Siluro com mais de dois metros pescado no porto da Palha
Trata-se do maior exemplar dessa espécie invasora e mega predadora pescado no Tejo até hoje e foi capturado por João Cristino na zona de Azambuja
O pescador João Cristino apanhou um siluro com 60 quilos e dois metros e 17 centímetros de comprimento, na zona do Porto da Palha, concelho de Azambuja. Trata-se do maior exemplar até agora pescado no rio Tejo, pelos registos existentes. O anterior recorde era de um siluro com 57 quilos e 1,98 metros. A captura foi feita durante a manhã de quarta-feira, 4 de Maio. O peixe foi oferecido ao MARE – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente, para ser estudado.
O siluro é uma espécie invasora e como predador causa danos severos à fauna piscícola do Tejo. Tal como O MIRANTE noticiou em Fevereiro deste ano, a Escola Superior Agrária de Santarém (ESAS) e o Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE) conseguiram financiamento da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) para avaliar o impacto da predação do siluro sobre os peixes migradores concretamente na época da lampreia e do sável de forma a quantificar o efeito directo sobre estas espécies.
Foi elaborado um inquérito para avaliar a percepção dos pescadores, quer lúdico-desportivos quer profissionais, sobre esta espécie, de forma a delinear-se um plano de comunicação que possa envolver os pescadores no controlo populacional de siluro no baixo Tejo. O siluro, ou peixe-gato-europeu, com nome científico de Silurus glanis chegou ao rio Tejo a partir de populações introduzidas em Espanha. A espécie é originária da Europa Central e Oriental e foi introduzida ilegalmente em toda a Península Ibérica por causa da pesca desportiva.
“É considerado um troféu de pesca, pois é dos maiores peixes de água doce do mundo e pode atingir 2,8 metros de comprimento e 120 kg de peso”, referia Filipe Ribeiro, investigador do MARE da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. O siluro para sobreviver tem de consumir diariamente pelo menos 2% do seu peso em presas (peixes, lagostins, camarões ou mesmo aves). Ou seja, um siluro com 50kg terá que se alimentar de pelo menos 1kg de presas por dia, o que ao final de um ano poderá ascender a 300 kg no total.
Um estudo recente realizado no rio Tejo, na zona das Caneiras e Valada do Ribatejo, confirmou que sáveis, enguias-europeias, lampreias-marinhas, barbos e fataças fazem parte da dieta deste super predador. “Ora estas espécies têm um elevado valor na cultura do Ribatejo, quer através da gastronomia, mas também para as dezenas de pescadores profissionais que vivem da pesca no Tejo e que fazem parte da tradicional comunidade avieira”, mencionava o professor João Gago da ESAS.
O rio Tejo tem, pelo menos, duas espécies de peixes endémicas, isto é, em todo o mundo só existem no rio Tejo e em mais lado nenhum, que são a boga-de-boca-arqueada-de-Lisboa e a lampreia-do-Nabão. O siluro será mais um factor de pressão sobre estas espécies únicas podendo levar inclusivamente ao seu desaparecimento.