Vindima na Quinta Monteiro de Matos resiste à seca e ao calor
Este ano, a vindima na Quinta Monteiro de Matos, em São Vicente do Paúl, começou com a bênção do bispo de Santarém, D. José Traquina, recuperando uma tradição antiga. Mas a ajuda divina não basta para combater os efeitos das alterações climáticas e da falta de água: são precisas estratégias de produção mais sustentáveis, como o sistema de rega gota a gota implementado em mais de 80% da vinha.
Para salvar as uvas da seca e do calor, em 2022 a vindima começou mais cedo na Quinta Monteiro de Matos, em São Vicente do Paúl. Num ano em que choveu pouco e as temperaturas são elevadas, o início da vindima foi antecipado para 19 de Agosto para salvaguardar a colheita. “Nunca tivemos temperaturas tão altas fora da época”, confirma o proprietário da quinta, José Monteiro de Matos, que este ano recuperou uma tradição antiga: a bênção das uvas e das vinhas. Conduzido pelo bispo de Santarém, D. José Traquina, o ritual religioso pediu a protecção divina “para os campos e as suas gentes”, mas a mão de Deus pode não chegar para travar os efeitos das alterações climáticas, que podem representar uma quebra de 20% na produção de vinho. “Este é um problema que não se resolve ficando a rezar o dia inteiro”, reconhece D. José Traquina que, em declarações a O MIRANTE, alerta para a necessidade de se reforçar a educação de todos para a gestão da água.
Os responsáveis da Quinta Monteiro de Matos têm apostado, nos últimos cinco anos, num sistema “mais sustentável” de rega gota a gota. Já implementada em mais de 80% dos 35 hectares da herdade, a técnica destinada a assegurar a fertilização da vinha tem ajudado a aumentar a produção e a resguardá-la das consequências da seca. Nuno Monteiro de Matos, rosto da terceira geração da família, refere que este sistema proporciona uma rega mais eficaz e económica e permite que a adubação seja mais localizada e eficiente.
Segundo o enólogo, Rui Correia, que na adega faz nascer os vinhos tintos e brancos da casa – Reserva do Paul, Terras de Paul e Touro de Paul –, o sistema de rega gota a gota, em combinação com a matéria orgânica que a vinha recebeu nos últimos dois anos, trouxeram também “maior exuberância vegetativa” às videiras e isso tem feito a diferença contra as ondas de calor. Se não têm sido os sucessivos dias de calor intenso nos últimos meses, a produção de vinho “poderia ultrapassar os 200 mil litros”, estima Rui Correia.
Aposta na qualidade dentro e fora de portas
José Monteiro de Matos antecipa um ano promissor para 2022. “Em Agosto, temos uvas com 15 graus, o que não é normal”, sublinha. A família Monteiro de Matos espera que estejam assim reunidas as condições para se produzir o “vinho mais emblemático da quinta”: o Grande Reserva que, com 16,5 graus, é o vinho mais graduado da região e só foi produzido em 2014 e 2019. “É um vinho produzido sempre em pequenas quantidades, mas com uma qualidade fora de série”, explica o produtor. Presente em cerca de 15 países, mais de 80% do negócio da empresa é para exportação. “Há 15 anos começámos a exportar e tem sido uma aposta ganha”, salienta Nuno Monteiro de Matos, revelando os principais mercados de destino da marca: Estados Unidos, China, Brasil, Canadá e alguma coisa para a Europa e África.
Com néctares premiados a nível nacional e internacional, os responsáveis da Quinta Monteiro de Matos consideram que os vinhos da região já conquistaram o seu espaço dentro e fora de portas. “Estamos no Tejo superior, que é a melhor parte da região para a actividade vitivinícola, onde se produzem vinhos com concentrações de fruta muito boa e uma qualidade fora de série”, defende Nuno Monteiro de Matos. Uma opinião partilhada pelo presidente da Câmara de Santarém, Ricardo Gonçalves, que assistiu à sessão de abertura das vindimas na Quinta Monteiro de Matos ao lado do presidente da União de Freguesias de São Vicente do Paúl e Vale de Figueira, Ricardo Luís Costa. Para Ricardo Gonçalves, os vinhos do concelho de Santarém lutam “de igual para igual” com os de outros concelhos afamados como o Cartaxo ou Almeirim.