Cantar o fado em Alverca é uma forma de expressar emoções
A-do-fado é o espaço onde Rui Pedro partilha o que sabe de fado com os amigos. Um espaço de convívio onde a guitarra portuguesa é a sua fiel companheira na aventura de seguir o sonho que esteve adormecido desde a infância. A O MIRANTE explica o poder do fado como forma de expressar emoções e romper com a barreira linguística.
O fado é uma forma poderosa de expressar emoções e algo muito próprio de cada pessoa, defende Rui Pedro, 59 anos, professor de fado na A-do-fado e na Associação de Reformados, Idosos e Pensionistas de Alverca (ARPIA). Considerado pelos amigos um excelente professor e amigo, Rui Pedro sente-se muito grato e realizado por conseguir proporcionar momentos de partilha e convívio a quem o procura, concretizando aquele que é um velho sonho seu.
Na ARPIA e no espaço A-do-fado, há 10 meses, já tem mais de três dezenas de amigos com quem partilha conhecimentos. Experiência que diz estar a ser muito positiva e gratificante, pois acredita que é importante, principalmente para a população mais idosa, ter oportunidades que lhes façam exercitar a mente e que os tirem algum tempo das suas casas.
Entre as memórias do professor de fado está uma actuação num café em Lisboa perante turistas franceses que mesmo não percebendo a língua se emocionaram com a entrega da fadista. “Ela começou a cantar um fado de Amália Rodrigues com tanta emoção na voz, de fazer chorar as pedras da calçada, que quando olhei para os turistas vi que as senhoras estavam a chorar mesmo sem perceber a letra. Aí percebi o quão poderoso é o nosso fado”, recorda a O MIRANTE.
A música sempre fez parte da sua vida mas de uma forma amadora. Assume que não teve coragem de seguir a sua verdadeira paixão durante mais de quatro décadas, enquanto trabalhou na OGMA em Alverca do Ribatejo. Agora, a gozar da pré-reforma, voltou a ter vontade de seguir a paixão pela música e decidiu que estava na altura de apostar naquilo que realmente gostava de fazer.
Rui Pedro emociona-se quando pensa no quanto gosta de fado. Diz que o que o atrai é não conseguir explicar o fado e a forma como, através dele, se consegue expressar as emoções. A guitarra portuguesa foi o último instrumento que aprendeu a tocar. Tem no seu espaço expostos mais de cinco dezenas de instrumentos diferentes, como violas, guitarras portuguesas, instrumentos de percussão, entre outros.
Alunos que se tornam amigos
Armando Henriques está nas partilhas fadistas com Rui Pedro há seis anos. “Conhecemo-nos por acaso num almoço e naturalmente começamos logo a partilhar a guitarra portuguesa”, conta. Já o presidente da ARPIA, Carlos Sousa, embarcou nas aventuras fadistas depois de ter convidado Rui Pedro a dar aulas na associação. O dirigente andava à procura de uma forma de desanuviar a cabeça e decidiu experimentar. “Partilhamos coisas sérias mas sempre a brincar, convivemos uns com os outros e acho que essa é a melhor parte. Já tive outras experiências com professores mais sérios e não evoluí como aqui. Sou enfermeiro e no dia-a-dia lidamos constantemente com coisas menos boas e o fado ajuda-me a desligar”, conclui.