Sociedade | 10-07-2022 15:00

Jornal O Ribatejo deixou um rasto de dividas

Jornal O Ribatejo deixou um rasto de dividas

Jornal O Ribatejo fechou há quatro anos, sufocado em dívidas, e com a promessa de continuar no online e de um retorno em papel, em formato revista. Nada disso aconteceu e o domínio na Internet está nas mãos de uma empresa estrangeira.

O jornal O Ribatejo fechou há quatro anos e o seu domínio na Internet (oribatejo.pt) é o último sinal activo da existência desse título regional cuja última edição em papel foi publicada em 12 de Julho de 2018. Através de uma pesquisa num motor de busca, ao clicar-se em “O Ribatejo | jornal regional online” abre-se uma página com noticiário avulso, nacional e internacional (do Ribatejo nada), entre outras funcionalidades, explorada por uma empresa francesa que usa uma rede de sites noticiosos para propagar links e optimizar pesquisas no Google.
Por ironia do destino, há quatro anos, na última edição em papel de O Ribatejo dizia-se que o jornal iria continuar no online e que em Setembro desse ano iriam regressar com “um novo produto de informação: uma revista mensal que estamos a criar e queremos aberta à futura região do Ribatejo e Oeste”. Dessas declarações de intenções cumpriu-se parcialmente a primeira promessa: o site oribatejo.pt continua activo, embora já nada tenha que ver com o original nem com os antigos proprietários. Quanto custou a aquisição desse domínio e a quem foi comprado são informações que não conseguimos apurar. Mas ficámos a saber que os seus proprietários pedem agora 10 mil euros por ele.
Na informação disponível no site, lê-se: “O Ribatejo ilumina as novidades mais recentes e importantes em Últimas Notícias, Política, tecnologia, startups, saúde e ciência por meio de postagens fáceis de ler. A tecnologia emergente está mudando o futuro de nossa sociedade e cultura. Nossa missão é compilar, documentar e disseminar relatórios informativos sobre tecnologia transformadora e descobertas científicas que têm o potencial de revolucionar nossa cultura, vidas e indústria”.

Um rasto de dívidas
Quando o jornal O Ribatejo acabou deixou também um rasto de dívidas e uma pelo menos ficou por cobrar, no valor de 9 mil euros, sendo credora a gráfica com quem o jornal trabalhava. Ao que apurámos, a gráfica pôs a empresa de comunicação social em tribunal mas posteriormente desistiu da acção por perceber que dificilmente seria ressarcida.
Ao longo dos seus 32 anos o jornal O Ribatejo atravessou várias crises e teve vários administradores. As mudanças de maior destaque deram-se com a compra do título pelo Grupo Lena, de Leiria, que na altura formou um grupo de comunicação social nacional em que o jornal i era o título mais em destaque. Na região do Ribatejo o Grupo Lena era ainda proprietário da Rádio Antena Livre” de Abrantes, do jornal O Ribatejo e de um jornal semanário no concelho de Ourém. Na altura da venda, António Rodrigues, um dos administradores do Grupo Lena, disse a O MIRANTE que a aposta do grupo na comunicação social foi um acto de gestão errada.
O Grupo Lena descartou o jornal anos depois e o comprador foi a Jortejo, empresa que já tinha sido proprietária do jornal. Albertino Antunes e Joaquim Duarte foram os últimos administradores. Joaquim Duarte pediu a renúncia à gerência em Maio de 2022. Para além de director editorial do jornal e sócio da Jortejo com mais de dez por cento do capital, Joaquim Duarte era ainda dono, há vários anos, de uma empresa denominada “Ribamargem”, que prestava serviços na área da comunicação, em sociedade com Paulo Pita Soares.
Entre os vários administradores que O Ribatejo teve ao longo dos anos contam-se Carlos Cruz, que também foi seu director editorial, e António Madeira, conhecida figura de Santarém, entretanto falecido, que era muito conhecido na cidade por ser administrador e professor no ISLA. O Ribatejo teve a sua última sede e redacção nas instalações do CNEMA, em Santarém. O pagamento das rendas em atraso terá sido resolvido nos últimos tempos com um contrato de prestação de serviços com a instituição liderada por Eduardo Oliveira e Sousa.
O director editorial do jornal e seu administrador, Joaquim Duarte, despediu-se dos leitores com o argumento de que “as notícias no papel envelhecem antes de chegarem ao leitor” atribuindo ainda o fecho do jornal ao advento das redes sociais.

Opinião

A imprensa local e regional continuam a definhar

Portugal perdeu nos últimos 10 anos mais de metade dos jornais impressos que serviam as comunidades locais. Os números são da responsabilidade da redacção de O MIRANTE porque não há estudos que comprovem o desastre porque passa a imprensa local, regional e também nacional. O que se sabe é que continuam a fechar jornais e as redacções têm cada vez menos jornalistas, como é o caso de jornais que já foram uma referência como o Diário de Notícias e o Jornal de Notícias, que entretanto mudaram de proprietário. As tiragens dos jornais de referência, como é o caso do Correio da Manhã e do Público, diminuíram para menos de metade e a razão não é só a perda de leitores como o fecho dos postos de venda. Ultimamente, a VASP, única distribuidora de jornais e revistas, anunciou um novo imposto o que fez desaparecer das bancas alguns jornais locais.
A nível associativo os jornais perderam influência. A Associação Portuguesa de Imprensa (API) perdeu estatuto e deixou de ser uma voz activa precisamente quando a comunicação social mais precisava da sua intervenção. Os grandes grupos abandonaram a API e formaram a denominada Plataforma de Meios mas nem mesmo esses conseguem junto do Governo um apoio de emergência para o sector. O caso do jornal O Ribatejo, que tratamos num texto ao lado, é só mais um caso de um jornal que vivia sem assinaturas, e sem um sector comercial organizado. Continuando a citar números que não estão documentados, a generalidade do sector da imprensa portuguesa perdeu nos últimos cinco anos mais de metade das receitas publicitárias. Os anúncios classificados quase desapareceram da grande maioria dos jornais que, aparentemente, desistiram dos seus departamentos comerciais por falta de rentabilidade do mercado.
O jornal semanário Expresso é uma excepção no mercado da imprensa portuguesa, a par de O MIRANTE, embora num mercado muito mais pequeno e incomparavelmente mais reduzido a nível de distribuição e implantação territorial.

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