Rute Luz salva sete crianças de apartamento em chamas no Forte da Casa

Em poucos minutos uma brincadeira de crianças com fósforos pegou fogo ao apartamento de uma família do Forte da Casa. Valeu a intervenção rápida de uma cabeleireira e ex-bombeira que vendo o que se passava acudiu aos pedidos de socorro.
A poucos dias do Natal um incêndio num apartamento no Forte da Casa, concelho de Vila Franca de Xira, destruiu boa parte dos pertences de um casal com sete filhos - com idades entre os três meses e os nove anos - e graças à intervenção de uma ex-bombeira da vila a desgraça não ganhou maiores proporções. Rute Luz conseguiu refrear o fogo e mandou evacuar o prédio antes da chegada dos bombeiros.
Em poucos minutos a família de Victória António, 43 anos, desempregada, perdeu tudo o que tinha nos dois quartos da habitação e viu o apartamento ficar bastante afectado pelas chamas e o fumo. Apesar dos estragos a família - que já vive no apartamento da Praceta Primeiro de Maio há quatro anos - conseguiu continuar a ocupar o espaço e não precisou de realojamento. Estão por agora a viver temporariamente na sala e num quarto da habitação que não foram afectados pelas chamas enquanto reparam os danos.
O acidente aconteceu quando Victória António saiu para tomar a vacina da Covid-19 e deixou os menores ao cuidado da prima, Natasha Silva. A mulher garante a O MIRANTE que estava a vigiar as crianças, umas a brincar no quarto e outras a ver televisão na sala. De repente ouviu gritos e quando chegou ao quarto já só viu os cortinados em chamas. “Ouvi gritos mas não senti cheiro nenhum nem fumo. Foi tudo muito rápido. Pensamos que tenham estado a brincar com fósforos e esconderam um sapato a arder em vez de me terem chamado”, lamenta. Foi nesse instante que pediu socorro.
“Não me considero uma heroína”
Rute Luz tem 34 anos, vive no Forte da Casa há seis anos, é cabeleireira e esteticista e tem uma loja a poucos metros de distância do apartamento afectado pelas chamas. Foi bombeira da corporação da Póvoa de Santa Iria e quando soube do incêndio não pensou duas vezes: saiu da loja e acudiu aos pedidos de socorro. “Entrei no prédio e vi os miúdos sozinhos encostados a uma parede, a chorar e a falar do fogo. Estavam em pânico. Só tive tempo de fechar as portas dos quartos para impedir que o fogo alastrasse e foi quando as janelas rebentaram”, recorda a O MIRANTE.
A ex-bombeira lembra que apesar das chamas não havia muito fumo dentro de casa e que isso lhe permitiu ir à cozinha desligar o gás e tirar a botija para o exterior. “Depois mandei toda a gente sair do prédio e pedi a uma vizinha para desligar o fogão, cortar o gás e mandar a electricidade abaixo. Foi tudo numa questão de minutos. Entretanto chegaram os bombeiros da Póvoa e eles foram directamente ao sítio e combateram o fogo. A minha primeira reacção foi ajudar”, recorda.
Os bombeiros não têm dúvidas: se Rute Luz não tivesse entrado no apartamento e fechado as portas dos quartos o fogo poderia ter alastrado ao prédio e o caso sido ainda mais grave. “Não me considero uma heroína. Temos de ajudar quem precisa e de pensar que hoje são eles e amanhã podemos ser nós”, defende. No mesmo dia, à noite, foi à casa da família doar roupas. “Tenho duas crianças e percebi que eles perderam tudo. O mundo é melhor se nos ajudarmos uns aos outros”, conclui. A família agradece toda a ajuda que a comunidade possa dar, em especial tintas para reparar os quartos, camas, colchões e roupa.