Picante na comida não ajuda na luta contra o excesso de peso nem é afrodisíaco

O MIRANTE falou com a nutricionista Mariana Gameiro a propósito do Dia da Comida Picante, que se assinala a 16 de Janeiro.
A especialista garante que picante na comida não ajuda a perder peso se não houver uma alimentação saudável e algum exercício físico. O picante aumenta a temperatura corporal mas só é afrodisíaco se for acompanhado de outros condimentos como uma boa companhia e um ambiente estimulante.
Um dos mitos associado ao picante que se coloca na comida é que por ser termogénico aumenta o metabolismo e leva à perda de peso. A nutricionista Mariana Gameiro explica a O MIRANTE que o picante tem a capacidade de aumentar a temperatura corporal, acelera o metabolismo mas a perda de peso é mínima. “Quem quer emagrecer não vai consegui-lo só colocando picante na comida. A base de tudo é ter uma alimentação saudável”, refere a nutricionista que trabalha em clínicas em Salvaterra de Magos, Samora Correia e Benavente.
A nutricionista sublinha que existem estudos que indicam que o picante tem um efeito inflamatório e anti-oxidante e pode ajudar, por exemplo, pessoas que estejam constipadas uma vez que auxilia a descongestionar as vias respiratórias. Outro dos mitos que Mariana Gameiro deita por terra é o de o picante ser afrodisíaco. “O picante pode tornar-se afrodisíaco juntamente com outros factores, num ambiente propício. O picante aumenta a temperatura corporal mas sozinho não consegue o efeito afrodisíaco que se pretende”, reforça acrescentando que também pode ajudar ao nível da pele porque contribui para a abertura dos poros.
Mariana Gameiro alerta, no entanto, que cada organismo é único e a comida picante não é recomendada a toda a gente. Quem tem refluxo gastrico-esofágico pode dar-se mal porque pode haver irritação das mucosas. Nesses casos é fundamental eliminar o picante da alimentação. A comida picante também é cultural. Os mexicanos ou indianos são povos culturalmente habituados desde crianças a colocarem picante na comida, por isso aguentam mais que povos de outras latitudes, como o português, por exemplo. “O picante pode ter um efeito cardioprotector porque ao colocarmos picante na comida não vamos colocar sal, que é prejudicial quando em excesso”, sublinha.
O picante não é aconselhável em mães que estejam a amamentar porque pode influenciar o leite materno consumido pelo bebé. Segundo a nutricionista, também não é aconselhável dar picante às crianças até aos dois anos tendo em conta a sensibilidade da pele, o que pode levar a ligeiras queimaduras. “O aconselhável é ir acrescentando picante na comida aos poucos para as crianças se habituarem gradualmente”, conclui.

Usa picante em todos os pratos até na canja
André Santos não se lembra exactamente quando começou a consumir picante na comida, mas era ainda miúdo quando lhe apanhou o gosto e agora é rara a refeição que não coloque piri-piri, malaguetas, jindungo ou outro picante. O residente no Cartaxo, que trabalha em automatismos e portões automáticos, costuma almoçar fora e das primeiras coisas que pede no restaurante é o frasco do picante e admite que já usa o condimento há quase 30 anos. De tal forma que até na canja gosta de colocar um pouco de picante.
A sopa de legumes ou peixe grelhado também não escapam a umas gotas de picante. André Santos, 38 anos de idade, diz que quando era miúdo e comia frango assado tinha que por um pouco de picante, até porque não gostava de molhos como o de limão, por exemplo. Usa o condimento não por uma questão de achar que pode ter alguma influência no organismo, porque pode haver a ideia de que provoca algum efeito, mas por gosto.
O picante, diz, nunca lhe fez bem nem mal, mas sente-se bem com o paladar e não vai atrás de algumas coisas que se dizem acerca dos “benefícios do picante”. Não sabe se é afrodisíaco. Pai de três filhas, André Santos, o principal consumidor na família do picante, que nunca pode faltar na despensa, diz em brincadeira que elas não apareceram por obra do piri-piri.