Aeroporto em Santarém é oportunidade única para o país
Carlos Brazão veio a Santarém apresentar publicamente o projecto Magellan 500 Airport, a convite da delegação distrital de Santarém da Ordem dos Engenheiros. O rosto do projecto parece ter convencido a plateia quanto às vantagens da localização apontada, que considera a melhor para responder às necessidades aeroportuárias do país.
Carlos Brazão tem um sonho: construir um aeroporto internacional em Santarém. E na noite de sexta-feira, 27 de Janeiro, veio apresentá-lo pela primeira vez publicamente à cidade, perante um repleto auditório da Escola Superior de Gestão e Tecnologia de Santarém. Lisboeta de gema, este engenheiro que tem sido o rosto do projecto Magellan 500 Airport tem ligações a Santarém há muitos anos, através da esposa que tem família na aldeia da Póvoa da Isenta. Por Santarém passou muitos fins-de-semana, que incluíam o ritual de comer um pampilho nas manhãs de sábado numa das pastelarias da cidade.
No entanto não são os laços familiares e afectivos, nem a doçaria típica, que o levam a defender com unhas e dentes o projecto para dotar o país de um novo aeroporto que permita desafogar o de Lisboa: é a excelente localização, que, na sua óptica, bate aos pontos qualquer outra das opções em estudo, nomeadamente Montijo e Campo de Tiro da Força Aérea, no concelho de Benavente, também conhecida por opção Alcochete. Uma localização procurada e encontrada fora da área de concessão da ANA – Aeroportos de Portugal e que, disse, parece ter sido criada para ali ter um aeroporto.
Para os mais interessados ou mais atentos, as vantagens do projecto Magellan 500 já são conhecidas, mas Carlos Brazão não se cansa de as repetir. E fê-lo na sessão organizada pela delegação distrital de Santarém da Ordem dos Engenheiros. A localização é fulcral, junto à auto-estrada A1 e linha ferroviária do Norte, com diversas outras auto-estradas nas proximidades (A23, A15, A13), o que tornaria o aeroporto mais próximo para dois milhões de pessoas de seis distritos e oito comunidades intermunicipais da zona centro do país. Mais de três milhões de pessoas ficariam até uma hora de distância dessa infraestrutura, que de comboio ficaria a cerca de 30 minutos de Lisboa.
Igualmente relevante no projecto, segundo o promotor, é o facto de não ser necessária a criação de acessibilidades para além de uma curta ligação directa à A1 e de um ramal ferroviário de acesso à Linha do Norte com 1,5km, que estão incorporados no projecto e não representariam despesa pública para o país. A sua implementação por fases é mais rápida que a das outras opções e permitiria a sua entrada em funcionamento ainda esta década, caso a decisão seja célere. E o facto de poder ir crescendo de uma para três pistas e de 10 milhões até 100 milhões de passageiros por ano permitiria a sua co-existência com o aeroporto de Lisboa.
Carlos Brazão refere que o projecto, que tem o grupo Barraqueiro como um dos parceiros, foi trabalhado durante os últimos três anos. Diz que as questões do ambiente e da sustentabilidade estiveram no topo das preocupações e que a localização é excelente em termos geográficos e climáticos. “Reúne as melhores condições para responder mais rapidamente às necessidades aeroportuárias do país”, garante.
Santarém e Portela+Santarém eram duas das cinco opções inicialmente em estudo pela comissão técnica independente criada pelo Governo. Na passada semana foi anunciado que também Alverca e Beja estão no rol. E se o aeroporto em Santarém não for escolhido? Questionado pela plateia, Carlos Brazão disse que a questão teria de ser avaliada entre os parceiros e investidores envolvidos no consórcio, mas diz que o projecto tem potencial “para mesmo assim ir em frente”. E remata: “Se formos escolhidos fica tudo mais fácil”.
Uma noite esclarecedora e sem polémicas estéreis
A noite temática organizada pela delegação distrital de Santarém da Ordem dos Engenheiros, presidida por João Carvalho, demonstrou que Carlos Brazão não está sozinho no objectivo de pôr Santarém no mapa aeroportuário nacional e internacional. Um auditório repleto de autarcas de diversos concelhos, dirigentes associativos, técnicos e interessados na matéria assistiu a uma sessão esclarecedora quanto baste e sem polémicas estéreis. “O nosso objectivo é promover o debate”, disse no final da sessão o responsável pela Delegação Sul da Ordem dos Engenheiros, Luís Machado, que esteve também em representação do bastonário da Ordem dos Engenheiros. Assim fossem todos os debates sobre questões que interessam a Santarém, à região e ao país.
Políticos, pilotos e técnicos dizem que está na hora de tomar decisões
Políticos, pilotos e técnicos dizem que está na hora de o Governo tomar uma decisão e definir, de uma vez por todas, onde se vai construir o novo aeroporto.
Políticos, pilotos, urbanistas e engenheiros, dirigentes associativos e sociedade civil estão todos de acordo: está na hora de tomar decisões e definir, mais de meio século depois, onde se vai construir o novo aeroporto. E os autarcas presentes foram particularmente enfáticos nesse capítulo. “Um país como Portugal não pode estar 50 anos para tomar uma decisão tão importante. Isso não pode acontecer num país que depende tanto do turismo”, disse o presidente da Câmara de Santarém, Ricardo Gonçalves.
No mesmo sentido pronunciou-se o presidente da Comunidade Intermunicipal da Lezíria do Tejo (CIMLT), território onde se localizam duas das três possíveis localizações. Santarém e Benavente. Pedro Ribeiro diz que a posição da CIMLT é favorável à construção do novo aeroporto na Lezíria, sem apontar preferências. “É tempo de tomar decisões e é claramente impossível agradar a toda a gente. É tempo de os políticos tornarem decisões”.
O deputado Hugo Costa reforçou, dizendo que “não faz qualquer sentido” ainda se andar a discutir uma questão que tem mais de meio século e que não foi resolvida por mera decisão política. “Obviamente que o novo aeroporto já devia estar construído”, vincou.
Antes, o piloto João Abreu, confessando que não acredita noutra solução que não seja Portela+1, defendeu que devem ser os técnicos a apontar qual a melhor opção “e não o dono do terreno A ou do terreno B”. O seu colega piloto António Escarduça, numa pequena intervenção salpicada de humor, também não esteve com meias tintas: “Façam-no em Santarém ou noutro lado, para deixarmos de andar a falar nele!”.