Sexo em grupo é prática entre jovens do concelho de Vila Franca de Xira
Jovens de escola do Bom Sucesso que filmaram uma sessão de sexo em grupo e publicaram as imagens na internet não são caso único no concelho e há registo de situações semelhantes em Vila Franca de Xira e Vialonga. Psicóloga diz que a pornografia está a envenenar a percepção dos jovens sobre o sexo e partilha com O MIRANTE o caso de uma aluna de 12 anos que foi abusada por uma dezena de rapazes.
O caso do grupo de alunos de 16 e 17 anos da Escola do Bom Sucesso, em Alverca, que se filmaram em cenas de sexo anal e oral com seis raparigas entre os 12 e os 15 anos não foi caso único no concelho e há registo de duas outras situações semelhantes ocorridas no passado na Secundária Alves Redol, em Vila Franca de Xira, e na Escola Básica 2/3 de Vialonga.
Fonte policial recorda a O MIRANTE que em ambas as situações, ocorridas há oito e seis anos, respectivamente, acabou por se provar que o sexo foi consentido e por isso as penas tutelares apenas foram aplicadas aos rapazes que partilharam os vídeos nas redes sociais sem autorização das raparigas. Dois deles passaram seis meses suspensos das aulas. Um outro foi obrigado a ser acompanhado por um psicólogo durante um ano.
Guida Alves é psicóloga clínica com especialização em intervenção comunitária e presta apoio social nas juntas de freguesia de Alhandra e de Alverca do Ribatejo e Sobralinho. Conhece bem esta realidade e ela própria acompanhou um caso. Admite que jovens filmarem-se a ter sexo é frequente e move-os a necessidade de afirmação e uma postura narcisista de mostrar a sua agressividade e domínio sobre o outro.
“Já tive uma aluna que emigrou por ter sido vítima de exposição sexual na internet. A situação tornou-se insuportável para ela”, partilha a psicóloga a O MIRANTE. A estudante, de 12 anos, tinha um corpo adulto e apaixonou-se por um rapaz que lhe pediu em troca da prova do amor uma relação sexual com a menor. A menina não contou a ninguém e avançou para o sexo. Num segundo encontro o rapaz insistiu numa nova relação sexual para validar o namoro, ela cedeu e acabou surpreendida quando este levou seis amigos que acabaram a ter sexo oral com ela.
“Fizeram um vídeo, publicaram nas redes sociais e a miúda foi alvo de uma chacota geral na escola, colavam-lhe papéis nas costas, enxovalharam-na com todos os nomes que se possa imaginar. Destruíram a sua imagem e criaram feridas que dificilmente irão sarar”, recorda Guida Alves.
Pornografia está a envenenar os jovens?
A psicóloga afirma que os jovens não têm noção das implicações que a partilha dos vídeos acarreta para os envolvidos, seja numa situação de sexo consentido ou não. Em ambos os casos ficam sequelas, garante Guida Alves, que é peremptória: “A acessibilidade que hoje temos à pornografia pode ter envenenado e banalizado o sexo e a relação com o outro”.
Cultiva-se a ideia da facilidade das relações, do sexo no primeiro encontro, da banalidade. “A relação sexual é mais vivida nos jovens pela parte sexual do que por outros princípios como o casar, ter filhos e constituir família. A relação com o outro é hoje vivida exclusivamente pelo prazer”, nota. A sexualidade é iniciada também cada vez mais cedo, por volta dos 15 anos, mas a maturidade mental ainda não está alcançada, avisa a psicóloga.
“A sociedade é a culpada. Os pais não sabem impor os limites e passar a informação necessária e a própria escola pode não estar a ter a postura correcta de aconselhamento e apoio. Muitas vezes são os primeiros a ser excessivamente críticos e não sabem o que leva os miúdos a ter estas atitudes”, conclui Guida Alves.
O que podem (e devem) fazer os pais
Este é um problema que veio para ficar, avisa a psicóloga Guida Alves, por isso os pais devem preparar-se para lidar com estas situações. O principal é não dar demasiada liberdade aos filhos. “Não é fazer um controlo excessivo mas devem acompanhar quando eles gerem sozinhos as redes sociais. São um tiro no escuro. Não vamos violar a privacidade deles, nem abusar da autoridade, mas sim acompanhar”, explica.
Acima de tudo tem de haver uma relação de confiança entre pais e filhos. Expor, prevenir e alertar para as consequências são o segredo. “Na adolescência temos de ter em conta vários sinais, quando eles são acérrimos defensores das redes, mudam perfis com frequência, mostram mudanças de humor ou irritabilidade, temos de perceber por que motivo. Provavelmente estão a ser vítimas”, avisa. No que toca aos casos de violência onde o sexo não é consentido, o Estado tem de tomar medidas para que os agressores sejam punidos e não tenham vontade de o voltar a fazer, defende Guida Alves.