Hospital de Vila Franca de Xira perdeu o rasto a doente que estava internado
Utente com desorientação saiu do piso 3 do Hospital de Vila Franca de Xira, onde estava internado, e andou perdido pela cidade descalço sem que ninguém desse por nada.
Familiares consideram a situação grave e surreal e exigem um pedido de desculpas que a administração de Carlos Andrade Costa tarda em dar.
O Hospital de Vila Franca de Xira perdeu o rasto a um doente de 95 anos que estava internado no terceiro piso da unidade e que foi encontrado por populares a vaguear na rua junto ao Lidl descalço e com a roupa do hospital. A situação deixou revoltados os familiares que estão agora numa luta para conseguirem um pedido de desculpas público por parte da administração, liderada por Carlos Andrade Costa, o que ainda não aconteceu.
O caso remonta a Fevereiro deste ano quando Casimiro Pereira, de Samora Correia, deu entrada nas urgências transportado pelos bombeiros depois de ter caído em casa e estar a sofrer de desorientação. Depois da triagem e ao fim de várias horas à espera, o utente acabou por ficar internado na unidade de saúde. Para espanto dos familiares, a 28 de Fevereiro o neto, Edgar Correia, recebeu um telefonema do médico que acompanhava o doente relatando que este saíra do hospital pelo próprio pé e que tinha sido encontrado junto a um supermercado - a quase um quilómetro de distância - usando apenas a roupa hospitalar e caminhando descalço.
Os familiares ficaram incrédulos por se tratar de um doente com 95 anos, num piso elevado do edifício e, para mais, num espaço afecto à Covid-19 que até deveria ter um maior controlo na circulação. Edgar Correia enviou uma primeira reclamação sobre o assunto para a administração do hospital logo que o desaparecimento do avô aconteceu. Foi aberto um inquérito interno para apurar o que aconteceu mas acabou arquivado pelo hospital.
Hospital rejeita culpas
Em Novembro, o departamento jurídico do hospital informou os familiares dizendo que não foi possível estabelecer uma “relação casual inequívoca” entre este evento e o desfecho da situação. “Não é possível imputar responsabilidades individuais pelo sucedido (…) por não se verificar a existência de indícios da prática de qualquer infracção disciplinar ou presença de um ilícito praticado ou decorrente da actuação dos profissionais de saúde”, refere o hospital.
Os familiares não se conformam e prometem recorrer à justiça. “Não queremos dinheiro nem indemnizações, queremos apenas que o hospital se retrate. É um serviço pago por todos nós e se não denunciarmos estas situações as coisas permanecem sempre iguais. Isto não foi uma situação menor. Foi extremamente grave. O meu avô podia ter caído, sido atropelado ou até mesmo desaparecido”, critica Edgar Correia a O MIRANTE. A família também escreveu ao Ministério da Saúde e ao Presidente da República expondo o caso e pedindo medidas que evitem que volte a acontecer no futuro mas não obteve resposta.
“O hospital tem vindo a decair na qualidade do serviço que presta desde que a gestão é pública. Na antiga gestão privada isto nunca aconteceria. Há muita passividade do Governo e do Ministério da Saúde que permitem que estas situações aconteçam”, critica Edgar Correia.
Questionado por O MIRANTE, o hospital confirma o arquivamento do inquérito e diz terem sido cumpridos todos os protocolos de percurso de informação do Gabinete de Cidadão. “Assim que o conselho de administração teve conhecimento da situação, que obviamente lamenta, de imediato deliberou pela abertura de um inquérito interno”, explica. O hospital diz ainda que foi entretanto diligenciado o reforço dos protocolos de segurança e reforçada a informação sobre a abordagem e manutenção das portas de evacuação com alarme junto dos profissionais do hospital.
À Margem/Opinião
Uma tragédia anunciada
Desde que o Hospital de Vila Franca de Xira passou para gestão pública o número de más notícias não tem parado de aumentar. O MIRANTE tem dado nota de vários casos nos últimos meses que não dão uma boa imagem da gestão da unidade. Até quando o Ministério da Saúde vai arrastar uma solução para este hospital e quanto mais tempo tem de passar até que perceba que cometeu um erro de casting ao escolher esta administração para liderar um hospital que era de excelência e hoje é notícia por perder o rasto a um doente que estava ao seu cuidado? O que aconteceu é grave, podia ter tido um desfecho dramático e merece ser escrutinado até ao último pormenor. O caso levanta a dúvida: quantas mais situações estarão a acontecer dentro daquele hospital de que ninguém fala com medo de represálias ou de vir a ser mal tratado? O MIRANTE tem linha aberta para estas situações e garante confidencialidade no relato a quem se sentir sem voz dentro do hospital.