Associação de Salvaterra de Magos ajuda sem pedir nada em troca

Associação “Há de Haver” foi fundada em 2022 por um grupo de voluntários que sente necessidade de ajudar o outro e contribuir para melhorar a sua qualidade de vida. No último fim-de-semana estiveram em Salvaterra de Magos e Muge para doar cerca de 500 peças de roupa a perto de uma centena de pessoas.
A Associação “Há de Haver” organizou a iniciativa “Estendal Solidário”, no domingo, 8 de Janeiro, no Celeiro da Vala, em Salvaterra de Magos, e no Mercado de Muge. O objectivo foi entregar roupas quentes e calçado para enfrentar o frio do Inverno. Ao todo foram doadas cerca de 500 peças a mais de 80 pessoas. O presidente da associação, Ricardo Cipriano, falou com O MIRANTE e não escondeu o orgulho pelo sucesso da iniciativa. Acompanhado por Pedro Viegas, membro da associação, revelou que a procura surpreendeu. A “Há de Haver” foi fundada Maio de 2022, mas o grupo de voluntários já se juntava desde 2020 para ajudar a atenuar os efeitos negativos da Covid-19 nas famílias de Salvaterra de Magos.
Nessa altura, Ricardo Cipriano foi forçado a deixar o trabalho no CRIB (Centro de Recuperação Infantil De Benavente) e ficou em casa durante meses. O apoio às compras e a doação de bens essenciais prolongaram-se por semanas porque o grupo percebeu que as pessoas com contratos de trabalho precários ou inexistentes ficaram desprotegidas. Alguns exemplos continuam na memória do presidente; “uma situação que me chocou foi entrar numa casa de uma senhora que vivia sozinha com o filho bebé e perceber que não tinha nada para comer”, revela.
Questionado sobre a vergonha que muitas vezes surge associada a quem pede ou recebe ajuda, o presidente foi claro: “as pessoas que realmente estão muito necessitadas não falam, têm vergonha, porque antes da pandemia, eram pessoas que tinham vidas normais e de repente caíram em situações complicadas. As necessidades são detectadas, por exemplo, nas creches, com atrasos nos pagamentos ou chegam até nós através dos vizinhos”, esclarece.
A voluntária mais velha que já colaborou com a associação foi uma senhora reformada, na casa dos 70 anos, que auxiliou os trabalhos de cozinha num evento solidário de fado. Os jovens também ajudam, como foi o caso de um casal ucraniano e da sua filha de 10 anos. “Ajudaram a traduzir palavras para enviar bens para a Ucrânia. Mais tarde chegou-nos uma comunicação via Telegram de um militar das forças de Kiev a dizer que as coisas chegaram”, conta. Actualmente com mais de cinco mil seguidores nas redes sociais, a “Há de Haver” é, nas palavras do presidente, uma associação com credibilidade devido ao trabalho que tem desenvolvido junto da comunidade.
Ajudar quem mais precisa
No Mercado de Muge apareceram cerca duas dezenas de homens, de nacionalidade indiana, que trabalham nos campos da lezíria e que levaram quase toda a roupa de homem. Contente pela visita, o presidente diz que “são pessoas que, muitas vezes, não vivem em condições ideais”. Susana, Carla e Sofia receberam a repórter de O MIRANTE e introduziram a conversa curta com algumas das pessoas que foram pedir ajuda. As barreiras linguísticas não facilitaram o trabalho, no entanto, Kamal, de 47 anos, num português tímido, revelou que já vive há sete anos no concelho de Salvaterra de Magos e que a maior parte dos seus amigos e colegas de trabalho chegaram no decorrer do ano de 2022 à procura de melhores condições e de um rumo para as suas vidas.

Orgulho em ser voluntário
Pedro Viegas, tem 37 anos, é de Salvaterra de Magos e descobriu a associação “Há de Haver” através das redes sociais. Quando o presidente lhe pediu ajuda não hesitou e juntou-se à causa, em Março de 2022, como voluntário. A primeira iniciativa aberta ao público em que participou foi um festival solidário de fim de Verão em que ocupou a função de porteiro. Não demorou muito até que, em Novembro do mesmo ano, integrasse formalmente os órgãos sociais da “Há de Haver” para se juntar a mais 10 pessoas. É membro assíduo nas “Sextas-feiras Solidárias”, outra iniciativa da associação. “Temos de nos ajudar uns aos outros, só assim sabemos viver em sociedade; cresci nesse ideal”, vinca.