Sociedade | 29-08-2022 12:00

Mão de obra para tirada da cortiça foi tema da festa de Coruche

Um grupo de jovens representa os tiradores de cortiça durante o Cortejo Histórico e Etnográfico, um dos momentos altos das Festas em Honra de Nossa Senhora do Castelo em Coruche

Cortejo cultural e etnográfico, que regressou às ruas de Coruche, deu especial enfoque à tiragem de cortiça, Património Cultural e Imaterial. Um dos participantes é tirador de cortiça, capataz há 32 anos e diz que a seca está a prejudicar a qualidade da casca do sobreiro. Mas um dos problemas que mais se está a sentir é a falta de gente que queira trabalhar na campanha de tiragem de cortiça.

Jerónimo Constância retira cortiça dos sobreiros desde os 16 anos. Quem o ensinou foi o seu irmão, dez anos mais velho. É capataz há 32 anos em várias herdades. Explica aos mais novos, ou que estão na campanha pela primeira vez, a técnica para retirar a cortiça da forma mais rentável. O tirador de cortiça, de 58 anos, veste-se a rigor com camisa aos quadrados e calças azuis escuras e jaqueta num tom cinzento. O chapéu resguarda-o do sol que se faz sentir em Coruche e tapa-lhe o cabelo, parte dele branco. Natural da Lamarosa é um dos participantes do cortejo cultural e etnográfico que regressou às ruas de Coruche na quarta-feira, 17 de Agosto, feriado municipal.
O tirador de cortiça lamenta que haja falta de gente para esta actividade e diz que a seca que se está a viver prejudica a qualidade da cortiça. “A falta de chuva prejudica a qualidade da cortiça. O nosso concelho é dos melhores do país, e do mundo, a nível da cortiça. O problema é que os jovens procuram outras profissões e como a campanha dura apenas cerca de dois meses não há muita gente interessada”, realça antes de arrancar o cortejo.
Jerónimo Constância integra um dos 36 carros alegóricos que se concentram nas imediações da praça de toiros. Vestida com uma camisa azul clara, com botões até ao pescoço, um avental às riscas vermelho e outro azul por cima, Isabel Gonçalves leva um alguidar com roupa suja à cabeça. Durante o cortejo vai, juntamente com as colegas, do Rancho Folclórico de Vila Nova de Erra, encenando conversas engraçadas em voz alta que fazem rir quem observa o cortejo. O objectivo é retratar e recordar os tempos vividos no concelho de Coruche há meio século. Para Isabel, de 53 anos, é fundamental passar a história e tradições aos mais jovens para que a cultura e identidade do concelho não se perca.
Isabel Gonçalves recorda-se bem dos tempos em que nas férias escolares ia trabalhar para o campo, levada pela mãe, sobretudo de um dia específico em que a progenitora lhe atirou com um torrão de terra à cabeça por ter perguntado as horas ao capataz. Nesse tempo era proibido perguntar as horas ao capataz e devia evitar-se falar com ele.
Maria Albertina, 63 anos, representa as mulheres que punham a panela ao lume para fazer o almoço de quem andava a retirar cortiça dos sobreiros em Santana do Mato, de onde é natural. Recorda-se de andar com pranchas de cortiça à cabeça, a carregá-las para os montes que depois eram carregados para tractores. “Tinha 17 anos e adorava aquele trabalho. Era uma alegria. Tenho pena que as coisas já não se façam tão manualmente. Este cortejo é muito importante porque relembram-me a minha mocidade”, afirma com um sorriso tímido. António Joaquim, um dos muitos que se concentraram nas ruas a ver passar o cortejo, deslocou-se de Salvaterra de Magos a Coruche com a neta, Bianca, de oito anos, para mostrar à menina como era a vida nos seus tempos de juventude.
O tema deste ano foi “A riqueza da nossa terra”, onde a tiragem da cortiça, já com a inscrição de Património Cultural Imaterial, teve um enfoque maior. No entanto, segundo a vereadora do Turismo e Cultura, Susana Cruz, as riquezas do concelho, como o rio Sorraia e o saber-fazer e costumes de antigamente também não foram esquecidos.

Jerónimo Constância retira cortiça dos sobreiros desde os 16 anos
Jerónimo Constância retira cortiça dos sobreiros desde os 16 anos

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