É mais fácil apanhar um mentiroso que um coxo

À porta da sua loja de decorações, em Rio Maior, Graça Delgado, 61 anos, reflecte sobre uma mentira que gostava que fosse verdade: “não haver guerra”. Apresenta-se tímida perante a câmara fotográfica e pediu, desde logo, para esperarmos um pouco, de maneira a arranjar o cabelo e dar conta da indumentária. É uma pessoa de poucas palavras, mas cheia de certezas sobre a mentira pois, como diz, “é mais fácil apanhar um mentiroso que um coxo”. Questionada sobre a profissão na qual mais se mente não demorou a responder: “São os advogados que mais mentem para defender os seus arguidos. Por vezes, nem sequer sabem que estão a mentir”.

Devia ser mentira Putin gostar de guerra

João Carvalho, 40 anos, acredita que as mentiras acabam por acontecer em quase todos os relacionamentos. No entanto, para ser justificável a fuga à verdade é porque se trata “de uma mentira mais amigável”. Sentado à mesa de um café, diz sem grande fundamento que “o coxo está mais vulnerável a ser apanhado que um mentiroso”. A convicção talvez venha da sua própria experiência, mas isso João Carvalho não quis admitir ao repórter ficando-se por um sorriso atrevido. Questionado sobre uma mentira que devia ser verdade o tom muda de figura e numa voz séria, menciona; “Que o Putin gostasse de paz”.

Nenhuma mentira tem justificação

Na entrada de um bar em Rio Maior, Luís Carvalho, 25 anos, diz não se lembrar da pior mentira que já proferiu. Dentro das ruelas da zona histórica da cidade o jovem conversa com O MIRANTE e afirma que são os homens que mais mentem. A afirmação não é baseada em estudos científicos, é apenas a percepção de um homem que vê na mulher um ser humano mais fiel a si próprio e consciente das suas atitudes. Para Luís Carvalho, “nenhuma mentira tem justificação” e, na sua visão, é mais fácil apanhar um mentiroso que um coxo. Argumenta que o mentiroso, ao fim de um tempo, acaba por “baralhar-se” no que diz e é apanhado.

Há mentiras que podem ter utilidade

Orlando Marchão, pai da jogadora de futebol do Sporting Clube de Portugal e da selecção nacional, Joana Marchão, é pragmático quando se refere à mentira: “Se for positiva pode ter a sua utilidade. Se for para evitar algum conflito indesejável não vejo porque não”, sublinha. O funcionário da Biblioteca Municipal António Botto, em Abrantes, acredita que omitir não é tão grave como mentir e que “tanto se apanha um mentiroso como um coxo”. Leva a vida com leveza e acolhe com um sorriso quem passa e o cumprimenta. Sobre o género que mais mente, em tom de brincadeira, relembra o treinador Jorge Jesus e um dos seus discursos: “Ambos os dois”.

Digam sem mentir que vão baixar o preço do combustível

No Mercado Municipal de Abrantes Luís Moreira, 63 anos, confessa a O MIRANTE que uma mentira que gostava que fosse verdade era “ver o preço do combustível a baixar”. Dotado de um sentido de humor muito próprio, aborda outro desejo que está cada vez mais distante de ser verdade: “O Sporting revalidar o título de campeão”. Dentro do talho de que é proprietário as mãos e as facas são as ferramentas de trabalho e, enquanto exerce um corte num pedaço de carne, diz convicto que “não há nenhuma mentira que tenha justificação, até porque a verdade, por muito que custe contar ou ouvir, dá uma sensação de leveza enorme”.

A política é a profissão mais mentirosa

A espreitar pela janela do seu rés-do-chão Palmira Ochoa não hesita em afirmar que o mentiroso nunca vai muito longe porque acaba sempre por esbarrar na própria mentira. Diz mesmo que quem tem o mau vício de mentir nunca se vai sentir completamente feliz e realizado. Aos 56 anos, tem dois filhos médicos que vivem na Holanda e outro a formar-se, também em Medicina, na Universidade da Beira Interior. Apesar disso, alimenta um sonho que, muito provavelmente, nunca irá concretizar-se: “Sair-me o Euromilhões”. Em jeito de brincadeira, Palmira Ochoa considera que “os políticos são descaradamente a profissão em que mais se mente”.

Alerta para cinco “enganos”

A propósito do Dia das Mentiras o Portal da Queixa alerta para os maiores enganos de que os consumidores foram alvo este ano. São cinco, são recorrentes e todos eles foram denunciados pela maior rede social de consumidores de Portugal: segurança das lojas online do Facebook e Instagram; sites de compras fraudulentos; phishing em cartões de crédito; burlas em revenda de bilhetes; falhas nas empresas de gestão de condomínios.