Sociedade | 07-02-2023 12:00

Grávida queixa-se de violência obstétrica no Hospital de Vila Franca de Xira

Beatriz Cerca diz ter sido vítima de violência obstétrica no Hospital de Vila Franca de Xira
Beatriz Cerca diz ter sido vítima de violência obstétrica no Hospital de Vila Franca de Xira

Beatriz Cerca, de 20 anos, diz ter vivido uma experiência horrível no Hospital de Vila Franca de Xira (HVFX) e acusa a médica que a viu de agressividade. A mãe de Beatriz reclama por não ter sido autorizada a acompanhar a filha. O conselho de administração do HVFX ordenou a abertura de um inquérito.

Grávida pela primeira vez aos 20 anos Beatriz Cerca diz ter sido vítima de violência obstétrica no Hospital de Vila Franca de Xira e o conselho de administração do hospital já mandou abrir um inquériro. A jovem que reside com os pais em Vale da Pedra, concelho do Cartaxo, dirigiu-se às urgências no dia 15 de Janeiro, por indicação da linha Saúde24. Com a tensão alta e grávida de 37 semanas foi levada pela mãe para o hospital, onde deu entrada nas urgências. Foi reencaminhada para o piso 3, onde fez a triagem com a enfermeira e aguardou para fazer análises.
Entretanto a mãe, Júlia Petinga, chegou ao piso 3 e perguntou pela filha ao enfermeiro que encontrou. “Estava um senhor sentado de pernas abertas e braços cruzados. Sorri e perguntei se podia entrar. Ele foi muito agressivo e disse que não. Perguntei porquê e mandou-me para a rua. Questionei porque é que a todos os hospitais que vou me deixam acompanhar sempre a minha filha e ali não. Se as leis variam conforme o sítio. Ameaçou chamar a polícia e vim embora”, conta a mãe de Beatriz.
Durante a discussão entre o enfermeiro e a mãe Beatriz foi ligada ao cardiotocógrafo (CTG) para medir os batimentos cardíacos da bebé. “O enfermeiro disse-me, enquanto estava ligada ao aparelho, que a minha mãe se estava a portal muito mal. Em que situação é que um enfermeiro tem este tipo de conversa com uma grávida. Parece provocação. Expliquei que eu era vítima de violência doméstica e a minha mãe é a minha acompanhante na gravidez. Ele respondeu que não era problema dele. Ameaçou inclusive não deixar a minha mãe estar comigo na altura do parto”, relata a jovem.
Após este episódio Beatriz conta que ficou bastante ansiosa e com a tensão novamente alta. Foi quando a enfermeira lhe perguntou o que se passava e a acalmou. Fez análises ao sangue e foi para a sala de espera, conforme indicações da enfermeira. Já era noite quando foi chamada para a consulta com a médica que a mandou regressar novamente ao hospital na sexta-feira seguinte para repetir exames e ter consulta com o obstetra. Assim fez Beatriz Cerca e na sexta-feira, 20 de Janeiro, deu entrada nas urgências do HVFX, conforme indicado pela médica apesar de ter consulta marcada.
“Quando fui para o piso 3 expliquei que estava ali para consulta a pedido da médica, mas qual não foi o meu espanto quando dizem que ela não estava ao serviço. Mandaram-me esperar e assim fiz”, explica. Repetiu as análises ao sangue e foi ligada ao CTG. Por volta das 17h30 foi perguntar pela consulta e disseram-lhe que não tinha nenhum obstetra associado. “Estava a passar no corredor quando ouvi o meu nome e fiquei parva quando vi a médica que supostamente não estava ao serviço. Ela e outra médica, que estavam no gabinete, mandaram-me entrar, despir e deitar na marquesa”, conta.

Uma experiência invasiva e dolorosa
A partir daí Beatriz recorda o resto da consulta como uma experiência invasiva. “Pensei que a médica ia ver o colo do útero. Deitei-me e ela sem dizer nada enfia-me o espéculo na vagina agressivamente. Ao tirar passou-se o mesmo. Já fui várias vezes ao ginecologista e nunca me doeu. Sem explicar nada a médica mete-me a mão quase toda na vagina com uma luva. Contorci-me de dores. Se não tinha indícios de trabalho de parto nem contracções para que fez isto?”, questiona a jovem.
O maior susto que Beatriz apanhou foi quando a médica, após a ecografia, disse que não ouvia a bebé. “A menina não se mexe. E começa a dar pancadas na barriga com o ecógrafo na mão. Respondi que estava no hospital desde as 13h15 e que não tinha comido uma refeição como deve ser e que possivelmente a menina estava sossegada por isso”.
Preocupada e ansiosa, Beatriz Cerca foi comer e regressou para o CTG verificando-se que estava tudo bem com a bebé. Chegou a ir à casa-de-banho verificar se tinha perdas de sangue na sequência do procedimento da médica. Quando lhe marcaram consulta com o obstetra para outro dia foi peremptória e disse que não. “Decidi que não quero ter a bebé naquele hospital. Sou também seguida no Hospital de Santa Maria e lá não se passa nada disto. Fiz três reclamações antes de me ir embora. Foi uma experiência horrível”, lamenta. Beatriz sentiu que as médicas agiram “como se o seu corpo fosse delas” e desrespeitada. A decisão está tomada e a filha vai nascer noutro hospital.

Hospital abre inquérito interno
Contactado por O MIRANTE, o Hospital de Vila Franca de Xira garante que, após a reclamação da utente, o conselho de administração ordenou a abertura de um inquérito. “Quanto a uma hipotética violência obstétrica informamos que assim que a utente apresentou reclamação decidiu o conselho de administração pela abertura de um inquérito interno, findo o qual procederá em conformidade e dará conhecimento das conclusões à autora da reclamação”, diz.
Quanto ao facto da mãe não poder acompanhar a filha o HVFX esclarece que “esse é um direito reconhecido e garantido a todos os utentes daquela unidade hospitalar e no âmbito das orientações do Serviço Nacional de Saúde, salvo em situações de excepção previstas na Lei. Nos casos em que se verificam situações de excepção, situações que derivam de orientação clínica e/ou de salvaguarda dos interesses dos utentes e profissionais, compete aos profissionais de saúde responsáveis pela prestação dos cuidados de saúde informar e explicar ao acompanhante os motivos que impedem a continuidade do acompanhamento”.

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