Catequista confessa ter abusado sexualmente de uma menina na Igreja de Samora Correia
Marco Ferreira reconheceu ter abusado sexualmente de criança com perturbações mentais no interior da Igreja de Nossa Senhora da Oliveira. Está em prisão domiciliária e proibido de contactar com menores. O padre acusado de não ter dado crédito à denúncia não vai ser julgado e já regressou à paróquia.
Marco Ferreira, acólito e catequista na paróquia de Samora Correia, concelho de Benavente, confessou, em interrogatório judicial, ter abusado sexualmente de uma menina de 12 anos que sofre de perturbações mentais. O caso remonta aos anos de 2020 e 2021 e vai ser julgado no Tribunal Judicial de Santarém que decidiu, a 26 de Outubro, que até ao término do julgamento o arguido fica proibido de contactar, por qualquer meio, com menores de idade e obrigado a permanecer na sua habitação com recurso a vigilância electrónica.
O arguido sujeitou a vítima ao primeiro abuso sexual na altura em que lhe dava catequese, aproveitando-se do facto de poderem estar a sós no interior da Igreja de Nossa Senhora da Oliveira. No Verão do ano seguinte, altura em que ambos desempenhavam as funções de acólitos durante as missas na mesma igreja, Marco Ferreira atacou novamente a criança. Despiu-a, tocou-lhe nas partes íntimas e, acredita o Ministério Público (MP), só não prosseguiu com o abuso porque outros acólitos entraram na igreja. No mesmo ano, uma outra criança, que foi ouvida para memória futura, alega ter sido vítima do mesmo crime.
O primeiro abuso sexual foi reportado pela criança aos seus pais, tendo estes partilhado as queixas com o padre responsável por aquela paróquia, que não deu crédito à denúncia. Heliodoro Nuno, que é padrinho de crisma do abusador, foi acusado pelo MP de omissão de abusos sexuais mas o tribunal decidiu não o levar a julgamento por falta de indícios e de “nenhuma vontade de encobrimento ou de menosprezar os factos e as situações”. No entanto, admite que “foi subestimado o risco futuro de tal voltar a acontecer”, revelou a O MIRANTE a Arquidiocese de Évora.
A actuação do pároco foi também apresentada pela Arquidiocese de Évora ao competente Dicastério, que declarou que “não se encontram elementos que configurem um delito canónico” por parte do sacerdote, que “não agiu de modo doloso”; quando muito “pode ter sido imprudente por não ter agido de modo mais incisivo”, afirma a mesma entidade em resposta às questões colocadas.
Padre que teve conhecimento dos abusos regressou à paróquia
Em consonância com ambas as decisões, civil e canónica, esclarece a Arquidiocese de Évora, o padre Heliodoro Nuno retomou o exercício normal de todas as tarefas pastorais, de que tinha sido preventivamente afastado para permitir todas as averiguações, “com as quais colaborou sempre com a máxima disponibilidade”.
Num comunicado que tornou público após ser questionada por O MIRANTE, a Arquidiocese de Évora pediu, “com máxima dor, desculpa às vítimas, às suas famílias, às comunidades e a Deus” por não ter “evitado que estes abusos tivessem acontecido”. A mesma entidade sublinhou ainda que continuará em contacto com as famílias envolvidas para dar todo o apoio que seja necessário e vinca que Marco Ferreira “está definitivamente afastado de qualquer tarefa paroquial”.
A Arquidiocese de Évora criou, em 2019, uma comissão de protecção e segurança de menores, que tem como missão prevenir situações de abuso sexual, através de “eficiente formação” junto dos sacerdotes, do diaconado permanente, dos diversos carismas religiosos, bem como dos catequistas e todos os que trabalham na formação e acompanhamento de menores.
Este caso, refere ainda a Arquidiocese de Évora, vem consolidar “o desejo de querer aprender a agir melhor” e que juntamente com a Comissão Arquidiocesana de Protecção e Segurança de Menores continuará a “trabalhar na prevenção e cuidado dos menores e das pessoas vulneráveis nas suas comunidades, instituições e associações”.