Presidente da Câmara de Constância desvaloriza crimes ambientais no concelho
Sérgio Oliveira recusou responder às questões de O MIRANTE sobre o crime ambiental que afecta várias famílias em Santa Margarida da Coutada.
Uma delas prende-se com o facto do alegado autor do crime ser o seu sogro. Vítimas continuam a viver um pesadelo e sem respostas da autarquia ou das entidades responsáveis.
O presidente da Câmara Municipal de Constância, Sérgio Oliveira (PS), desvalorizou as várias reportagens que O MIRANTE já realizou sobre o crime ambiental que afecta várias famílias que residem em Santa Margarida da Coutada. Sabendo, através das famílias lesadas, que o alegado autor do crime ambiental é sogro do presidente do município, O MIRANTE pediu esclarecimentos por escrito a Sérgio Oliveira, mas o autarca recusou responder, afirmando que não tem mais esclarecimentos a dar. O mesmo aconteceu com outras perguntas sobre o assunto, nomeadamente que diligências tem a autarquia tomado para ajudar as famílias; quantas vezes o executivo já reuniu com entidades responsáveis para arranjar soluções; com que frequência o município manda realizar análises à água dos poços contaminados e como classifica a postura do município, que tem sido muito criticado pela passividade.
Na sequência da falta de resposta de Sérgio Oliveira, O MIRANTE voltou a conversar com João Dias para continuar a dar voz às vítimas dos crimes ambientais sem castigo. João Dias, que viu o seu projecto de agricultura biológica destruído pela utilização de um perigoso herbicida por parte de um vizinho, que contaminou os solos e os poços de várias casas de família, lamenta que tudo se mantenha na mesma desde a visita do nosso jornal em Junho de 2022. “É como se não existíssemos. Até hoje nenhum autarca ou funcionário da autarquia entrou dentro da minha casa para ver com os seus próprios olhos a nossa desgraça”, afirma. Recorde-se que Sérgio Oliveira reside a poucas centenas de metros das famílias afectadas.
Em jeito de desabafo João Dias confessa estar cada vez mais desorientado, confuso e sem saber o que fazer. “Imagine o que é não poder utilizar a água da sua propriedade durante vários anos e ter uma produção hortícola de mais de dois hectares completamente arrasada. Estou muito desorientado”, sublinha.
Como tudo começou
Dois meses antes da primeira conversa com João Dias, O MIRANTE foi a casa de Fernando Gaspar e Cátia Bento, que vivem num pesadelo que começou dois anos depois de comprarem uma casa num terreno com cerca de dois mil m2. Contactado por O MIRANTE, Fernando Gaspar revela que a situação se mantém inalterável. “Ninguém quer saber, ninguém se quer mexer, ninguém quer tomar uma atitude”, lamenta. Nos primeiros anos correu tudo como tinham sonhado, mas a utilização do Bromacil por parte do vizinho para matar marmeleiros bravos que ali se encontravam, estragou-lhes os planos. O casal tem um filho de 12 anos que sofre de uma doença crónica que afecta os rins, fígado e pâncreas, e a ideia inicial era investir numa propriedade com terreno suficiente para cultivarem os seus próprios alimentos. “Nunca mais o conseguimos fazer”, salienta. Com o passar do tempo e com as águas da chuva, grande parte da terra ficou negra, as árvores morreram e a água do poço, que fica a cerca de 10 metros da propriedade do vizinho, ficou contaminada. Fernando Gaspar confrontou o vizinho que admitiu o erro, e colocaram um processo em tribunal, onde o indivíduo assumiu responsabilidades, mas nada foi feito. O MIRANTE sabe que o suspeito costuma estar fora do país durante algumas temporadas, mas nos últimos meses tem sido visto a passear na aldeia do concelho de Constância.
Vítimas têm de pagar para analisar água
João Dias e Fernando Gaspar continuam a afirmar que “as entidades responsáveis não querem saber do drama”. Há vários anos que contactam a Câmara de Constância, que sempre disse não ser assunto da sua competência. Outros contactos foram realizados mas nenhum surtiu efeito, nomeadamente com a APA (Agência Portuguesa do Ambiente), a CIAV (Centro de Informação Antivenenos), a ARH (Administração de Região Hidrográfica), a DGAV (Direcção-Geral de Alimentação e Veterinária) e o SEPNA (Serviço de Protecção da Natureza e do Ambiente) da GNR. Muitas afirmam que a situação se enquadrada num crime ambiental, mas rejeitam ter competência na matéria. João Dias e Fernando Gaspar voltam a lembrar que nem análises à água as entidades se disponibilizam a fazer. “A última análise à agua que fiz tive que pagar 750 euros do meu bolso”, revela João Dias.
À Margem/Opinião
Um país de terceiro mundo
O desespero das famílias que sofrem com o crime ambiental em Santa Margarida da Coutada parece ser indiferente para o presidente da Câmara de Constância. Nunca as visitou e vive a centenas de metros das suas casas. O facto de ter sido, alegadamente, o seu sogro o responsável pela utilização de um herbicida proibido torna ainda mais absurdo que Sérgio Oliveira se mantenha no seu trono e não demonstre qualquer tipo de solidariedade para com as pessoas que vivem no concelho que preside. Igual à atitude lamentável do presidente de câmara, só o facto das autoridades competentes continuarem sem intervir e sem castigar quem é responsável por um crime que destruiu o sonho de muitas famílias.
Bernardo Emídio.