“Vila Franca de Xira é uma imensa incubadora de talentos”
Inês Lucas, deu os primeiros passos como actriz na Inestética e hoje é um rosto conhecido da ficção nacional. Acabou uma série para a RTP Play e para a Opto, já entrou em novelas da TVI e participou recentemente num telefilme alemão. Em Maio venceu o prémio de melhor actriz secundária no Christian Film Festival da Flórida, nos Estados Unidos da América.
O concelho de Vila Franca de Xira é uma imensa incubadora de talentos e precisa de continuar a estimular a criatividade dos jovens e apostar forte na criação da marca de capital nacional do cinema. A ideia é defendida por Inês Lucas, 40 anos, actriz natural da cidade que é um dos rostos conhecidos da televisão nacional.
Inês Lucas foi notícia em Maio ao vencer o prémio de melhor actriz secundária no Christian Film Festival dos Estados Unidos da América, pela sua participação na curta-metragem “Caminho de Fé” de Filipe Piteira. “Primeiro desvalorizei a importância do prémio mas hoje acho que é o reconhecimento por todo o trabalho que desenvolvi nos últimos anos. Um actor está sempre numa luta interior de auto-estima e valorização. O filme está lindíssimo e não me surpreende que tenhamos ganho”, conta com um sorriso a O MIRANTE.
A acrtiz confessa-se uma pessoa curiosa que adora as ligações humanas. “A beleza da vida está nos pequenos olhares”, diz, ao mesmo tempo que gostava de poder filmar ou participar num filme rodado na sua terra. “VFX tem tanta cultura para ser partilhada. Depois de voltar a Portugal descobri o trabalho da Leonor Teles e adoro”, confessa.
Além da aviação e da gastronomia, diz, VFX precisa de apostar na indústria do cinema e fazer dessa a sua marca já que a cidade recebe muitas produções nacionais. “Devíamos criar um gabinete dedicado apenas à cinematografia e dar-lhe um impulso. Podemos não estar a saber aproveitar bem esta oportunidade. Às vezes basta ter um gabinete com uma equipa que tenha esse foco. Há imensas produções nacionais a quererem vir cá filmar porque é barato e temos zonas lindíssimas. Temos de perceber como poderemos dinamizá-lo”, defende.
Primeiros passos na Inestética
Inês Lucas entra em diversas séries e filmes nacionais, incluindo novelas da TVI, uma série da plataforma Opto e, mais recentemente, na série “nOOb” da RTP Play. A actriz, apesar de viver em Lisboa, não esquece as suas raízes e ainda mantém uma forte ligação com a cidade ribatejana, da qual adora a zona ribeirinha. “Guardo excelentes memórias da infância. Morava na Rua 25 de Abril, onde dava para brincar na rua e quase não havia carros. Éramos mais felizes antigamente”, brinca.
Foi aos 13 anos que Alexandre Lyra Leite, da Companhia Inestética, lhe lançou as sementes da representação, levando Inês a participar num curso de expressão dramática. “É bom quando desafias as tuas limitações. Os meus pais tinham receio mas sempre me apoiaram. Não me conseguia ver num escritório. Gosto de explorar a minha criatividade”, diz. Estudou representação em Londres, Berlim e viveu onze anos em Nova Iorque, onde conheceu o marido. Regressou a Portugal pouco antes da pandemia. “Tivemos sorte de trazer algumas poupanças e conseguimos aguentar-nos”, lembra.
Inês Lucas diz que não há ilusões e que no mundo da representação quem se conhece abre portas. “É natural que as produtoras queiram trabalhar com pessoas que nos conhecem e sabem da nossa disciplina, talento e profissionalismo”, conta. Ser actor, diz, é difícil. “Há anos de trabalho atrás de uma personagem. Já tive personagens que me desafiaram no processo de criação e senti profundamente a tristeza, depressão e raiva. Tenho de ir buscar as minhas emoções verdadeiras para criar empatia com as minhas personagens. Felizmente, depois consigo desligar”, confessa.
Assédio sexual preocupa
Apesar de nunca ter sido alvo de assédio sexual para poder ter um papel, Inês Lucas confirma conhecer várias pessoas a quem isso aconteceu. É por isso que, defende, o movimento Me Too é importante. “Quando és novo e sentes que estás quase a ter a tua grande oportunidade existe a ideia que o actor tem de dizer que sim e sujeitar-se ao que lhe pedem para ter uma segunda oportunidade”, critica.
Já fez papéis de, por exemplo, jornalista, militar da GNR ou empregada de balcão e confessa ter uma “tendência de justiceira” dentro de si, lidando mal com a injustiça. Diz que as novas plataformas de streaming são uma mais-valia. Inês Lucas gostava de trabalhar com Benicio del Toro e os realizadores Lars Von Trier, a espanhola Isabel Coixet ou a portuguesa Patrícia Sequeira. “Há excelente cinema em Portugal, apesar de muita gente não lhe dar o devido mérito. Há jovens realizadores portugueses incríveis como o Bernardo Lopes ou o João Brás. O fosso entre a produção estrangeira e nacional acabou. Temos de desmistificar isso”, defende.
Acordar sem saber se vai ter trabalho é o que mais lhe custa na profissão e confessa que tem sempre um demónio criativo a querer sair. “O actor vive numa luta constante consigo mesmo”, diz a mulher que adora a banda Smashing Pumpkins. O futuro, diz, está a ser construído com o marido, em Arroios, com o projecto do Teatro Underground, um pequeno teatro-estúdio (black box) para acolher artistas. “Queremos que seja uma casa para a comunidade, para os nossos amigos artistas e para quem tiver projectos de teatro ou artes performativas poder apresentar. Queremos que seja um sítio onde haja sempre espectáculos e coisas giras a acontecer”, conclui.