Sociedade | 23-11-2022 10:00

Sandro Feliciano cumpre o sonho de ser actor

Sandro Feliciano cumpre o sonho de ser actor
Sandro Feliciano é da Póvoa de Santa Iria e confessa-se um jovem brincalhão e descontraído

Tem 16 anos mas já teve a rara oportunidade de pisar o palco do Teatro Nacional Dona Maria II, em Lisboa, numa peça que esgotou durante quatro semanas.

Vai agora em digressão nacional e internacional. Filho adoptivo de um ex-presidente do Grémio Povoense, Sandro Feliciano deu os primeiros passos no teatro ainda criança, nessa colectividade da Póvoa de Santa Iria.

Há actores profissionais que durante toda a vida não conseguem meter um pé no palco do Teatro Nacional Dona Maria II, em Lisboa, mas Sandro Feliciano, da Póvoa de Santa Iria, conseguiu cumprir esse sonho aos 16 anos. Uma oportunidade de luxo que não aparece com frequência, admite. Durante quatro semanas de lotação esgotada, em Outubro, foi um dos protagonistas da nova peça de Pedro Penim, “Casa Portuguesa”, partilhando palco com Carla Maciel e João Lagarto. O ainda estudante de teatro na Escola Profissional de Teatro de Cascais foi chamado ao casting e ficou, preparando-se agora para a digressão nacional da peça e a internacional, que vai para a estrada entre 2023 e 2024.
Sandro Feliciano é da Póvoa de Santa Iria e filho adoptivo de Jorge Feliciano, ex-presidente do Grémio Dramático Povoense. Ainda hoje vive na Póvoa e vai para as aulas em Cascais de transportes públicos. Confessa-se um adolescente como todos os outros, que gosta da zona ribeirinha da cidade onde costuma correr. Estudou na Escola Aristides Sousa Mendes e na Dom Martinho. Confessa-se um bom prato e adora “comida de camionista”: feijoadas, cozido à portuguesa ou bacalhau com grão.
O gosto pelo teatro começou em casa desde cedo. “Quando tinha 8 anos o meu pai tornou-se presidente do Grémio e um ano depois, quando foi criada a actividade de aulas de teatro para crianças, ele perguntou-me se queria experimentar. Sempre fui uma pessoa muito activa e decidi ir”, recorda a O MIRANTE. Quase todas as semanas ia ao teatro com os pais e o gosto pelas artes foi-se cimentando. Diz-se um jovem afectado pelo stress quando chega a última semana de ensaios mas que durante as peças é descontraído.
“O público ajuda muito. No Teatro Nacional quase não o conseguimos ver, com as luzes e a distância a que o público está. Mas tanto no Grémio como na escola de Cascais o público está muito próximo de nós. Eu gosto desse contacto de proximidade”, conta. Sandro Feliciano diz que o teatro permite um contacto que a televisão impede com a barreira do ecrã. “O que estamos a ver está a acontecer à nossa frente”, defende.
Gosta de dramaturgia e história do teatro e já teve de ler bastantes autores, sobretudo Jean Poquelin (Molière), Shakespeare ou Jean Racine. “Fico sempre muito fascinado com o Dona Maria II. Os teatros e as igrejas são os edifícios mais bonitos que temos. Vou aproveitar a digressão da peça para conhecer mais teatros”, conta. Para o jovem actor, cuja maturidade acima da idade é uma característica reconhecida pelos seus pares, o público é implacável. “Num dia podemos ter o público a dizer que a peça é fantástica e noutro a dizer que não gostou nada. O público está no seu direito. Paga para ver uma peça e espera ter prazer no que está a ver”, defende.

Adoptado aos dois anos
Sandro Feliciano foi adoptado aos dois anos por Jorge Feliciano e a mulher que quando meteram o processo na Segurança Social não colocaram qualquer imposição de raça, idade ou sexo na criança a adoptar. “Esperámos alguns anos e apareceu o Sandro. A melhor maneira de sair a pessoa certa foi não colocar qualquer imposição”, recorda o pai, Jorge Feliciano. Já Sandro garante nunca ter sentido qualquer desconforto com a situação e diz não conhecer os pais biológicos. “Há uma estranheza inicial porque sou negro e os meus pais são brancos, isso é natural, mas sempre houve empatia e nunca senti nenhuns preconceitos”, diz o jovem que, garante, não se vê hoje noutra família. “Estes são os meus pais. Deram-me tudo o que precisava, incluindo educação e cultura”, confessa.
O pai, Jorge Feliciano, diz ter visto as 18 sessões da peça em Lisboa e Sandro garante que isso não o deixa nervoso. Beatriz Batarda, Albano Jerónimo ou Miguel Borges são alguns dos seus actores favoritos. Daqui a uma década gostava de participar numa produção teatral em Inglaterra, França ou Alemanha. Gostava de ter mais tempo para aparecer e ver peças dos grupos do concelho e fica feliz por existir o prémio de teatro Mário Rui Gonçalves, instituído pela Câmara de Vila Franca de Xira.
“Gostava de ver o Grémio com um auditório novo. Embora uma sala maior não signifique melhor qualidade teatral. Acima de tudo as câmaras e as instituições devem elas próprias tentar investir numa evolução teatral, promover eventos, e por vezes não é fácil porque é tudo muito à base do teatro amador”, considera.

Reflexão sobre o que é a casa portuguesa

“Casa Portuguesa” conta a história ficcionada de um ex-soldado da guerra colonial que ao falar com os seus fantasmas se vê confrontado com a decadência e a transformação do ideal de casa, família e país. É uma peça sobre o que poderá ser a família patriarcal tendo como pano de fundo os acontecimentos recentes da democracia portuguesa. “É uma reflexão sobre o que é a nova casa portuguesa”, conta Sandro Feliciano. A peça foi o espectáculo de abertura da nova temporada do teatro nacional.

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