Sociedade | 06-02-2023

Cães terapeutas ajudam crianças com necessidades especiais em Aveiras de Cima

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Cães terapeutas ajudam crianças com necessidades especiais em Aveiras de Cima

A SmileDog tem uma equipa de cães terapeutas que vai ao Agrupamento de Escolas de Vale Aveiras ajudar crianças com autismo e outras síndromes a superar as suas limitações.

“Qual é a carta amarela?”, começa por perguntar a terapeuta da SmileDog, Sofia Pereira, à pequena Kate, diagnosticada com síndrome de Angelman, um distúrbio neurológico caracterizado pela ausência de fala, atraso intelectual, movimentos desconexos e convulsões. Entre as constantes gargalhadas - outro sintoma da doença - a menina de cinco anos toca na carta que é colocada pela terapeuta no colete com velcro que o labrador Spike leva vestido. A resposta certa é comemorada com entusiasmo.
Estamos na quarta sessão da terapia assistida com animais, que chegou este ano ao Agrupamento de Escolas de Vale Aveiras, concelho de Azambuja, para ajudar crianças do pré-escolar e primeiro ciclo com necessidades educativas especiais na recuperação emocional, social e cognitiva. Nestas sessões o cão terapeuta é o principal actor do tratamento e motivo de alegria da dezena de crianças em terapia individual. Cada sessão é diferente e adaptada às necessidades e capacidades de cada um, começa por explicar a terapeuta com pós-graduação em intervenções assistidas com animais. “Trabalhamos com crianças com mutismo selectivo, autismo, trissomia 21, angelman e com défice cognitivo”, e cada uma “tem o seu tempo”.
Além disso a disposição também conta: há dias em que estão mais concentradas e o salto evolutivo é maior, outros em que o simples acto de correr pela sala com o Spike ou pegar num objecto já é uma vitória como no caso de Dinis, diagnosticado com autismo. “Hoje, pela primeira vez, agarrou numa esponja”, atira Sandra Santos, docente de Educação Especial no agrupamento, explicando que o menino de quatro anos não fala, não reage e tem a motricidade fina e grossa muito pouco desenvolvidas.
Na sessão anterior, recorda a terapeuta enquanto Dinis corre pela sala numa disputa com Spike, “não tinha feito nada”. Como se explica a evolução? Em parte pelo facto de os cães, apesar de compreenderem o que se passa em seu redor, “não julgarem” comportamentos nem atitudes. “Inevitavelmente, nós humanos julgamos muitas vezes, mais que não seja com o olhar” e isso pode inibir a criança. O animal, pelo contrário, “funciona como um desbloqueador” e melhora a auto-estima.
Miguel é quem fica mais ansioso com a ida do cão terapeuta à escola. Entra na sala com um sorriso contagiante e numa corrida alcança Spike. Tem três anos e apesar de ainda não ter um diagnóstico conclusivo para explicar a ausência de fala e falta de concentração, Sandra Santos não duvida que os dias das sessões semanais fazem a diferença: “É um menino diferente”, chegou sem dizer uma palavra e na primeira terapia disse quatro, entre elas ‘anda cão’. Mas o momento preferido é quando leva Spike a passear pela escola e entrega a trela aos manos Santiago e Martim, de cinco e três anos, diagnosticados com mutismo selectivo, uma desordem psicológica que os inibe de falar em situações sociais específicas, nomeadamente na escola. “Temos dado alta a crianças com mutismo porque começam a falar e já não precisam do cão. Estes casos são o nosso maior sucesso”, afirma Nuno Santos, fundador da SmileDog, que nasceu há três anos em Santarém.

Um projecto que ganha asas
Informático de profissão e dono da Syrah e da Naia decidiu fazer uma pós-graduação em Interacção Assistida com Animais no Instituto Superior de Educação e Ciências, em Lisboa. O projecto-piloto arrancou, com o apoio da Câmara de Santarém, no Agrupamento de Escolas Dom Afonso Henriques onde continuam a fazer terapia com cerca de 20 crianças. “Temos uma série de pedidos de outras escolas, que nalguns casos estão dependentes do apoio das câmaras municipais”, afirma.
No caso de Aveiras de Cima, completa a directora, Lourença Simões, foi o agrupamento que se chegou à frente e que está a suportar os custos. “Achámos que era uma mais-valia para os alunos com necessidades educativas especiais e está a ser óptimo. Não estava à espera que evoluíssem desta forma”, diz, elogiando depois a abertura dos encarregados de educação quando foram chamados à escola para decidir se concordavam e autorizavam a terapia assistida. Em marcha até ao final deste ano lectivo, a expectativa da direcção é que consigam verba para lhe dar continuidade no seguinte.

Falta reconhecimento como terapia

Para Nuno Santos são inquestionáveis os benefícios da interacção assistida com animais em crianças com necessidades educativas especiais e adultos. Mas a actividade, defende, precisa ser reconhecida como terapia para que possa ser mais divulgada e consiga chegar a um maior número de pessoas. “Comparativamente com outros países da Europa estamos muito atrás no que toca às terapias com animais”. O que também não é fácil, acrescenta, é encontrar terapeutas com animais certificados e por esse motivo a SmileDog está a dar passos para que possa no futuro tratar das certificações.

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