Sociedade | 04-01-2023 18:00

A vendedora de castanhas da Póvoa de Santa Iria não deixa morrer a tradição

A vendedora de castanhas da Póvoa de Santa Iria não deixa morrer a tradição
Raquel Piedade sonha um dia ter um quiosque de venda na cidade

Raquel Piedade vende castanhas na Póvoa de Santa Iria há mais de duas décadas. É uma mulher lutadora que não vira a cara ao trabalho e já fez de tudo um pouco na vida. Diz que a venda das castanhas é sobretudo uma tentativa de manter uma tradição nacional.

Raquel Piedade, 41 anos, define como uma arte a tarefa de assar castanhas e de as vender à porta do centro comercial Serra Nova, na Póvoa de Santa Iria. Natural da cidade, é um rosto conhecido da comunidade mas poucos sabem que atrás do sorriso fácil está uma mulher que não vira a cara ao trabalho e já fez de tudo um pouco na vida. Passou pelas limpezas, esteve no ramo da hotelaria, vendeu farturas, passou por armazéns, vendeu fritos de Natal e agora complementa a venda de castanhas com um trabalho numa empresa de reposição de produtos em máquinas de vending.
Entrou na venda de castanhas há duas décadas com o antigo companheiro, que já as vendia. Ainda pensou ser cabeleireira quando era nova mas o sonho não se concretizou. A burocracia necessária para se poder ser vendedor duplicou e Raquel Piedade foi forçada a abandonar o assador de barro e as folhas de lista telefónica para desgosto de muitos clientes, conta. “As pessoas ainda pedem o canudo de folha de lista telefónica e vejo que algumas delas ficam um pouco desiludidas quando percebem que têm de levar as castanhas nestes pacotinhos de papel”, confessa a O MIRANTE.
A inflação e a pandemia foram dois factores que fizeram com que a comerciante temesse pelo negócio, com dias em que não conseguia vender mais do que duas dúzias de castanhas de um saco de 20 quilos, que lhe custa mais de 100 euros. Já investiu perto de mil euros no carrinho onde assa as castanhas, a que acrescem os gastos com o carvão e castanhas. “É difícil pedir três euros a um cliente por uma dúzia de castanhas. A economia está em baixo e admito que me sinto mal em relação isso, mas é o preço delas”, lamenta.

Nunca desistir
Dedicada e destemida Raquel Piedade não se importa de arriscar em novos modelos de negócio, mesmo tendo tido experiências menos positivas no passado. Actualmente, além das castanhas tem uma pequena loja online de roupa e acessórios e lançou recentemente um negócio de gomas que a surpreendeu pela positiva. Em menos de uma semana esgotou todo o stock que tinha.
A superação e a persistência na luta em prol da família valeram à comerciante a oportunidade de ter sido escolhida para participar num programa de televisão onde pôde mudar a sua imagem estética, acabar com a boca em mau estado que tinha e ficar com um novo sorriso graças a uma intervenção cirúrgica gratuita. “Mudou a minha vida, foi como se tivesse ganho o Euromilhões. Recuperei a confiança e hoje sou feliz”, conclui.
Com a ajuda da presidente da União de Freguesias da Póvoa de Santa Iria e Forte da Casa, Ana Cristina Pereira, a comerciante tem conseguido marcar presença em vários eventos da junta como o Mercado Quinhentista e o Mercado de Natal. “Portugal tem uma história de imensa riqueza cultural. Não vou permitir que a venda das castanhas desapareça. Luto por isso todos os dias e tenho ainda outros projectos que pretendo concretizar, para o bem da nossa cultura e história”, afirma. Nessa luta Raquel Piedade pretende, já no Verão de 2023 regressar às ruas com um carro de gelados “como antigamente”. Para além destes negócios sazonais a comerciante confessa sonhar ter um quiosque na Póvoa onde pudesse vender um pouco de tudo.

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