Sociedade | 23-04-2022 10:00

Roubo de éguas de raça espalha o medo entre os criadores

João Braga com o pai, Manuel Braga, proprietários da Sociedade das Silveiras

Só num fim-de-semana foram roubadas sete éguas de três coudelarias do distrito de Santarém. Os ladrões escolheram animais da raça “Lusitano” com uma pelagem mais rara, que os torna mais valiosos, o que deixa os criadores perplexos porque é muito difícil usar as éguas em actividades equestres ou na reprodução sem se detectar que foram roubadas. A hipótese provável é que sejam vendidas para alimentação no estrangeiro, mas mesmo assim não se percebe a escolha de animais tão valiosos.

Sete éguas de elevado valor comercial foram roubadas de três coudelarias do distrito de Santarém. Até agora não havia registo de roubos de tantos animais de uma só vez e a situação está a preocupar os criadores, até porque os ladrões têm como alvo éguas da raça “lusitano” e com pelagens mais raras, o que torna os animais mais valiosos. Casa Cadaval, em Muge, concelho de Salvaterra de Magos; Sociedade das Silveiras de Samora Correia; e Coudelaria Pedro Viotty, em Santarém, são as afectadas pelos assaltos.
Os equídeos despareceram no fim-de-semana de 9 e 10 de Abril. O método dos ladrões é similar em todos os roubos. Cortam os cercados e levam éguas de pelagens de cor castanha, baia (castanho claro e brilhante) ou isabel (de cor creme), que são as mais raras e valiosas. O que indica que os assaltantes são entendidos nesta área. Os responsáveis das coudelarias não têm dúvidas ao afirmar que os ladrões sabem o que estão a fazer e têm destreza em lidar com os animais sustentando a teoria pelo facto de os animais serem difíceis de apanhar e de colocar o cabeção, dispositivo que se põe no focinho dos cavalos para os manusear.
Na Casa Cadaval entre a cerca da propriedade e o local onde estão os cavalos distam quatro quilómetros, refere o responsável da coudelaria da casa agrícola, André Costa. A Pedro Viotty foi furtada uma égua de um terreno no Secorio, concelho de Santarém. No mesmo espaço estava outra égua de pelagem ruça, que os ladrões não levaram. Manuel Braga, proprietário da Sociedade das Silveiras, ficou sem duas éguas que estavam num terreno da coudelaria em Santo Estêvão, Benavente.

Prejuízos estimados em dezenas de milhares de euros
Os criadores estimam que os roubos tenham provocado prejuízos de dezenas de milhares de euros. “Cada égua destas vale entre 5 a 15 mil euros, mais o valor dos potros que parem ao longo da vida”, explica Manuel Braga. Para além do valor monetário, os animais acabam por ter valor sentimental para os criadores e o proprietário da Sociedade das Silveiras lamenta a perda dos animais que fazem parte da sua vida desde sempre. A égua furtada a Pedro Viotty tem um valor estimado de cinco mil euros. André Costa estima um prejuízo de 20 mil euros.
Manuel Braga, que já nasceu no meio de éguas e cavalos, também os seus pais eram criadores de equinos, diz não se lembrar de uma série de roubos como esta, especialmente desde que foram criadas regras apertadas para o registo e documentação dos animais.
Todos os criadores têm que registar os animais na Direcção-Geral da Alimentação e Veterinária (DGAV) e são identificados com documentação (livro verde ou azul), um chip electrónico e, na maioria das vezes, com o ferro da coudelaria. Os criadores não conseguem perceber estes roubos tendo em conta que é difícil utilizar estas éguas em qualquer actividade sem se descobrir que são roubadas. Fazer criação utilizando animais roubados é difícil, se o objectivo for registar como puro-sangue, porque no registo, no designado livro azul que certifica a raça dos animais, consta a linha genealógica do cavalo e uma resenha de todas as marcas distintivas e a identificação do número de série do chip electrónico. Se for registado com livro verde, por norma usado para raças mestiças, onde não consta a informação genealógica pode ser mais fácil, mas o valor comercial é reduzido em comparação com os de raça pura.
Outra das possibilidades, segundo Pedro Viotty, seria o mercado de consumo humano, embora a venda para consumo não tenha muita procura em território nacional e é proibido o abate de cavalos em matadouros que não sejam marcados para consumo humano no momento do registo na DGAV. “Em Espanha e França há alguma procura por carne de cavalo”, sublinha Pedro Viotty, que assume que poderá ser esse o destino mais provável para os animais roubados.
Para serem usados em competições desportivas federadas os animais têm de ser portadores do livro azul, que Manuel Braga diz ser muito difícil de forjar. “Para obter o livro azul os animais têm de ser registados no ano em que nascem e nenhuma das éguas roubadas tem menos de um ano”, vinca.

Pedro Viotty, proprietário da Coudelaria com o seu nome
Pedro Viotty, proprietário da Coudelaria com o seu nome

Criadores assustados

Manuel Braga confessa-se assustado com esta vaga de roubos e diz não ter medidas de segurança que possa aplicar para se defender. Os animais não são vigiados 24 horas por dia e os ladrões mostraram-se conhecedores da actividade de criação de cavalos, com facilidade em manusear os animais. A égua roubada a Pedro Viotty estava num cercado perto de uma zona habitada e ninguém deu conta do roubo. “Estava outra égua no cercado e quando se tira um animal de junto de outro, o que lá fica relincha e tenta seguir o que vai embora”, explica o criador para sublinhar a ideia que roubar cavalos não é, à partida, algo que possa não dar nas vistas.

André Costa, responsável da Coudelaria da Casa Cadaval
André Costa, responsável da Coudelaria da Casa Cadaval

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