Falta de bombeiros nos Sapadores leva Voluntários de Santarém à exaustão

Voluntários de Santarém passaram de uma resposta a 70 ocorrências mensais de serviço pré-hospitalar para 400.
Há bombeiros sem tempo para dormir e um aumento de custos está a abrir um buraco nas contas da associação. Bombeiros Sapadores não recebem novos elementos há uma década e vêem-se obrigados a recusar saídas para prestar socorro por falta de efectivos.
A falta de efectivos nos Sapadores Bombeiros de Santarém, tutelados pelo município, está a obrigar os Bombeiros Voluntários de Santarém (BVS) a responder a um número de ocorrências diárias muito superior ao que era habitual. A situação está a levar os operacionais à exaustão e representa custos acrescidos para a associação humanitária que está com um défice mensal na casa dos quatro mil euros.
Há elementos dos BVS a fazer 13 ocorrências por noite, o que obriga a que estejam acordados 24 sobre 24 horas, e a frota de ambulâncias de transporte de doentes não urgentes teve que ser transformada em ambulâncias de socorro, o que acarretou um investimento significativo e desequilibrou as contas, juntamente com o aumento do combustível gasto num mês que, devido ao aumento de ocorrências, passou de dois para cinco mil euros. “Estamos numa situação de desgaste físico. Passamos a ter bombeiros voluntários acordados 24 sobre 24 horas e passamos a ter bombeiros profissionais a dormir”, diz o comandante dos Voluntários de Santarém, Rui Carvalho, que lidera actualmente 80 homens e mulheres, dos quais 20 são profissionais.
“Desde Março que passamos a assegurar todo o serviço de emergência que tem vindo a cair no concelho e não só. Fazíamos em média entre 70 a 80 serviços [mensais], em Agosto fizemos 390, em Setembro 415 e em Outubro cerca de 400”, diz a O MIRANTE o presidente da direcção da Associação Humanitária dos Voluntários de Santarém, Diamantino Duarte, lembrando que os Sapadores de Santarém é que são posto INEM, recebendo além do pagamento pelo serviço prestado um montante fixo na ordem dos 4.500 euros mensais resultante do protocolo com o instituto.
Diamantino Duarte refere que já abordou a Câmara de Santarém com a intenção de perceber se é para manter o posto INEM nos Sapadores ou se há disponibilidade para o passar para os Voluntários de Santarém, já que, defende, é esta corporação quem tem assegurado o socorro pré-hospitalar à população. Uma hipótese que não agrada ao comandante dos Sapadores de Santarém, Carlos Grazina, que entende que a continuar a haver apenas um posto de INEM no concelho deve estar com “uma corporação profissional”. No entanto, ressalva, o que faria sentido era os Voluntários de Santarém serem também um posto INEM para complementar o serviço pré-hospitalar.
Número de efectivos nos Sapadores abaixo do regulamentado
Reconhecendo que a falta de efectivos - problema que diz ser transversal a todo o país - “não permite dar resposta a todas as solicitações”, Carlos Grazina salienta que já não entram novos bombeiros nos Sapadores municipais desde 2012. “Já nessa altura havia falta de efectivos para as ocorrências. Actualmente temos 32 operacionais, o que se revela curto para as necessidades que existem em Santarém”, afirma, explicando que asseguram diariamente a tripulação (cinco operacionais) para um Veículo Urbano de Combate a Incêndios e que para conseguirem ter ambulâncias a sair estão “dependentes das disponibilidades dos operacionais”.
O regulamento dos Sapadores de Santarém estabelece que o corpo activo deve ter 80 elementos, número que está longe de ser cumprido e que não deverá ser uma realidade nos próximos tempos, até porque, decorre há mais de um ano um concurso para a contratação de mais dez elementos que parece não ter fim à vista. Em Julho deste ano, recorde-se, Ricardo Gonçalves, presidente da Câmara de Santarém - entidade que tutela a corporação - afirmou que não havia condições financeiras para preencher o quadro previsto.
Fusão das corporações é tema fracturante
Diamantino Duarte diz que já reuniu com os sócios da associação humanitária e solicitou uma reunião com o executivo camarário para que possa ser encontrada uma solução que salve os Voluntários da exaustão e do passivo que têm somado ao longo dos meses. “Há injustiças, porque sendo a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Santarém responsável por cerca de 80% dos serviços de emergência, a câmara não pode comparticipar esta associação com o mesmo valor que comparticipa quem faz só 10 ou 15%. Se calhar temos que rever a forma como o socorro é prestado”, defende.
Questionado por O MIRANTE sobre se a fusão das duas corporações que tem vindo a ser discutida seria uma boa solução, o presidente dos Voluntários de Santarém admite ser “uma das hipóteses” que deve ser posta em cima da mesa. “Mas há outras”, ressalva. Depois atira: “Não nos podemos esquecer que existem três corporações de bombeiros voluntários no concelho e uma de sapadores. O custo dos sapadores é de cerca de 1 milhão e 400 anuais e aquilo que a câmara transfere para as outras três corporações andará na casa dos 300 mil euros por todas. Portanto há que rever esta situação”.
Em resposta à mesma pergunta Carlos Grazina opta por dar uma resposta mais evasiva afirmando que se trata de uma “questão política” que “já se tentou noutros locais e não funcionou” até porque, acrescentou, “as instituições devem ser respeitadas quanto à sua fundação e trabalho desenvolvido”.