Historiadores dizem em VFX que 25 de Novembro não foi uma contra-revolução

Debater o 25 de Novembro num concelho como Vila Franca de Xira, com fortes raízes históricas ligadas ao PCP, tinha tudo para causar faísca mas afinal o debate no Museu do Neo-Realismo foi como o povo: calmo e sereno.
O auditório do Museu do Neo-Realismo não foi suficiente para sentar todos aqueles que no dia 25 de Novembro se deslocaram a Vila Franca de Xira para ouvir o historiador e político Fernando Rosas e o político José Pacheco Pereira falarem sobre aquela data marcante na história do país no pós-25 de Abril de 1974.
Para o historiador Fernando Rosas não houve grandes dúvidas: não houve contra-revolução. “É incomparável e impensável que se faça tal comparação. Estou aberto a debater o 25 de Novembro, não da forma como a direita o tem vindo a instrumentalizar politicamente, mas sim estudá-lo do ponto de vista da história e dos acontecimentos. Foi sim uma contenção pactuada do processo revolucionário”, comentou.
Durante cerca de três horas falou-se sobre o que levou ao insucesso do movimento, as causas e consequências do 25 de Abril que levaram ao 25 de Novembro, o papel do Partido Comunista Português, a liberdade e as primeiras eleições. “Um jovem contou-me que o pai era fazendeiro no terreno de um famoso escritor da altura, apoiante do Estado Novo, e que este exigia que todos os seus empregados se curvassem e o reverenciassem a todas as ocasiões. E depois o jovem diz-me, ‘sabe uma coisa professor, depois foi o meu pai que era reverenciado pelo escritor, porque o meu pai virou presidente da câmara”, recordou Fernando Rosas.
Durante o debate falou-se centralmente do PCP mas os oradores concordam que do 25 de Novembro saíram diversos derrotados, com diferentes factores responsáveis. Algumas das consequências foram, como explica José Pacheco Pereira, o desaparecimento do Movimento das Forças Armadas enquanto movimento independente, a maioria das forças políticas à esquerda viram o seu fim espelhado no resultado negativo do movimento e a aprovação da Constituição, em período conturbado, foi mais uma consequência e um pacto de contenção entre forças opostas.
Mais do que a saída de Tancos dos pára-quedistas a 25 de Novembro, mais do que os tanques do 25 de Abril que por serem da segunda guerra mundial já nem estavam aptos a disparar, os oradores percebem que ambos os acontecimentos foram “centrados em Lisboa”, explica José Pacheco Pereira. Contra-revolução para uns, propaganda política para outros, a verdade é que a data continua a marcar e a dividir o calendário político nacional e a ser alvo de curiosidade colectiva.