Jornais regionais foram exemplo no combate à censura
Lançamento de livro de Júlia Leitão de Barros, historiadora e especialista em história dos média no Museu do Neorealismo em Vila Franca de Xira, foi o mote para discutir o ponto de situação sobre a censura no jornalismo. A autora diz que a auto-censura continua a pairar nas redacções.
Salazar e o seu regime desapareceram do mapa há meio século mas ainda há muita auto-censura nas redacções nacionais. A convicção é de Júlia Leitão de Barros, 57 anos, historiadora e especialista em história dos média que apresentou sábado, 15 de Outubro, o seu novo livro no Museu do Neo-Realismo em Vila Franca de Xira, chamado “Censura – A construção de uma arma política do Estado Novo”.
A O MIRANTE, a autora refere que um dos males que assolam as redacções actuais continua a ser a auto-censura. “É a mentalidade do vou mas é estar calado antes que tenha problemas. Os directores, os coordenadores e os chefes de redacção de muitos órgãos de comunicação do nosso país cresceram nessa altura. O medo de sofrerem repercussões se agitarem um bocadinho as águas torna-os incapazes de tecer questões mais fortes e fulcrais”, nota.
Apesar disso, destaca a bravura de quem, contra todos os contratempos, se mantém fiel aos princípios do jornalismo sério e imparcial e que se rebela contra qualquer espécie de censura, como o fizeram e ainda fazem muitos jornais regionais. Na investigação para o seu livro notou que o jornalismo local era muitas vezes o mais legítimo e verosímil no Estado Novo, uma vez que os censores estavam mais interessados em abafar os grandes problemas da capital.
Nessa altura, o jornalismo regional “passava despercebido” trazendo aos leitores todos os factos sobre despedimentos colectivos, acidentes, mortes, doenças, acidentes, assaltos e até fome, que de outra forma teriam sido abafados pelos censores. A proximidade da imprensa regional continua, ainda hoje, a fazer a diferença, noticiando os temas que, de outra forma, não chegariam ao público, consideraram vários dos presentes no debate.
Hoje em dia nos media nacionais “há muitas coisas que impedem os jornalistas de serem totalmente livres de escreverem e dizerem o que querem”, lamenta a autora, considerando que ninguém é verdadeiramente livre de se expressar. “Basta vermos os problemas sociais. Nos cafés todos falam e criticam, mas ninguém ou quase ninguém dá a cara. Voltamos ao que disse sobre a auto-censura e o medo de retaliações: temos os centros de saúde a passar dificuldades por todo o país, os hospitais à beira de um colapso, escolas sem professores, salários baixíssimos e ninguém consegue fazer nada porque todos se queixam em privado, mas publicamente poucos são os que dão a cara”, termina.