Sociedade | 18-10-2022 15:00

A alemã que decidiu ser vegetariana numa aldeia de Ferreira do Zêzere

Sigrid Suder vive em Portugal há 22 anos

Descobriu Portugal há 22 anos e passou pelos distritos de Portalegre e Castelo Branco até se fixar há 14 anos na ponta mais a norte do distrito de Santarém, na aldeia do Bêco, concelho de Ferreira do Zêzere. Foi em Portugal que se dedicou ao vegetarianismo, não por questões de doenças, razões espirituais ou modas, mas apenas por uma opção natural da vida e sem fundamentalismos.

Sigrid Suder, alemã, reside há 22 anos em Portugal e há 14 anos no Bêco, uma aldeia do interior profundo no concelho de Ferreira do Zêzere, onde encontrou o ambiente perfeito para produzir hortícolas de forma ecológica e que constituem a sua alimentação. Vegetariana, chegou a Portugal em 1999 para trabalhar na agricultura, através do WWOOF, uma rede de organizações que promovem o trabalho de voluntariado em quintas ecológicas de todo o mundo, começa por contar a O MIRANTE enquanto prepara o seu pequeno-almoço vegetariano.
Queria ficar só três meses mas acabou por ficar mais tempo, relata Sigrid, que na altura vivia em Bremen. “Tinha um contrato de trabalho que entretanto terminou e queriam que continuasse na empresa, mas gostei tanto de Portugal que decidi que a minha vida iria ter outra direcção”, lembra Sigrid. Cinco dias depois de estar em Portugal já sabia que iria ficar no país, onde conheceu o português que é o pai dos seus três filhos e com quem vive.
A primeira refeição do dia de Sigrid, de 53 anos de idade, é composta por bebida de soja, flocos de aveia, maçã, figos, uvas, nozes e cânhamo. E enquanto toma o pequeno-almoço fala-nos do seu percurso em território português. Primeiro esteve no Alentejo, perto de Portalegre, depois nos arredores de Marvão, a seguir numa pequena aldeia perto de Pedrógão Pequeno, concelho da Sertã, e há 14 anos instalou-se no Bêco.
A alemã escolheu Portugal porque se sentiu bem recebida e por considerar que os portugueses são muito acolhedores. Conta que só uma vez sentiu uma certa agressividade de alguém, por não conseguir falar em português. “Os portugueses apreciam muito a tentativa de um estrangeiro falar a língua. Ajudam muito, com gestos. Nos outros países também acontece, mas senti isso de uma forma mais forte aqui”, realça. Foi em Portugal que decidiu ser vegetariana há 18 anos. Antes também já não comia muita carne nem peixe.
Mudar para o vegetarianismo “não foi uma mudança típica”, até porque, realça, nunca teve qualquer problema de saúde que a levasse a isso e também não foi devido a qualquer motivo espiritual. Por isso classifica a opção pele vegetarianismo como um passo lógico na vida. Há dois anos começou também a experimentar uma dieta “vegan”, sem ser fundamentalista. De vez em quando inclui na sua alimentação alguns produtos de origem animal: “Por uma questão social. Quando os meus filhos fazem qualquer coisa com queijo, por exemplo, também como. Não quero criar discussões”, refere.
Sigrid Suder tem para contar um episódio engraçado sobre a sua influência vegetariana nos filhos: “No primeiro dia de escola da minha filha mais velha, dei-lhe uma cenoura para o lanche. Foi tão gozada, as crianças riram tanto… Foi a primeira e a última vez que ela quis levar uma cenoura para a escola”. É junto à casa onde habita que Sigrid cultiva a grande maioria dos alimentos que consome. Tomate, pimento, cebola, curgete, abóbora, beringela, alho francês, couve, batata, batata-doce, tupinambo, ervas aromáticas…
Uma vez por mês organiza no seu jardim, com duas amigas um mercado de trocas para promover mais laços humanos e reavivar o espírito de entreajuda, com a intenção também de aproximar a comunidade estrangeira da portuguesa. Nesta feira trocam-se, sem dinheiro envolvido, alimentos, sementes, roupas, livros, brinquedos, electrodomésticos e até arte. Alguns artistas locais, portugueses e estrangeiros, têm animado a feira, com música ou teatro. “Infelizmente ainda não participam muitas pessoas da aldeia, pensam que somos hippies, que isto é uma coisa só de estrangeiros, que fazem coisas malucas”, diz Sigrid, que depois de ter ouvido a música Pedra Filosofal gostaria muito de levar à sua feira o Manuel Freire.

Défice de vitamina D pode ser um problema admite Mariana Gameiro
Défice de vitamina D pode ser um problema admite Mariana Gameiro

Quem decide ser vegetariano tem de ter o acompanhamento certo

A nutricionista Mariana Gameiro defende que a dieta vegetariana é benéfica em termos de saúde, mas alerta que é preciso também algum equilíbrio porque o organismo também precisa de outros nutrientes. Por isso, quem optar por esta alimentação deve ter acompanhamento especializado.

Uma dieta vegetariana tem benefícios para a saúde, mas o ser humano precisa de outras proteínas e é mais saudável o consumo de alimentos naturais do que a ingestão de suplementos, o que acontece com quem segue à risca o vegetarianismo. A nutricionista Mariana Gameiro realça que a exclusão dos alimentos de origem animal da alimentação regular pode provocar a falta de nutrientes importantes para o organismo, como a vitamina B12 ou o cálcio, ferro e zinco.
“Na dieta vegetariana, se não houver o acompanhamento certo, pode haver consequências para a saúde”, alerta a nutricionista da Clínica Castro Gomes, em Salvaterra de Magos, chamando também a atenção para alguns malefícios de uma alimentação à base de produtos processados. A ideia que se tem de que as pessoas vegetarianas têm menos doenças relacionadas com a ingestão deste tipo de alimentos tem alguma razão de ser, porque esta dieta à base de leguminosas, hortofrutícolas e frutas tem um efeito muito grande de protecção cardiovascular.
Tanto a dieta vegetariana como a omnívora são bastante ricas e saudáveis, mas muitas vezes o que acontece é que as pessoas não sabem comer as medidas correctas. A dieta mediterrânica, usada em Portugal, é das mais ricas mas na generalidade está-se longe de se aproveitar os benefícios deste tipo de alimentação, sobretudo porque não se faz uma alimentação variada. Cada vez mais se assiste a problemas de saúde associados ao défice de vitamina D, como a anemia, porque as crianças comem cada vez mais snacks e alimentos processados, aponta a profissional.
Ainda que com muitos prós e contras, a dieta vegetariana pode ser seguida por qualquer pessoa de qualquer idade e com qualquer atividade profissional. A dieta vegetariana geralmente é associada a um padrão de consumo alimentar onde se utilizam, predominantemente, os produtos de origem vegetal, ou seja, excluem-se alimentos de origem animal.

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