Pedro Machado trocou as voltas a um destino marcado
Nasceu num lar desfeito pela fome, droga e violência. Graças a muita superação pessoal e ajuda de amigos conseguiu dar a volta por cima e hoje usa a inspiração do sofrimento para criar peças de arte que ajudam associação de defesa animal de Vila Franca de Xira.
A vida de Pedro Machado, 46 anos, tinha tudo para correr mal mas graças a muita superação pessoal conseguiu que o sofrimento que viveu fosse o catalisador para dar a volta por cima. Cresceu com a mãe num cenário degradante, chegando a comer comida estragada e pão com bolor num antro de droga, prostituição e violência. A forma que arranjou para se abstrair de tudo o que o rodeava foi o desenho. “A arte tirava-me da minha tristeza, ainda que repleta de muita inocência, como dizer que o pão com mofo era pão com estrelas e bolas coloridas, para me enganar a mim próprio e comer o que havia”, recorda a O MIRANTE.
Tatuador e artista plástico com ligações a Vialonga, concelho de Vila Franca de Xira, Pedro Machado usa a inspiração das agruras da vida para pintar quadros com os quais ajuda a associação Kausa Animal de Vila Franca de Xira. A primeira exposição foi no salão nobre da Sociedade Recreativa da Granja e o artista promete realizar mais eventos no futuro destinados a acções de beneficência.
Começou por desenhar tudo o que lhe vinha à cabeça mas admite que a pedido dos amigos, na escola, começou a vender desenhos de mulheres nuas como forma de começar a ganhar dinheiro para comprar material escolar e de desenho. Os colegas gozavam-no pela aparência mas reconheciam-lhe talento para o desenho. “Os miúdos são gozados e não sabem resolver as suas brigas e desigualdades sem procurar ser piores do que o outro. Parecem ser cada vez mais agressivos e insensíveis nas coisas que dizem e fazem. Antigamente com duas ou três lambadas já éramos amigos outra vez”, conta.
Durante muitos anos sentiu-se sem rumo o que o levou ao consumo de substâncias que o arrastaram a “estados lastimáveis” na vida, sem que nunca o tivesse entendido. Admite ter consumido todas as substâncias imagináveis. Só alguns amigos e muita força de vontade o fizeram procurar ajuda e endireitar a vida. Quando um amigo saiu da prisão e trouxe com ele uma máquina de tatuar artesanal e pediu a Pedro Machado que lhe fizesse uma tatuagem tudo começou a mudar. Largou a droga, fez formação em tatuagem e mais tarde abriu o seu próprio salão na zona de Lisboa, e clientes não lhe faltam. Hoje é pai e tenta dar ao filho as condições que nunca teve.
“Meti tudo em cima da mesa e percebi que aquela criança não podia passar pelo mesmo. Faço tudo para o evitar, explicando-lhe tudo, dando-lhe amor, atenção e acima de tudo liberdade para ser e fazer tudo o que merecer na vida”, confessa Pedro Machado.
“Os animais são seres puros, sem maldade”
Há alguns meses o artista conheceu a associação Kausa Animal de Portugal, sediada em Vila Franca de Xira. A sua paixão pelos animais fez com que a conversa o levasse a contactar directamente a direcção da associação, colocando-se à disposição para vender as suas obras surrealistas em prol dos animais recolhidos pela associação. “Os animais são seres puros, sem maldade e o amor que lhes damos é-nos sempre retribuído. Estes animais de rua têm uma segunda oportunidade de encontrar uma casa que os ame e os trate bem”, defende. O artista considera a sociedade actual fútil, onde só interessa o imediato, virtual e o desejo de consumo. “Vejo cada vez mais pessoas que vivem agarradas aos telemóveis e aos computadores, já não convivem. É o tema em muitas das minhas obras. A obsessão pelo dinheiro, pela fama, pelo reconhecimento dos outros, pelas realidades construídas em cima de mentiras online”, diz o artista que não tem presença online. “Só sabe da minha vida quem realmente se preocupa em me procurar”, conclui.