No canil de Rio Maior o bem-estar dos animais também se faz com materiais reaproveitados
Numa visita ao Canil Municipal de Rio Maior percebe-se que “não é preciso gastar uma fortuna para dar dignidade aos animais”, como diz a veterinária Inês Lameiras.
O canil todos os dias recebe chamadas para resgatar cães e empenha-se em encontrar famílias para acolherem os animais, o problema é que muita gente prefere os mais novos. A dinâmica do canil vai ao ponto de promover visitas pedagógicas das crianças, onde são sensibilizadas para a importância da protecção dos animais.
Na primeira boxe, das 16 do Canil Municipal de Rio Maior, a Eva e o Fusca dão as boas-vindas com o pelo a brilhar de quem tomou banho há pouco tempo. Susana Sousa, assistente técnica do canil, diz que o chuveiro tem água quente. As camas foram feitas com uma armação metálica à medida e o “colchão” é construído a partir de restos de lonas publicitárias. Para que não falte comida aproveitam-se tubos de canalização em PVC, com mais de um metro de altura, onde se coloca a comida que vai descendo para a tigela. E até há lâmpadas de aquecimento que ajudam ao conforto. Tudo é aproveitado, pensado de maneira a gastar-se pouco, fazendo muito. “Não é preciso gastar uma fortuna para dar dignidade aos animais”, constata Inês Lameiras, médica veterinária que apoia o canil.
Os cães quando são resgatados passam por um período de quarentena. É realizada a desparasitação, vacinação e depois são colocados numa boxe individual. São avaliados e depois colocados num espaço com outros animais que se compatibilizem. Inês Lameiras explica que o procedimento “melhorou substancialmente os conflitos”. É um canil stress-free” (livre de stress). Cada cão tem o seu temperamento, maneira própria de lidar com o abandono e o momento certo para voltar a confiar nas pessoas. Teresa Canada, outra assistente, menciona que “nada se faz bem sem amor”. Os cães, pela expressão corporal, não mentem. Parecem felizes, apesar de nada substituir “uma família que os trate bem”, aponta Inês Lameiras.
O município tem à sua responsabilidade 61 cães estando alguns em famílias de acolhimento. O presidente da câmara, Filipe Santana Dias, adoptou uma cadela a quem chama princesa. “Ela fica dentro de casa e os dois labradores na rua”, diz a sorrir. Tem três cães e admite ser apaixonado por estes seres. O canil, para ele, é “motivo de vaidade e não de vergonha”, mas quando chegou ao poder “esta era uma das últimas prioridades”. Com campanhas de adopção constantes em placares espalhados pela cidade deu-se um novo fôlego ao canil e houve um salto qualitativo que se deve a quem trabalha no canil.
As notificações diárias que (infelizmente) o canil recebe
Ao Canil Municipal de Rio Maior “todos os dias chegam notificações”, lamenta Susana Sousa. Para as intervenções é pedido quase sempre o apoio da GNR. A assistente dá um testemunho da realidade; “Há situações terríveis, animais que vivem sem ver a luz do sol, enfiados em galinheiros. Outros são vítimas de maus-tratos, resgatados com queimaduras de cigarros, ferimentos profundos ou com magreza extrema”, conclui.
Desde o início do ano já foram resgatados 42 canídeos e 38 foram adoptados. Mas há um problema; “ são sempre os animais bebés a serem escolhidos”, destaca Inês Lameiras. As pessoas “querem quase sempre os mais pequenos, mais novos e com cores mais apelativas”, recorda a veterinária. Com um ritmo de abandonos cada vez mais elevado, e na dificuldade de arranjar quem adopte cães adultos, são as assistentes e a veterinária que cumprem o papel de família dos animais e divulgam nas redes sociais os animais que estão para adopção. O canil tem também um programa pedagógico que recebe visitas de estudo de crianças e jovens entre os 3 e os 14 anos. Tudo é pensado numa óptica de sensibilizar os mais novos para o respeito que os animais merecem.