Sociedade | 15-02-2023 12:00

Aldeias do interior vão tornar-se braseiros e desertos

Aldeias do interior vão tornar-se braseiros e desertos
Guilherme Duarte, de 87 anos, lamenta que Vale Cabeiro, local do concelho de Tomar onde vive, esteja ao abandono. fotoDR

Guilherme Duarte é, aos 87 anos, uma voz activa e inconformada que procura alertar para o facto de Vale Cabeiro, no concelho de Tomar, estar ao abandono.

Gostava que o poder local e as entidades governamentais se interessassem mais pelas zonas isoladas e utilizassem os seus recursos para lhes voltar a dar vida.

Guilherme Duarte, 87 anos, nasceu em Olalhas, no concelho de Tomar, mas foi no lugar vizinho de Vale Cabeiro que comprou casa passando a dividir o seu tempo entre Lisboa, onde construiu família e um negócio, e a União de Freguesias de Serra e Junceira, onde vinha quase todos os fins-de-semana. Nos últimos quatro anos passou a fazer de Vale Cabeiro a sua primeira casa e todos os dias lamenta o estado a que chegou a localidade. “As terras estão abandonadas; em muitos casos nem os proprietários de imóveis sabem que existem”, afirma a O MIRANTE.
Guilherme Duarte, que dedicou uma vida à construção civil e chegou a empregar 15 pessoas na sua empresa, considera-se um activista e alguém que não abandona uma ideia se for para melhorar algo que está mal. Por isso, deu voz a um vídeo que circula na internet, da autoria do seu filho Luís Pombo, onde mostra a sua indignação e procura fazer pedagogia para que “os proprietários esquecidos e as entidades competentes” tomem uma atitude para que a localidade e os seus recursos não desapareçam. “Se tudo continuar como está, com o mato que existe por limpar, esta e outras zonas do país vão tornar-se autênticos braseiros e desertos”, afirma. No vídeo, Guilherme Duarte também mostra como o funcionamento durante décadas da central a carvão do Pego destruiu uma grande parte da actividade agrícola da zona. “É verdade que já fecharam, mas para mim já vêm muito tarde. Pena é que nunca nos indemnizassem pelos prejuízos que nos causaram durante vários anos”, sublinha.
A publicação do vídeo serviu para O MIRANTE contactar Guilherme Duarte e ser mais um veículo de informação para o exterior. “As casas estão ao abandono, as aldeias estão ao abandono…e tudo pode ser utilizado, assim queiram criar condições para fixar pessoas e cativar outras a investirem nestas localidades do interior do país”, salienta. Guilherme Duarte recorda que viveu em Lisboa durante décadas e que a pacatez daquele lugar no concelho de Tomar sempre funcionou como uma terapia. Nasceu no meio da agricultura e é o oitavo filho. Em criança ia para a escola a pé, numa distância de oito quilómetros (ida e volta). Na adolescência foi para Lisboa à procura de novas oportunidades. Foi aprendiz de canalizador, carpinteiro e, aos 19 anos, lançou-se numa aventura por conta própria na área da construção civil, onde chegou a ter 15 funcionários. “Não crescemos mais porque nunca quis ser rico. Dá muitas dores de cabeça”, partilha, com um sorriso.
Casou-se em 1958 e nesse mesmo ano comprou a casa em Vale Cabeiro. Foi alargando horizontes, comprando terrenos, vendendo outros, e ao fim de cinco décadas tinha 10 hectares de terreno, o que para aquela zona já pode ser considerado um latifúndio. Todos os seus vizinhos já morreram e é com alguma mágoa e desgosto que Guilherme Duarte acompanha de perto o definhar de uma localidade, onde já fez parte da junta e assembleia de freguesia e de várias associações culturais e recreativas. Ainda assim, passa o tempo a cuidar do seu pomar com frutas de todas as espécies. Há alguns anos decidiu ocupar o resto dos terrenos com pinheiros para não dar trabalho aos seus dois filhos e cinco netos. “Estão todos no estrangeiro. Infelizmente tiveram de ir para lá à procura de oportunidades”, conta. Guilherme Duarte gostava de se fazer ouvir para que quem tem responsabilidades e poder de decisão faça alguma coisa para salvar a riqueza do interior do país.

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