berlim. Parece que estamos a visitar uma qualquer antiga Republica Soviética – e eu também visitei algumas há uns anos -, não parece que estamos em Portugal”.
Pedro Frazão ficou desiludido com o seu regresso a um espaço importante para a sua formação. “Vemos edifícios completamente decrépitos, um desinvestimento brutal, uma enorme falta de dignidade. Até a estátua do Professor Vaz Portugal, à entrada, não tem a dignidade que merecia”, declarou na reunião de câmara de dia 4 de Abril.
A decadência da antiga Estação Zootécnica Nacional voltou à ordem do dia com a candidatura gorada ao quadro comunitário de apoio Portugal 2020, num valor superior a 5 milhões de euros, para ali criar um Centro de Excelência para a Agricultura e Agro-Indústria. Um processo iniciado há sete anos, que envolve diversas entidades e que tem andado a passo de caracol. Esse fracasso, atribuído pelos autarcas de Santarém e da Comunidade Intermunicipal da Lezíria do Tejo ao INIAV, entidade que coordenava o processo, adiou nova vida para aquele espaço emblemático.
“O INIAV tem responsabilidades nesta matéria e tem que dizer por que é que não conseguiu que fosse efectivado este investimento e porque é que houve estes atrasos (…) Neste processo não tivemos respostas e as coisas decorreram com algum laxismo”, disse o presidente da Câmara de Santarém, Ricardo Gonçalves (PSD). Para já, e até que haja nova candidatura, os 350 mil euros que o município tinha afectos a esse projecto foram retirados, para serem disponibilizados para outros investimentos.