Sociedade | 07-09-2022 15:00

Trabalhar nas férias de Verão para poupar o bolso dos pais

Bernardo Ferreira estuda música na Alemanha e todos os verões regressa para trabalhar

Terminam as aulas e começam a procurar trabalho para ajudar a pagar as proprinas, a carta de condução ou viagens com os amigos. Os jovens continuam a apostar nos trabalhos de Verão e por norma preferem o turismo e hotelaria. Em Vale do Paraíso Bernardo Ferreira e em Santarém, Afonso Simões optaram pelas campanhas da fruta.

Bernardo Ferreira, de 25 anos, cresceu em Vale do Paraíso, uma aldeia do concelho de Azambuja. Para ir em busca do seu sonho, ser músico de orquestra, emigrou para a Alemanha, país onde se encontra a concluir o mestrado. O plano de vida é continuar por lá, mas nos últimos três anos não há Verão em que não regresse à terra de origem para trabalhar na campanha do tomate. Também Afonso Simões, que está no terceiro ano do curso de Medicina, se virou para o trabalho sazonal, neste caso para a apanha da pêra nos pomares dos concelhos de Caldas da Rainha e Santarém.
Os objectivos que levam os jovens a passar o Verão a fazer algo que lhes trará uma compensação financeira são vários, variando entre metas pessoais como a conclusão dos estudos ou tirar a carta de condução, começa por dizer a O MIRANTE Bernardo Alexandre, da Work And Workers, empresa de trabalho temporário sediada na Póvoa de Santa Iria. E realça que é “cada vez mais comum os jovens procurarem emprego fora do horário académico para poder ajudar a própria família enquanto prosseguem com os estudos e sonham com uma carreira futura”.
Apaixonado por música desde que se lembra, gosto que nasceu na Banda da Associação Desportos e Recreio O Paraíso, Bernardo Ferreira põe por estes dias o trombone de lado. Pelo terceiro ano consecutivo conseguiu lugar na classificação do tomate que entra numa empresa de transformação deste fruto, em Azambuja. O processo é repetitivo: dos cerca de 45 camiões – cada um com peso médio de 40 toneladas de tomate – que passam pelo seu posto retira uma amostra de 20 Kg para pesagem e avaliação da qualidade. “Claro que saio cansado, sobretudo psicologicamente, mas venho de uma família de classe média-baixa onde o dinheiro faz falta”, explica o jovem músico, sublinhando que nem ele nem a irmã, que também é estudante universitária e trabalhadora sazonal, querem ser um fardo pesado para as finanças de casa.

Afonso Simões, estudante de Medicina, aproveita a pausa lectiva para juntar dinheiro para viagens
Afonso Simões, estudante de Medicina, aproveita a pausa lectiva para juntar dinheiro para viagens

Assegurar alimentação para oito meses ou viajar com amigos
Trabalha por turnos e com o que ganha em dois meses Bernardo Ferreira consegue alimentar-se durante oito meses na Alemanha, isto se não tiver que andar a viajar de cidade em cidade à procura de provas de orquestra. Ainda assim, o dinheiro que ganha é uma importante ajuda nas despesas, às quais se somam as propinas (500 euros anuais) e as viagens para Portugal. “Sou muito apegado a Vale do Paraíso, às pessoas e às festas. Aqui fazemos festa por tudo e por nada, mas a que não perco é a de Dezembro”, conta, sublinhando que como trabalha no Verão acaba por pedir menos dinheiro aos pais.
Afonso Simões já se começa a habituar ao sol quente. A trabalhar oito horas por dia ao ar livre, pelo segundo ano consecutivo, na apanha da pêra também já se habituou a dar menos horas à cama durante as últimas duas semanas de Agosto e primeira de Setembro. O estudante universitário explica que o objectivo diário é que cada trabalhador apanhe uma tonelada de fruta em oito horas. “É um trabalho fisicamente exigente e que acaba por ser exaustivo mentalmente por ser muito repetitivo. Há alturas do dia em que parece que o tempo não passa, mas no final é sempre compensador”, afirma, acrescentando que quando termina o ofício só pensa em descansar para repor energias para o dia seguinte.
Aos 20 anos, o futuro médico, que aplica o dinheiro que ganha em viagens com os amigos, encara esta experiência de forma positiva: “embora seja uma área completamente diferente daquela em que vou trabalhar no futuro ajuda-me a ganhar responsabilidade, autonomia, a lidar com pessoas muito diferentes e a aprender a trabalhar em equipa e a encontrar estratégias para optimizar o dia de trabalho”. Além disso, complementa, só desde que trabalha, ainda que sazonalmente, passou a perceber “o quanto custa ganhar dinheiro” e a valorizar o trabalho.

Trabalho sazonal valorizado para oportunidades futuras

O CEO Bernardo Alexandre também destaca aspectos positivos dos empregos de Verão. Entende que “um jovem que acabe de se formar e tenha na bagagem diversas experiências em contexto laboral é uma mais-valia para qualquer empresa”. Isto porque “logo à partida revela um conjunto de valores pessoais que cada vez mais são valorizados pelos empregadores e para empresas como a Work And Workers, que recruta milhares de pessoas por ano, é muito mais fácil encontrar-lhe uma oportunidade de trabalho e lançar os candidatos para uma boa carreira”.
Com uma “grande quantidade de jovens” que procuram emprego na pausa lectiva de Verão Bernardo Alexandre destaca que este ano a empresa registou um aumento de 20% na procura comparativamente com o ano passado. “Esta é uma tendência que chegou do Norte da Europa e veio para ficar. Nos países nórdicos é perfeitamente normal vermos jovens estudantes a trabalhar, independentemente dos graus académicos ou estratos sociais, com o único objectivo de se afirmarem e terem a sua própria independência financeira”, conclui.
Apesar de nos últimos anos o número de jovens trabalhadores, entre os 15 e os 24 anos, tenha baixado quando comparado com a década de 90, de acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística, continua a ser no Verão que há mais jovens a trabalhar.

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